Clientes buscam preservar a lembrança da infância, explica artesã. No local funciona uma oficina de restauração com vários tipos de serviços.
ROTANEWS176 E G1 11/07/2015 06h10 Adriana Justi
Reprodução/Foto-RN176 Oficina é conhecida como hospital de bonecas em Curitiba (Foto: Adriana Justi / G1)
As mãos precisas de profissionais que trabalham há mais de 30 anos em uma oficina de restauração de brinquedos, em Curitiba, já “salvaram a vida” de mais de 70 mil peças. O espaço foi inaugurado em 1982 e, desde então, ficou conhecido como “hospital de bonecas”. Isso porque 90% dos brinquedos que necessitam do serviço são bonecas. O perfil dos clientes é de 35 a 45 anos.
“A maioria são pessoas que tiveram sua infância na década de 80 e que não podiam ter todos os brinquedos porque era tudo muito caro. Então, são pessoas que davam muito valor ao que tinham e fazem questão de preservar a lembrança”, conta a artesã Vanessa de Oliveira.
É o caso da professora Silvana Cardoso, que só pode ter acesso aos brinquedos na fase adulta.
Reprodução/Foto-RN176 Mais de 70 mil brinquedos já foram “salvos”
(Foto: Adriana Justi / G1)
“Eu gosto muito de objetos antigos. Se eu pudesse, a casa estaria lotada, mas como não tem espaço, eu comecei com as bonecas porque é mais fácil de guardar. Eu tenho um guarda-roupa antigo e guardo tudo lá dentro. Cada vez que eu abro é uma sensação muito boa. Só me traz boas energias, é uma terapia. Eu faço isso várias vezes ao dia”, conta Silvana.
Atualmente, a coleção de bonecas dela, a maioria da década de 80, já passa de 100 exemplares.
O trabalho artesanal necessita de vários cuidados e de muitas ferramentas – mas a principal delas é a paciência, ressalta Vanessa. “Tudo começou com um enfermeiro aposentado que teve a ideia de montar a oficina porque a neta dele tinha uma boneca que quebrou o braço e ele não conseguiu encontrar nenhum estabelecimento que consertasse”.
Reprodução/Foto-RN176 Ana Kochan, uma das funcionárias, diz que o
trabalho é terapia (Foto: Adriana Justi / G1)
Falando em paciência, aos 86 anos, a aposentada Ana Kochan Budney tem orgulho em dizer que ainda brinca de boneca. Há aproximadamente 20 anos, ela cuida da parte da costura das bonecas de pano da loja. Tudo é feito de uma maneira minuciosa em uma máquina antiga de pedal da década de 50.
Desde a escolha dos tecidos até o arremate final – tudo é feito por ela e com muita delicadeza. “Eu sempre gostei de bonecas. Mas na minha época eu puder ter muitas. A primeira que eu tive de verdade foi depois de casada”, conta a aposentada.
“Quando eu sento aqui para costurar, não precisa mais nada. É uma terapia. Não preciso nem sair de casa para ser feliz”, brinca Ana.
“Nós fazemos roupas novas, réplicas de bonecas, limpeza, restauração de boneca de massa, eletrônicas, mecânicas (…), na verdade, de tudo um pouco. Mas a parte do trabalho que vale a pena mesmo é ver o brilho no olhar das pessoas ao resgatar a memória da infância com esses brinquedos”, ressalta Vanessa.
Reprodução/Foto-RN176 Oficina começou com um enfermeiro aposentado que queria consertar uma boneca para a neta (Foto: Adriana Justi / G1)
Além de fazer as restaurações, a Cirandinha Brinquedos também vende peças antigas. Uma das relíquias é uma boneca alemã Armand Marseille, que fez sucesso em 1850 e deixou de ser fabricada em 1920. A estrutura da boneca tem uma espécie de massa feita com madeira e papel e é revestida de porcelana. As peças custam cerca de R$ 1,5 mil.
“Essas bonecas são muito raras porque, naquela época, como não tinha importação, elas não vinham para o Brasil. Então, era só quando algum pai viajava para fora e trazia de presente para o filho”, diz Vanessa.