Hiroshima – Solo da paz repleto de oração das mães

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  14/04/2022 19:30

ENCONTRO COM O MESTRE

Da série “Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”.

Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda e sua esposa, Kaneko, se dirigem para o local da realização do 14º Festival Cultural dos Jovens pela Paz onde os companheiros os aguardam (Hiroshima, out. 1995). Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editorial Brasil Seikyo – BSGI

 

Hiroshima, cidade em que a bomba atômica foi lançada pela primeira vez na história da humanidade. Ikeda sensei fala sobre a postura das pessoas de lá que não sucumbiram diante das dificuldades e ergueram a bandeira da paz e louva a cidade como a “terra da esperança” que irradia um brilho de coragem infinito. Aprendendo com o “espírito de Hiroshima”, o qual almeja a construção de um mundo de paz, vamos expandir amplamente a rede da amizade a partir do exato local em que nos encontramos agora.

 

  1. DAISAKU IKEDA

 

Aqui existem

grandiosas mães,

grandes amigos.

Aqui existe paz.

Na minha amada Hiroshima estão as grandiosas mães de amor benevolente. Há também meus amigos de fé inabalável. Portanto, lá existe uma esperança inesgotável pela paz.

Hiroshima é a terra que se reergueu do mais trágico e cruel sofrimento da guerra e vem avançando na vanguarda do mundo pelo sonho da construção da “Cidade da Paz”.

Meu venerado mestre, professor Josei Toda, anunciou como seu primeiro testamento dirigido aos jovens a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares.

Em 8 de setembro de 1957, diante de 50 mil jovens, ele bradou pela proibição e abolição das armas nucleares, dizendo que elas eram um “mal absoluto”:

Digo isto porque nós, seres humanos, possuímos o direito à vida. Quem ameaça este nosso direito não é senão um demônio, um satanás, um monstro!.

Dois meses depois dessa declaração, o lugar que meu mestre, embora muito debilitado fisicamente, quis visitar a qualquer custo foi Hiroshima. “Deixe-me ir, mesmo que eu morra” — essas palavras que ele me disse, ao impedi-lo desesperadamente desse propósito, nunca mais saíram do meu coração.

Para mim, Hiroshima se tornou uma localidade que sempre visitei com o sentimento de ir “no lugar” do meu mestre. Por isso mesmo, eu sempre disse rigorosamente a mim mesmo que jamais poderia ir a Hiroshima sem uma ardente paixão pela paz e um plano efetivo de ações concretas.
Viver e sobreviver com força

[Nota do Editor: Ikeda sensei lembra que visitou Hiroshima por diversas vezes, oferecendo orações em memória das vítimas da bomba atômica. Em seguida, destacou a maneira de viver dos amigos de Hiroshima, sempre visando à construção da paz.]

A tristeza de perder a amada família ou os queridos amigos em um instante devido à bomba atômica; a corajosa luta contra os efeitos e as lesões da bomba; a insegurança e a ansiedade sem fim pelos efeitos colaterais em si mesmo e nos filhos.

Quão pura e bela é a vida das mães de Hiroshima e quão vigorosa e forte é a existência dos amigos de Hiroshima, que enfrentam, cada qual, suas angústias e sofrimentos dilacerantes!

Existe uma mãe que determinou em seu coração não se deixar derrotar pela bomba atômica, a qual aniquilou tantas preciosas vidas; e criar e desenvolver novas vidas é sua luta em prol da paz.

Há um jovem que também foi exposto à bomba nuclear e se levantou com forte espírito de luta de que “viver, viver e viver, a qualquer custo”, eram, em si, o desafio para vencer a “arma da morte”.

E existe ainda uma mulher que fincou suas raízes em Hiroshima, a qual foi devastada uma vez, e estabeleceu para si que fazer desabrochar as flores da felicidade e da alegria com júbilo e harmonia é sua maneira de honrar a memória das pessoas que perderam a vida devido à bomba.

Dentro do coração de cada um resplandece o orgulho pela missão de terem sido escolhidos dentre a humanidade para lutar em Hiroshima.

Ikuo Hirayama, pintor natural da cidade de Onomichi, com quem me encontrei, também se ergueu decidido a contribuir para a criação da paz e da cultura, tendo como ponto primordial de sua vida o dia 6 de agosto, data em que ficou exposto à bomba na juventude. Ele tem ressaltado: “A verdadeira beleza é viver”; “Quando estamos empenhados a viver, a nos desenvolver, expressamos a beleza”.1

Reprodução/Foto-RN176 A solidariedade dos jovens resplandece no 14º Festival Cultural dos Jovens pela Paz, no Ginásio Poliesportivo da Província de Hiroshima (foto de Daisaku Ikeda, out. 1995)

Uma mulher que minha esposa e eu conhecemos foi exposta à bomba atômica em casa, a cerca de dois quilômetros do local da explosão, e perdeu sua querida irmã mais nova, seus amigos e muitos colegas. Ela também sofreu com problemas na glândula tireoide. Após o término da guerra, casou-se e se tornou mãe de quatro filhos, mas acabou perdendo o marido em um acidente de trânsito, viu-se com grandes dívidas e prosseguiu em sua árdua e difícil luta, apesar da má condição de saúde.

Certo dia, ela soube da Declara­ção pela Abolição das Armas Nucleares do presidente Josei Toda e ficou emocionada ao se dar conta de que “havia alguém que entendia a profunda dor do seu coração”. Então, fez um juramento: “Jamais perdoarei as armas nucleares que destroem a vida das pessoas!”.

Em junho de 1982, nós rea­lizamos a exposição Armas Nu­clea­res — Ameaças do Mundo Moderno na sede das Nações Unidas, em Nova York em um projeto em conjunto com o Escritório de Imprensa das Nações Unidas e as cidades de Hiroshima e de Nagasaki. A verdade e a situação real dos bombardeios atômicos nas duas cidades japonesas foram expostas pela primeira vez nas Nações Unidas.

A mulher também participou do evento como representante dos sobreviventes da bomba atômica.

Contudo, ao dizer No more Hiroshima [“Hiroshima nunca mais!”], os norte-americanos retrucavam: Remember Pearl Harbor [“Lembre-se de Pearl Harbor”]. Um ex-soldado chegou a dizer: “A guerra teve um fim graças ao lançamento da bomba”.

Imediatamente, a mulher contrapôs: “O senhor lançaria uma bomba sobre a cabeça de seus pais ou familiares?”. Ela prosseguiu: “Não tenho ódio dos Estados Unidos. O que eu odeio é a guerra! Vamos criar a paz, juntos!”. Quando ela disse isso, todas as pessoas choraram, inclusive o ex-soldado.

O brado corajoso do fundo da alma de uma mãe transforma até a tragédia da história em uma semente que entrelaça pessoas e edifica a paz.
Imbuídos do espírito desbravador!

[Nota do Editor: A Divisão dos Jovens de Hiroshima já promoveu mais de 180 vezes o “Curso de Estudo de Hiroshima” para aprender a respeito da paz com intelectuais japoneses e estrangeiros. Junto com os jovens de Nagasaki e de Okinawa, eles vêm realizando quase todos os anos a “Cúpula da Paz” (renomeada a partir de 2015 como “Cúpula dos Jovens Sem Guerra”). Ikeda sensei mostra esses esforços e elogia Hiroshima, que transmite o juramento pela ausência de guerras ao longo de gerações, como a eterna “Capital da Paz” da humanidade.]

Reprodução/Foto-RN176 Monumento da Paz de Hiroshima, Patrimônio Mundial da Unesco, que transmite para a posteridade o terror da devastação causada pelas armas nucleares (foto de Daisaku Ikeda, out. 1985)

No Parque do Cemitério Memorial da Paz de Chugoku, na cidade de Kita-Hiroshima, seis “estátuas de oração pela paz mundial” estão erigidas solenemente encerrando um profundo juramento. Uma delas, a “Estátua do Sucessor”, mostra uma mãe erguendo o filho. O escultor mundialmente famoso Louis Derbré, autor da obra, falou sobre o seu significado:

O fato de a criança estar sendo erguida significa que ela não é sua propriedade, mas que ela ‘deve ser enviada para o mundo em prol da paz no futuro’. E a criança também, como indivíduo, está com aspecto sério e firme. Porque ela está consciente de sua difícil missão como sucessora e está decidida.

 

A paz será perene somente se os jovens herdarem a “oração das mães” que prezam e amam a vida.

É muito esperançoso perceber que ondas jovens e impassíveis estão dando continuidade ao esforço conjunto dos pais e mães de Hiroshima em prol da paz.

Diz-se que o número de pes­soas que migrou de Hiroshima para o exterior foi o maior do Japão. O rico espírito empreendedor e pioneiro de Hiroshima brilha hoje também no desenvolvimento da paz e do humanismo pelo mundo.

Onde mais se sofreu é onde mais a felicidade florescerá.

Hiroshima é a eterna “Cidade da Paz” para a humanidade. É a “terra da esperança”, que irradia a luz da coragem infinita em solidariedade às localidades atingidas pelo grande terremoto do Leste do Japão e também a todos aqueles que se deparam com adversidades pelo mundo.
Com o seu levantar,

descortina-se

a paz no mundo.

Corra por este caminho,

visualizando o arco-íris

ao longe.

No topo: Presidente Ikeda e sua esposa, Kaneko, se dirigem para o local da realização do 14º Festival Cultural dos Jovens pela Paz onde os companheiros os aguardam (Hiroshima, out. 1995)

Publicado no jornal Seikyo Shimbun de 19 de agosto de 2021.

Nota:

  1. HIRAYAMA. Ikuo, Picture and Mind. Yomiuri Shimbunsha.