“Idade do Bumbum”? A obsessão da música e das artes plásticas com nádegas

 ROTANEWS176 E BBC BRASIL 09/10/201613h36 13h36                                                                            Kelly Grovier                                                                                                                                         

Adrian Dennis/AFP Photo

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Reprodução/Foto-RN176 Escultura “Project for a Door”, inspirada em uma ideia para uma portaria, é exibida em Londres

Adoramos essa parte do corpo em músicas como se ela fosse um deus a quem queremos fervorosamente agradar.

Canções como “My Humps” (do Black Eyed Peas), “Anaconda” (de Nicki Minaj), “Baby Got Back” (de Sir Mix-a-lot) e “Bootylicious” (das Destiny’s Childs) glorificam o bumbum de tal maneira que há cada vez mais mulheres dispostas a passar por uma cirurgia para aumentá-los – tanto que a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica chamou 2015 de o “Ano do Traseiro”.

E agora, até representações exaltadas de nádegas estão ganhando espaço nas grandes premiações do refinado mundo das artes visuais.

Em setembro, fotos do público contemplando a fenda murmurante de um gigantesco bumbum instalado na galeria Tate Britain, em Londres, chamaram a atenção para o nível da nossa atual obsessão.

A obra, batizada de “Project for a Door” (“Projeto para uma porta”, em tradução literal), é uma escultura de cinco metros de altura realizada pela artista britânica Anthea Hamilton, que foi indicada para o Turner Prize deste ano, um dos mais prestigiados (e polêmicos) prêmios da arte contemporânea.

A peça se baseia em um projeto nunca executado pelo arquiteto italiano Gaetano Pesce para um prédio de apartamentos em Nova York.

Wikipedia

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Reprodução/Foto-RN176 Com mais de 40 mil anos, a “Vênus de Hohle Fels” é a obra figurativa mais antiga

Inspiração pré-histórica

Noventa e nove anos depois de o dadaísta francês Marcel Duchamp escandalizar o mundo das artes ao propor a instalação de um urinol em uma galeria, e quase duas décadas após a artista britânica Tracey Emin deixar críticos indignados ao expor uma cama amarrotada cheia de camisinhas usadas, absorventes manchados, bitucas de cigarro e garrafas vazias, é de se pensar que nossa sensibilidade passou a ser mais resiliente.

Pode até ser. Talvez um par de nádegas, por si só, seja algo capaz de atrair uma enorme fascinação, representando uma fonte única e inesgotável de inspiração cultural.

A foto do público hipnotizado pela escultura de Hamilton praticamente fecha o ciclo da história do olhar humano.

A obra mais antiga de arte figurativa de que se tem notícia, a chamada Vênus de Hohle Fels (descoberta na Alemanha em 2008 e com mais de 40 mil anos), revela o quanto estamos predestinados a caprichar nas proporções do bumbum.

Forjada em marfim de mamute, a diminuta estatueta é um amontoado de seios protuberantes e nádegas inchadas – exageros que, segundo historiadores, podem explicar a função da peça como um totem da fertilidade.

Desde então, o traseiro provou ser um marco essencial da genialidade visual para uma série de artistas: do holandês Hieronymus Bosch, no século 15, a Salvador Dalí, no século passado, e às selfies “destruidoras” de Kim Kardashian.