Hokkaido

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  20/03/2021 03 :05

ENCONTRO COM O MESTRE

“Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”

Reprodução/Foto-RN176 Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente é o Mestre e Terceiro Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Brasil Seikyo inicia, nesta edição, a publicação da série de ensaios do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, “Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”, na qual ele narra suas recordações das pessoas com quem criou laços de amizade nas localidades que visitou no Japão e em diversos países, abordando também aspectos da cultura e história locais. A série foi veiculada, a princípio, na revista mensal Pumpkin e em livro; depois também foi divulgada no jornal Seikyo Shimbun

O grande solo de pessoas que se enchem de orgulho com alegria

  1. DAISAKU IKEDA

Como é belo

este mundo

da jornada do coração.

O mundo é belo. Cada um possui sua beleza peculiar.

Não existe uma única cidade que seja igual a outra na face da Terra. Cada qual possui sua história e cultura únicas, bem como seu modo de viver e suas atividades encantadoras.

Dar as mãos com as pessoas da vizinhança da sua localidade; criar laços também com aquelas de cidades distantes, incentivando-se mutuamente, avançar. Acredito que podemos dizer que é na extensão dessas conexões humanas que está um dos verdadeiros aspectos da “paz” tão ansiada pela humanidade.

Um novo desbravar

[Nota do editor: Diante da praia de Atsuta, sua terra natal, o presidente Josei Toda disse ao jovem Daisaku Ikeda: “Leve a chama da paz para o Oriente e para o mundo, em meu lugar”. A “jornada do coração” que o presidente Ikeda dedica aos leitores, na qual ele percorre o Japão inteiro e o mundo, tendo no coração esse juramento feito ao seu mestre, inicia-se com Hokkaido, o local do ponto primordial de suas viagens pela paz.]

Os amigos de Hokkaido, com quem tenho aprofundado laços de amizade desde a minha juventude, são realmente alegres e companheiros que se ajudam uns aos outros, com jovialidade e disposição.

Quanto mais árdua a situação, a conversa entre eles se assemelha a:

“O trabalho de remoção da neve não é fácil, não é?”

“Não! (Nanmo, nanmo! [Não, imagine!]) Acho que não deve estar sendo fácil para você!”

Mesmo em relação a um trabalho pesado e difícil, nunca se referem a ele como algo penoso ou cansativo; utilizam-se de uma expressão mais suave e que leva em consideração o sentimento do outro: “não deve ser fácil”.

Nanmo, nanmo (Não, imagine!) também são palavras típicas de Hokkaido que aprecio muito. Ao externar a gratidão reconhecendo os esforços do amigo e sua gentileza, a resposta que retornam é Nanmo, nanmo. Nessa resposta está contida a afetuosa consideração de não querer causar nenhuma preocupação ao outro. Além disso, ressoa como um encorajamento para si próprio, dizendo que “Isso não é nada demais”, mesmo para algo bastante dificultoso.

Nos escritos budistas consta que, ao se vir diante de obstáculos e maldades, “o sábio se alegra, ao passo que o tolo recua”.1 Independentemente das dificuldades, uma vida que desafia a abertura de novos caminhos com coragem e elevada disposição jamais se verá num beco sem saída. Sem falta conseguirá encontrar o caminho da esperança.

Na língua ainu [grupo étnico indígena que habita o norte das ilhas de Hokkaido e de Honshu], Hokkaido possui o orgulhoso significado de “grande solo dos seres humanos”. Pisar nesse grande solo, respirar essa atmosfera e visualizar seu extenso céu nos enchem de infinita vitalidade. Acredito que Hokkaido é, de fato, o grande solo que cria, constrói e fortalece verdadeiros e admiráveis seres humanos.

O inverno sem falta se torna primavera

[Nota do editor: Na sequência, o presidente Ikeda menciona a respeito de uma líder da DFJ que viveu até o último instante de sua vida pela missão em prol do kosen-rufu e a trajetória de uma integrante da Divisão Feminina que se empenha arduamente no cultivo agrícola. Ele conclamou a todos a avançar em direção à primavera da vitória imbuídos de um coração radiante como o sol, que não sucumbe nem mesmo diante das mais difíceis provações do rigoroso inverno.]

Hokkaido —

aqui é o paraíso

da felicidade.

Ó, queridas jovens,

levantem-se,

vivam e sobrevivam resolutamente!

Minha esposa e eu jamais nos esqueceremos de uma jovem que devotou apaixonadamente ao máximo a sua juventude pela amada Hokkaido.

A primeira vez que a encontrei foi em Otaru. Ela veio ao meu encontro da distante cidade de Rumoi.

Reprodução/Foto-RN176 No belo e colorido jardim de flores de íris de Sapporo (foto de autoria de Daisaku Ikeda, jul. 1990)

Como ela perdeu o pai na guerra ainda na infância, essa jovem de fibra, como a mais velha dentre quatro irmãos, era o grande apoio de sua mãe.

Ela se empenhava com todas as forças, com um brilho no olhar, e percorria sua localidade com o desejo de se devotar às companheiras com dificuldades, para compensar o próprio sofrimento que enfrentou enquanto se esforçava no trabalho. Lutando contra a tuberculose, era uma líder que incentivava os membros dizendo: “Não se preocupem, empenhem-se com tranquilidade porque estarei protegendo vocês!”.

Eu orava incansavelmente pela sua saúde e, certa vez, dediquei-lhe o seguinte poema: “Seja radiante e forte como o sol / Seja bela como o luar”.

Disseram que, numa ocasião, ela estendeu o mapa de Hokkaido sobre a mesa e, junto com uma companheira, foi fincando bandeirinhas nele feitas com palitos de fósforo. E compartilhou o sonho de expandir nessa e naquela cidade a grande rede de esperança dos jovens.

Infelizmente, ela faleceu ainda jovem, com apenas 26 anos. Contudo, o “tesouro do coração” que a jovem acumulou, dia após dia, orando, dialogando e se dedicando à felicidade de seus amigos nunca, jamais, se apagará.

Neste momento, esse seu espírito está sendo herdado e sucedido por inúmeros jovens.

Uma integrante da Divisão Feminina da cidade de Enbetsu, do distrito produtor de arroz localizado ao extremo norte do Japão, que havia se mudado da metrópole para lá ao se casar, ficou viúva quando estava quase se acostumando com o trabalho no campo.

No entanto, ela, que tinha dois filhos, se ergueu e desafiou o cultivo de arroz glutinoso (mochigome) nas terras do limite norte e, por meio do dedicado trabalho de controle de umidade e irrigação, e uso de fertilizantes, conseguiu produzir um excelente arroz, muito saboroso.

“O inverno nunca falha em se tornar primavera”2 — essa é a frase da esperança na qual ela se agarrou com todas as forças.

Por ser o inverno rigoroso, é grande a alegria da chegada da primavera.

Meu venerado mestre tinha como seu eterno tesouro o casaco de tecido de casca de ulmeiro [tradicionalmente utilizado pelos ainu] feito à mão pela sua mãe, orando profundamente pela sua saúde e segurança. Mesmo diante das mais difíceis provações, ele sorria dizendo: “Tendo este casaco, estou bem”.

Seria errado dizer que a vida é uma jornada em direção à primavera da vitória enfrentando com orgulho as nevascas, sustentado pelo coração caloroso como o sol das heroicas mães?

Se você se levantar,

as terras do Mar do Norte

serão melodia da primavera.

No topo: presidente Ikeda interage com os alunos da Escola de Educação Infantil Soka de Sapporo, em Hokkaido, em sua visita à instituição com o desejo de criar boas recordações para eles (ago. 1992)

Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 666, 2014.
  2. Ibidem, p. 560.

Fonte:

Publicado no Seikyo Shimbun do dia 4 de abril de 2020.