Istambul – História e esperança ligadas pela vida

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  27/05/2022 15:49

ENCONTRO COM O MESTRE                                                                                                                                      Por Dr. Daisaku Ikeda

Da série “Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”.

Reprodução/Foto-RN176 Casal Ikeda acompanha cantor popular da Turquia Baris Manço, à esq. na primeira fileira, e sua esposa (Istambul, jun. 1992) Dr. Daisaku Ikeda, fundador da Universidade Soka. Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI Fotos: Seikyo Press

Brasil Seikyo publica, nesta edição, a décima quinta parte da série de ensaios do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, “Viagens Inesquecíveis — Com um Coração como o Sol”, na qual ele narra suas recordações das pessoas com quem criou laços de amizade nas localidades que visitou no Japão e em diversos países, abordando também aspectos da cultura e história locais. A série foi veiculada, a princípio, na revista mensal Pumpkin e em livro; depois também foi divulgada no jornal Seikyo Shimbun

Istambul, a maior cidade da Turquia, tem uma história de mais de 2 mil anos. Ela prosperou como capital de três impérios ao longo dos tempos. Aprendendo com o espírito de harmonia que permeia a “cidade da história”, que abraçou diversas culturas, criemos um futuro em que cada um de nós brilhe.

 

  1. DAISAKU IKEDA

Tulipas

das mais diversas cores

que florescem enfileiradas

com as amigas —

um país do conto de fadas.

Quem me recepcionou em Istambul, a bela “antiga capital da humanidade”, foram as muito graciosas tulipas. Foi em junho de 1992, quando visitei a cidade.

Ouvi dizer que a primeira flor que a maioria das crianças japonesas desenha na infância é a tulipa.

Dizem que a terra natal dessa flor, apreciada por todas as pes­soas, repleta de dignidade e envolta de delicadeza, é a Turquia.

A tulipa, que representa as províncias de Toyama e de Niigata, é considerada flor nacional na Turquia.

O significado de tulipa na linguagem das flores, “filantropia”, parece simbolizar o calor afetuoso com que Istambul, desde os tempos antigos, vem acolhendo muitos grupos étnicos provenientes de todas as partes do mundo.

Aliás, essa própria cultura da “linguagem das flores” nasceu na Turquia. Esse costume de transmitir sentimentos em relação a alguém por intermédio das flores se espalhou para o mundo a partir dali.

Istambul ostenta uma história de mais de 2 mil anos. Assumindo o nome de Bizâncio, depois, Constantinopla, e, por fim, Istambul, a cidade prosperou como a capital de três grandes impérios, sendo o eixo principal das culturas greco-romana, cristã e islâmica.

Além disso, foi daqui que o “caminho da seda”, que atravessa o continente euroasiático, e o “caminho do mar”, que atravessa o oceano, chegaram ao Japão.

Qual é o espírito que sustenta essa capital do mundo, onde as mais variadas culturas e pessoas de diferentes povos vêm e vão ou também se instalam?

Um líder de Istambul me disse que a resposta é sempre pôr em primeiro lugar o “valor do ser huma­no” como um ser humano. Respeitar de maneira imparcial todas as diferentes etnias e culturas.

A capital onde florescem as mais diversas e variadas tulipas nos encoraja alegremente a ser, antes de tudo, “seres humanos” e “autênticos”.

Elogio

[Nota do Editor: Istambul divide-se entre a Ásia e a Europa às margens do Estreito de Bósforo. Relembrando os vários encontros ocorridos ali, essa cidade louva a “espírito de respeitar o outro” que pulsa nessa rota de intersecção entre o leste e o oeste.]

 

Edifiquem diariamente

a bela

capital do coração.

Publiquei uma coletânea de diá­logos intitulada Uma Passagem para a Paz: Soluções Globais do Leste e do Oeste, com o Dr. Nur Yalman (professor honorário da Universidade Harvard), renomado antropólogo nascido em Istambul.

Certa ocasião, ele ressaltou que “a empatia é uma característica da verdadeira natureza humana”.1

Em outras palavras, deve-se cultivar a empatia, ao interagir ativamente com as pessoas, dialogar, compartilhar tristezas e alegrias e ter uma profunda consideração com o modo de vida do outro.

Reprodução/Foto-RN176 Foto tirada pelo presidente Ikeda: A casa vermelhas se destaca na paisagem (jun. 1992)

Em sua essência está a filosofia de que respeitar a vida da outra pessoa é uma forma de consagrar a própria vida.

No século 13, o grande poeta turco Jalaladim Rumi declamou: “Quando alguém fala algo de bom sobre alguém, os efeitos bons retornam para si próprio. Na verdade, é como se elogiasse a si mesmo desde o início”.2

Se, no dia a dia, as palavras que louvam, elogiam e exaltam os árduos esforços nos bastidores ou a dedicação sincera se multiplicassem ainda mais, isso faria com que o coração resplandecesse mutuamente de maneira ampla.
A rica e variada cultura musical turca é conhecida mundialmente

Ainda hoje relembro em meu coração o encontro com o cantor popular turco Baris Manço, amado além das fronteiras do seu país, e com sua esposa.

O nome dado por seus pais a ele, que nasceu em meio à Segunda Guerra Mundial, “Baris” (“paz”), é bastante raro em turco na época. Dizem que eles desejavam que o filho se tornasse “embaixador da paz” por intermédio de algum caminho que escolhesse e que ele estendesse os elos de amizade para muitas pessoas do mundo.

Quando Baris estava com 15 anos, ele perdeu o pai e também enfrentou várias dificuldades financeiras, mas terminou os estudos como aluno interno bolsista especial e, lapidando suas habilidades, passou a atuar nos palcos do mundo em prol da paz. Ele cantava altivamente que “sua terra natal era o mundo”, imbuído do sentimento de saldar às dividas de gratidão com seus pais e seu país que o criaram e o desenvolveram.

Ele enfatizava com força: “Acredito que ‘não exista ninguém que tenha nascido na face da Terra sem ter um significado’. Então para que viemos ao mundo? Para levar a ‘alegria’ a alguém além de si mesmo e, obviamente, não a ‘tristeza’. É isso que eu penso também.

Acima de tudo, ele se esforçou para transmitir a mensagem de paz para o coração das crianças, maiores, puros e sinceros que o dos adultos.

Pelas próximas gerações

[Nota do Editor: Na conclusão, Ikeda sensei apresenta as palavras do primeiro presidente da Turquia e fundador do país, Kemal Ataturk, e também fundador da prestigiosa Universidade de Ancara, onde o presidente Ikeda proferiu um discurso comemorativo em 1992. Sensei conclama todos a prosseguir na caminhada pela contribuição para o futuro.]

Reprodução/Foto-RN176 Foto tirada pelo presidente Ikeda:, a paisagem urbana de Istambul se estende pelas duas margens do Estreito de Bósforo, ponto de interligação entre a Europa e a Ásia, observando-se a lado asiático a partir do lado europeu vista da cidade de Istambul

O primeiro presidente Ataturk focou os esforços na educação e estabeleceu o sufrágio feminino em 1934. Ele dizia: “Para que todos os seres humanos possam sentir a alegria de viver e a felicidade, é necessário que as pessoas trabalhem não só para si próprias, mas também pelas gerações que as sucederão”.3 Ele liderou a construção da nação a partir de Istambul e lutou nessa cidade até os seus últimos anos.

Dedicar-se com seriedade e sinceridade, fazendo tudo o que estiver ao alcance agora pela próxima geração. Penso que é em um coração como esse que certamente se edifica a eterna capital da alegria.

Repletos de esperança,

vamos agora avançar,

abrindo o caminho

da inabalável

capital eterna.

Publicado no jornal Seikyo Shimbun de 2 de novembro de 2021.

No topo: Casal Ikeda acompanha cantor popular da Turquia Baris Manço, à esq. na primeira fileira, e sua esposa (Istambul, jun. 1992)

Fotos: Seikyo Press

Notas:

  1. YALMAN, Nur; IKEDA, Daisaku. Kyou no Sekai Asu no Bunmei— Aratana Heiwa no Silkroad. Kawade Shobo Shinsha.
  2. Rumi Série de Clássicos Islâmicos. Tradução: Toshihiko Izutsu. Iwanamishoten.
  3. KARAL, E. Z. Textbooks of the World History Turkey-3. Tradução: Yuzo Mizuta. Hope Shuppan.