Infecção se aloja em silicone e faz jovem perder mama: “Pior dor que senti”

ROTANEWS176 E UOL 23/03/2017 04:00

1Reprodução/Foto-RN176 A jornalista Thays Almendra, 29 Imagem: Arquivo pessoal

Depoimento a Denise de Almeida Do UOL

Uma bactéria que se alojou no seio levou a jornalista Thays Almendra, 29, a passar por três cirurgias, incluindo a retirada parcial de uma das mamas. A desconfiança de que havia um problema começou porque uma de suas próteses de silicone ficou endurecida e surgiram bolas de pus, que precisaram ser limpas em um procedimento doloroso e sem anestesia.

Thays precisou tomar antibióticos por um ano e, durante esse período, ficou com um seio de cada tamanho. “Fiquei ‘monoteta’ e não ligava. Quero dizer para outras pessoas que estejam passando por algo do tipo que elas devem gostar delas do jeito que são”, afirma. Abaixo, ela dá seu depoimento ao UOL.

“Eu tinha colocado próteses de silicone nos seios há sete anos, por não ter nada de seios, e nunca tive qualquer problema com as próteses. Mas, em julho de 2015, estava sentindo meu seio um pouco diferente. Já fazia um tempo que ele estava endurecido, mas não era nada muito grave, achei que fosse normal.

Então, caí esquiando, em uma viagem ao Chile, e bati com os seios no chão. Quando voltei ao hotel, vi uma bolinha branca embaixo de um deles. Achei estranho, parecia um vinco. Fiquei meio desesperada, mas tomei um anti-inflamatório e a dor passou.

Vez ou outra sentia dor, mas estava em uma fase bem preocupada com o trabalho, onde estavam acontecendo cortes de pessoal, e não dei muita importância aos sintomas. Uma semana depois entrei na lista de demissão em massa da empresa. E, então, percebi que meu seio estava completamente torto e ainda com o vinco.

Fiquei desesperada e corri para o hospital, mas as médicas não sabiam dizer nada. Fui no meu cirurgião. Cheguei ao consultório dele com o peito totalmente torto e endurecido e ele me disse: “você precisa trocar isso agora, porque tem uma infecção latente aí. O problema não é a prótese, é alguma infecção que você pegou e atingiu o silicone”.

Ele me perguntou se alguma vez na vida eu tinha tido uma infecção urinária. De fato, eu tinha tido uma algum tempo antes, cheguei a ter 41°C de febre.

Ele me explicou que a bactéria da infecção urinária gosta de lugares mais quentes e que ela poderia ter se alojado no seio e deformado a minha prótese. Tomei inúmeros antibióticos por cinco dias, eram remédios devastadores, e aí fui para a primeira cirurgia.

Tive de tirar a prótese, mas só do seio direito. O curioso é que a cirurgia de retirada é mais dolorida do que a colocação da prótese. Acho que pela empolgação e pela vontade de se ver bonita, você não percebe que está sofrendo tanto. Já na retirada, sofri bastante. Fiquei usando aquelas próteses móveis que são colocadas no sutiã, para que os seios ficassem mais ou menos iguais. 

Novos sustos

Seis meses após essa cirurgia, comecei a perceber que o seio operado estava um pouco inchado. Achei estranho e ainda comecei a ter uma coceira na cicatriz, embaixo do seio. Liguei para o cirurgião e ele me disse que isso poderia acontecer.

Mas, horas mais tarde, percebi que havia uma bola enorme embaixo do meu seio. Entrei em desespero e liguei para o médico de novo. Ele me deu um antibiótico e disse que iria melhorar. Só que na mesma noite, enquanto eu dormia, essa bola gigante estourou. Dela, saiu um líquido amarelo, como se fosse um pus, durante umas duas horas, sem parar.

Corri para o consultório, era um domingo. Lembro bem que o cirurgião colocou uma cânula no meu seio, a sangue frio, para sugar aquele pus. Ele fez uma assepsia, sem anestesia, e eu ‘vi estrelas’. Foi horrível, a pior dor que já senti na vida!

No dia seguinte, eu passei bem, mas um dia depois aconteceu tudo de novo: uma bola de pus estourou e eu chorava, berrava demais. Fui de novo ao consultório, o médico com a cânula tentava limpar e drenar. Foi horrível e não melhorou. Tive de voltar para a mesa de cirurgia.

Tudo porque quando você coloca a prótese de silicone seu corpo cria uma espécie de cápsula em volta do implante. Normalmente, na retirada, o organismo reabsorve a cápsula. Só que no meu caso ela não foi absorvida. E aí eu tive que retirar a mama.

É claro que no começo eu me olhava no espelho e me achava ridícula, foi ‘punk’. Mas minha família e meu namorado foram muito importantes. A prótese móvel funcionou muito bem para mim. Acabei tirando de letra a situação. Fiquei “monoteta” e não ligava. Quero dizer para outras pessoas que estejam passando por algo do tipo que elas devem gostar delas do jeito que são.

O corpo é só um corpo. Claro que a autoestima alta ajuda em muita coisa, mas o melhor é perceber que as pessoas te amam independentemente do corpo que você tenha.

Por conta das complicações todas, fiquei um ano com um só implante de silicone. Foi um ano tomando antibióticos. E, em julho de 2016, eu fiz a terceira cirurgia. Passei pela reconstrução da mama e recoloquei a prótese, além de trocar a do outro seio.

Isso tudo que passei me fez repensar a minha carreira, porque eu estava trabalhando insanamente, aos sábados, domingos e feriados. Quando tudo aconteceu, preferi não falar abertamente sobre o problema, para que as pessoas não tivessem dó de mim. Queria superar sozinha e contar depois. Na realidade, eu nasci de novo.