Humanismo na literatura

ROTANEWS176 18/01/2025 11:30                                                                                                                              ENTREVISTA DIRETO DA REDAÇÃO DO JORNAL SEIKYO SHIMBUN     

Por Seikyo Shimbun                                                                                                                                          

 

Reprodução/Foto-RN176 Em julho de 2000, o Dr. Indangasi, à esq., é calorosamente recebido por Ikeda sensei no Centro Memorial Makiguchi em Tóquio, na cidade de Hachioji. Os dois discutem o papel e o poder da literatura, explorando como ela pode influenciar positivamente a humanidade. Ele era um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente era o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fotos: Seikyo Press

Nesta edição, trazemos trechos de uma entrevista com Henry Indangasi, professor emérito da Universidade de Nairóbi, nascido no Quênia, em 1947. A partir de 1983, atuou como chefe do Departamento de Literatura dessa mesma instituição por cinco mandatos. Em abril de 2000, passou seis meses como professor visitante na Universidade Soka. O professor Indangasi e o Dr. Daisaku Ikeda travaram um diálogo sobre a literatura mundial. O conteúdo dessas conversas foi organizado em uma coletânea, intitulada Falando sobre a Literatura Mundial, publicada pela editora Ushio.

Em 1990, ocorreu o primeiro encontro de Ikeda sensei com o presidente da África do Sul, Nelson Mandela, no mesmo ano em que o líder africano saiu da prisão.

Em entrevista,1 o professor Indangasi fala sobre o impacto da relação construída com Ikeda sensei e sua obra, Nova Revolução Humana, coleção de trinta volumes escrita durante ininterruptos 25 anos. Acompanhe!

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Reprodução/Foto-RN176 Henry Indangasi, professor emérito da Universidade de Nairóbi Fotos: Seikyo Press

Seikyo Shimbun: A humanidade voltou a enfrentar uma era de pandemias e de guerras, que antes se consideravam superadas. Em tempos assim, há quem questione se “a literatura não seria impotente”. No entanto, o senhor, Dr. Indangasi, defende que “a poesia é vida” e que “a literatura é vida”. Poderia compartilhar sua visão?

Henry Indangasi: A literatura aprofunda e amplia nossa capacidade de empatia e nossa habilidade de nos colocarmos no lugar de outras pessoas. Uma empatia de alta qualidade nos permite ver o mundo a partir da perspectiva do outro, conhecer sua situação e compreendê-la.

Todas as formas de literatura afirmam valores que unem a humanidade como uma só família. Um desses valores é a convivência pacífica. Aqueles que pegam em armas para tirar a vida de outro ser humano muitas vezes não tiveram a oportunidade de ler grandes obras literárias nem de internalizar os valores que elas promovem.

Os dez maiores romances do mundo

SS: Dr. Indangasi, o senhor tem elogiado o romance de Ikeda senseiNova Revolução Humana, indicando-o como um dos “dez maiores romances do mundo”. Poderia discorrer sobre isso?

Indangasi: Há 24 anos, li, pela primeira vez, o romance Nova Revolução Humana do Dr. Daisaku Ikeda, em inglês. Nesse momento, tive a grande certeza de que a obra Nova Revolução Humana do Dr. Ikeda conseguiu reviver a essência do humanismo na literatura que estava desaparecendo. Esse romance retrata comoventes interações entre as pessoas. Fiquei profundamente emocionado com as relações que se formam, nas quais os personagens se influenciam mutuamente. A obra está repleta de um amor profundo que ensina o valor do ser humano, e qualquer pessoa ao redor do mundo que a leia pode encontrar um reflexo de si nos personagens, elevando o valor da própria vida. Isso me lembrou das grandes obras da literatura mundial.

Por esse motivo, quero nomear a Nova Revolução Humana como um dos “dez maiores romances do mundo”.

As grandes obras literárias falam de uma humanidade comum, desde mais de quatrocentos anos, com escritores como Shakespeare, Dostoiévski e Tolstói. Esses extraor­dinários autores escreveram com paixão sobre a importância da relação entre o indivíduo e a sociedade em um contexto mais amplo.

Penso que a obra Nova Revolução Humana do Dr. Ikeda ilumi­na o futuro da humanidade ao reafirmar essa base moral da literatura mundial.

Reprodução/Foto-RN176 Dr. Indangasi, à esq., interage com estudantes da Universidade Soka que visitam Nairóbi em um programa de intercâmbio (2018) – Fotos: Seikyo Press

SS: Nos primeiros anos da década de 1990, ouvi dizer que, quando a Universidade de Nairóbi decidiu conceder ao Dr. Daisaku Ikeda o título de doutor honorário em literatura, o que mais comoveu o comitê de avaliação foi justamente a força poética presente na obra do Dr. Ikeda.

Indangasi: Poucos dias antes da reunião do comitê de avaliação sobre a concessão do título honorário ao Dr. Ikeda, deparei-me com um de seus poemas e senti que o Dr. Daisaku compreendia profundamen­te o “coração da África”.

Muitos poetas haviam escrito sobre Mandela até então. Além disso, a maioria desses poemas focava no aspecto racial, destacando o fato de que o governo de apartheid, promovido por brancos, tinha aprisionado um negro que lutava pela igualdade racial. No entanto, o poema do Dr. Daisaku era diferente. Ele captava a grandeza universal do caráter de Mandela.

Para falar a verdade, não imaginava que um japonês conseguiria compreender o preconceito racial da África. Porém, após ler o poema do Dr. Daisaku, mudei meu pensamento.

Os professores são conhecidos por serem difíceis de convencer quando se trata de discussões intelectuais sobre a concessão de títulos honorários. No entanto, naquela ocasião, não houve nenhuma voz de oposição, e a decisão de conceder o título de doutor honorário em literatura ao Dr. Ikeda foi tomada por unanimidade.

O poder da literatura e da poesia

SS: Por favor, compartilhe seus pensamentos sobre a importância da “educação” e o “poder da literatura” para abrir um futuro de esperança.

Indangasi: Estou preocupado com o afastamento dos jovens da leitura. Quando vou à biblioteca da universidade, vejo que os estudantes, em vez de olharem para os livros à sua frente, estão totalmente absorvidos nos smartphones. Os livros estão ali, esperando para serem lidos.

Hoje em dia, também estou preocupado com o relacionamento entre a IA (inteligência artificial) e os seres humanos. Por exemplo, já é possível pedir que a IA escreva uma dissertação para alguém.

É fundamental manter contato com os livros. Caso contrário, não seremos capazes de exercitar nossa própria mente. Quando me encontrei com o Dr. Ikeda, fiquei impressionado com sua vasta erudição e pensei em quantos livros ele deve ter lido ao longo da vida para alcançar essa notável humanidade.

Acredito que esse caminho de fortalecimento da humanidade seja precisamente o papel da literatura e da poesia, como o Dr. Ikeda sempre enfatizou.

Reprodução/Foto-RN176 Livro Falando sobre a Literatura Mundial contém um diálogo entre o Dr. Indangasi e o Dr. Ikeda – Fotos: Seikyo Press

No topo: Em julho de 2000, o Dr. Indangasi, à esq., é calorosamente recebido por Ikeda sensei no Centro Memorial Makiguchi em Tóquio, na cidade de Hachioji. Os dois discutem o papel e o poder da literatura, explorando como ela pode influenciar positivamente a humanidade. Fotos: Seikyo Press.

Nota:

  1. Entrevista conduzida pelo jornalista Hideki Ohashi, publicada no Seikyo Shimbunde 25 de outubro de 2024.

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO