ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 22/05/2021 08:35
ESPECIAL/ REDAÇÃO
O dia 6 de junho marca os 150 anos do nascimento de Tsunesaburo Makiguchi, primeiro presidente da Soka Gakkai, que dedicou a vida à educação e à proteção do Budismo de Nichiren Daishonin pelo bem da humanidade
Reprodução/Foto-RN176 Pintura retrata o lançamento do livro Soka Kyoikugaku Taikei [Sistema Pedagógico de Criação de Valor], com o apoio do discípulo Josei Toda (à esq.), em 18 de novembro de 1930. Da direita para esquerda o quadro: Tsunessaburo Makiguti Educador Pedagogista e Criador da Teoria Pedagógica em “Teoria da Criação de Valor”, Mestre e o Pioneiro e Fundador da Soka Gakkai e o seu discipulo Josei Toda Mestre o Educador e Pacifista e o Segundo Presidente da Soka Gakkai – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Qual o propósito da vida do presidente Makiguchi? O que ele buscou realizar?
Ele se dedicou a ajudar as pessoas a atingir a iluminação, torná-las sábias, e se empenhou em ajudá-las a cultivar a própria sabedoria para que pudessem utilizá-la para ser felizes.
A princípio, ele defendeu uma reforma educacional com essa finalidade, mas logo percebeu que para esse intuito seria imprescindível uma revolução religiosa. Então, devotou-se incansavelmente a essa causa e, no fim, deu a vida por ela.1
Com essas palavras, o presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, descreve o grande educador Tsunesaburo Makiguchi que, com base no Budismo de Nichiren Daishonin, devotou-se à felicidade de cada pessoa.
Juventude de desafios
Tsunesaburo Makiguchi nasceu em 6 de junho de 1871, na aldeia de Arahama, na atual prefeitura de Niigata, um pequeno porto na costa oeste do Japão. Posteriormente, viveu grande parte de sua juventude em Otaru, Hokkaido, que estava passando por rápida transformação numa cidade modelo no processo de modernização e industrialização do país. Enquanto trabalhava como ajudante no escritório da polícia local, Makiguchi lia e estudava muito, e conseguiu entrar na Escola Normal de Hokkaido, um centro de treinamento de professores na cidade de Sapporo.
Pode ser que essas primeiras experiências de vida em uma pequena comunidade portuária e, depois, em uma cidade em rápido processo de desenvolvimento o tenham levado a desenvolver profundo interesse pela geografia como campo de estudo. Além disso, por ter vivido sérias dificuldades financeiras ao lado da família, experimentou a grande lacuna de oportunidades entre a elite e o povo em geral. Essas experiências exerceram nele forte influência quando estabeleceu sua carreira como educador.
Depois de se qualificar como professor de escola primária, Makiguchi ensinou por alguns anos em Sapporo, e foi membro ativo das associações de professores locais. Depois, em 1900, ele deixou Hokkaido, foi para Tóquio e, em 1903, aos 32 anos, publicou sua primeira grande obra, Jinsei Chirigaku [Geografia da Vida Humana].
Até ser nomeado diretor de uma escola primária de Tóquio em 1913, o jovem educador sustentou a si mesmo e à sua família por meio da escrita e de uma variedade de empregos na área de ensino. Ele editava periódicos educacionais e estabeleceu um empreendimento promovendo cursos por correspondência para mulheres jovens, que não tinham oportunidades de aprendizado formal. Também ensinou em uma escola para estudantes estrangeiros em Tóquio e desenvolveu livros didáticos para o Ministério da Educação.
Teoria educacional
Makiguchi se envolveu em intercâmbios com uma série de pesquisadores proeminentes dedicados ao desenvolvimento do estudo sistemático das comunidades locais e práticas culturais.
Foi como diretor de escolas primárias entre 1913 e 1932, incluindo algumas nas áreas mais pobres de Tóquio, que Makiguchi refinou suas teorias educacionais de forma prática. Como educador, dedicou-se à felicidade das crianças e trabalhou assiduamente para garantir que aquelas economicamente desfavorecidas tivessem oportunidades iguais. Sua abordagem repetidamente o levou a entrar em conflito com políticos locais e interesses particulares, e com frequência foi alvo de tentativas de destituição. No entanto, as escolas das quais ele foi diretor ficaram conhecidas pela alta qualidade da experiência educacional que ofereciam.
Tsunesaburo Makiguchi baseava sua filosofia educacional naquilo que definiu como “teoria da ‘criação de valor’”. O propósito da vida era a felicidade, que ele definia como o “estado em que a pessoa pode plenamente criar valor”.
Filosofia de vida
Por volta de 1920, conheceu Josei Toda, também professor, com quem dividiu suas convicções e lutas, tornando-se inseparáveis como mestre e discípulo. Mais tarde, em 1928, um fato mudou irrevogavelmente a vida de ambos: eles foram apresentados ao Budismo de Nichiren Daishonin pelo diretor da Escola Comercial Mejiro. Ao se aprofundarem no estudo e na pesquisa do budismo, encontraram nele a expressão última da filosofia humanística de valor por eles defendida.
Reprodução/Foto-RN176 Makiguchi palestrando sobre as suas teorias educacionais
Após a sua conversão ao budismo, Makiguchi foi ainda mais perseguido. Mesmo assim, convicto de suas ideias, fundou, em 18 de novembro de 1930, junto com Josei Toda, a Soka Kyoiku Gakkai, literalmente Sociedade Educacional de Criação de Valor, predecessora da atual Soka Gakkai (Sociedade de Criação de Valor). Nessa mesma data, publicou a obra Soka Kyoikugaku Taikei [Sistema Pedagógico de Criação de Valor]. Tsunesaburo Makiguchi tornou-se presidente da organização, e Josei Toda, diretor-geral e, mais tarde, seu segundo presidente.
Crítico sempre franco dos professores e da burocracia educacional do Ministério da Educação japonês, de cuja política discordava frequente e publicamente, não era de surpreender que Makiguchi encontrasse tão poucos aliados e muitos inimigos poderosos.
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e com a entrada do Japão nesse conflito, os cidadãos foram obrigados a abraçar o xintoísmo que doutrinava o povo a devotar a vida ao imperador. Makiguchi e Toda, como principais líderes da Soka Kyoiku Gakkai, começaram a sofrer crescente pressão do Estado xintoísta e, em 6 de julho de 1943, foram presos por sustentarem posições defendendo o antimilitarismo e, sobretudo, a liberdade religiosa.
Legado eterno
Em 18 de novembro de 1944, após dezessete meses de confinamento, Makiguchi faleceu aos 73 anos devido à desnutrição e aos maus-tratos na prisão. Seus ideais para a educação, a cultura e a paz foram legados a Josei Toda que, libertado em 3 de julho de 1945, assumiu a tarefa de reconstrução da organização em meio aos escombros da guerra.
Com a dedicação de Josei Toda, que mais tarde mudou o nome da organização para Soka Gakkai, junto com Daisaku Ikeda, que se tornou seu discípulo em 1947 e abraçou seus ideais e de Makiguchi, a organização cresceu e as ideias do primeiro presidente vêm sendo difundidas de geração a geração em 192 países e territórios, agora pela Soka Gakkai Internacional (SGI), sob a liderança de Ikeda sensei.
As ideias educacionais de Makiguchi se materializaram por meio da luta de Josei Toda e também de Daisaku Ikeda, o qual estabeleceu uma rede de escolas Soka desde a educação infantil até a pós-graduação universitária no Japão e Estados Unidos, com acesso a jovens de todos os continentes. As teorias de Makiguchi sobre a educação de “criação de valor” inspiraram um crescente corpo de pesquisas, bem como projetos inovadores em todo o mundo.
Nota:
- Brasil Seikyo, ed. 2.397, 25 nov. 2017, p. B1.
Fontes:
Disponível em: www.tmakiguchi.org. Acesso em 17 maio 2021.
Terceira Civilização, ed. 435, nov. 2004, p.10 a 16.
Seriedade e integridade
Trechos do ensaio do presidente Ikeda intitulado Tsunesaburo Makiguchi, o Fundador da Soka Gakkai, da série “Reflexões sobre a Nova Revolução Humana”, traduzido da edição de 3 de junho de 1998 do Seikyo Shimbun
Por Ho Goku1
Seriedade, franqueza, rigorosidade e integridade. Estas são as palavras que me vêm à mente sempre que vejo uma fotografia de Tsunesaburo Makiguchi, pai do movimento Soka e primeiro presidente da Soka Gakkai. Eu sempre noto o brilho penetrante de seus olhos. Ele era um mestre rigoroso com seus discípulos, e ainda mais rigoroso consigo próprio. Sua forte e inabalável fé, que o levou a lutar contra a opressão das autoridades militares e a morrer por suas crenças, é uma prova inequívoca disso. (…)
Mesmo depois de aprisionado, Makiguchi sensei continuou a bradar seus ideais convictamente. Durante os interrogatórios, expôs com valentia diante dos promotores sua opinião sobre os ensinamentos religiosos corretos e os errôneos. Falou a seu carcereiro sobre a grandiosidade do Budismo de Nichiren Daishonin e o convenceu a abraçar a fé no Gohonzon. Ele jamais cedeu em suas convicções ou demonstrou o mínimo de medo.
Porém, a vida na prisão era dura e o confinamento cobrou como tributo a saúde do idoso mestre. A cada dia, debilitava-se ainda mais. Até o guarda de sua cela insistiu para que ele aceitasse ser transferido para o ambulatório, porém, ele recusou com firmeza. Somente concordou um dia antes de falecer. Ao ver sua condição extremamente debilitada, o guarda ofereceu-se para carregá-lo nas costas até o ambulatório, mas Makiguchi insistiu dizendo que estava bem e foi caminhando. No percurso, suas pernas dobraram de tão fracas e ele caiu ao chão. Porém, pôs-se de pé e, polidamente, mas com firmeza, recusou a mão que o guarda lhe estendia, terminando o percurso sem ajuda. Até o último momento enfrentou a perseguição pelo bem da Lei e mostrou a coragem de um leão.
A nora de Makiguchi, Sadako, esposa do seu filho Yozo, soube desses detalhes diretamente do guarda.
Apesar de toda a sua rigorosidade e rígida autodisciplina, Makiguchi sensei era extremamente afável e gentil. No início de sua carreira, em uma escola primária vinculada à universidade para professores de Hokkaido (atual Universidade de Ciências Pedagógicas de Hokkaido), nas manhãs em que nevava, saía para se encontrar com seus alunos no meio do caminho e os acompanhava até a escola. Carregava os menores nas costas e conduzia os maiores pela mão. Demonstrava especial consideração pelas crianças com alguma deficiência física ou que se encontravam doentes. Se algum dos alunos chegava com as mãos congeladas de frio, ele as mergulhava em uma vasilha com um pouco de água quente até que recobrassem a temperatura normal.
Quando era diretor da Escola Primária de Mikasa, em Tóquio, chegava a pagar de seu próprio bolso os lanches para os estudantes demasiadamente pobres. Conhecia perfeitamente a situação de cada aluno e tratava de ajudar a todos. Era um professor carinhoso e solícito. (…)
Ignorar a injustiça e não combatê-la traz infelicidade a todos. Uma sociedade como essa preocupa-me profundamente.
A vida de Makiguchi sensei fundamentou-se na crença de que não fazer o bem é o mesmo que fazer o mal. Ele viveu de forma digna e a serviço da humanidade.
Este mês [junho] marca o aniversário da conversão de Makiguchi ao Budismo de Nichiren Daishonin, e no dia 6 de junho comemora-se o aniversário de seu nascimento.
Tenhamos sempre em mente que o espírito da Soka Gakkai é transmitido e perpetuado por meio de nossos corajosos esforços como defensores da justiça e do humanismo. Vamos seguir o caminho traçado pelo fundador desta organização em sua luta contra os males do mundo. Vamos iluminar o coração dos nossos amigos e companheiros com o brilho de nossa personalidade.
Nota:
- Ho Goku: Pseudônimo de Daisaku Ikeda como autor do romance Nova Revolução Humana.
Fonte:
Brasil Seikyo, ed. 2.325, 28 maio 2016, p. A3.
No topo: pintura retrata o lançamento do livro Soka Kyoikugaku Taikei [Sistema Pedagógico de Criação de Valor], com o apoio do discípulo Josei Toda (à esq.), em 18 de novembro de 1930