“Lágrimas não combinam com o sol”

ROTANEWS176 10/11/2023 13:55                                                                                                                                CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA

 

Capítulo “Sino do Alvorecer”, volume 30

 

Reprodução/Foto-RN176  Desenho de pessoas de ilustração  da matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida

PARTE 57

Na tarde do dia 19, foi realizado na cidade de Glen Cove, estado de Nova York, o encontro dos representantes da Área Nordeste com a presença de Shin’ichi Yamamoto. Nessa data, reuniram-se cerca de duzentas pessoas vindas de Boston, da Filadélfia e de cidades na fronteira com o Canadá, além dos membros de Nova York. No local de realização da atividade, a sala onde estava consagrado o Gohonzon era pequena e a oração foi recitada por diversos grupos. Em todos os grupos, Shin’ichi liderou o gongyo. Os diálogos foram realizados sob as árvores. Com suor no rosto, ele prosseguiu conversando com os membros, colocando-se no meio deles.

Ao observar uma senhora com fisionomia um pouco triste, ele a incentivou dizendo:

— Não há dúvida de que se persistir na prática da fé, poderá varrer a escuridão de quaisquer tipos de sofrimento e levar uma vida feliz. Se recitar firmemente daimoku e se dedicar às atividades da organização, a senhora reluzirá como o sol. Será capaz de iluminar a família e a comunidade local. Lágrimas não combinam com o sol. Torne-se uma pessoa radiante, com sorriso no rosto.

Depois do diálogo, todos apreciaram uma apresentação de música suave. Nova York é uma cidade cultural representativa do mundo, e entre os membros também havia músicos famosos. Uma banda musical formada por instrumentistas de nível internacional tocou músicas como Kojo no Tsuki [Luar do Castelo] e Over the Rainbow [Além do Arco-íris].

Esses membros sempre participavam das atividades da organização de base e por iniciativa própria realizavam visitas familiares. Nos dias das reuniões, ajudavam a carregar cadeiras para servir aos membros. Quando Shin’ichi ouviu isso, ele disse:

— É um ato nobre. Fico realmente feliz. Esse é o verdadeiro aspecto da Soka Gakkai. Diante do Gohonzon, o cargo na organização como também a posição e a fama na sociedade nada têm a ver. Na prática budista não há nenhuma categoria especial. Todos são iguais. Quanto se dedicou arduamente à prática da fé é quanto será feliz e transformará seu destino. O mundo da Soka Gakkai é aquele em que todos se respeitam mutuamente como filhos do Buda.

Na Soka Gakkai existe a verdadeira cooperação humana.

PARTE 58

Na sequência do encontro de representantes que começara às 13 horas foi realizada uma reunião de diálogo com cerca de trinta líderes centrais a partir das 17 horas. Shin’ichi disse:

— Soube que o estado de Nova York possui o lema I Love New York [“Eu Amo Nova York”]. Amar a sua cidade e a sua localidade é algo maravilhoso. O kosen-rufu da localidade também se inicia a partir desse espírito.

Ele declarou que desejava que todos avançassem com respeito e confiança mútuas, estabelecendo mais um lema: I Love New York Soka Gakkai [“Eu Amo a Soka Gakkai de Nova York”]. Essa era a chave para criar a união, a condição indispensável para promover o kosen-rufu.

Shin’ichi dialogou ainda com os representantes da Divisão dos Jovens (DJ). Todos eram membros que se empenharam nas comissões de preparativos. Surgiram diversas perguntas, sem reservas, dos jovens. Houve também solicitações de diretrizes. Ele se sentia feliz pelo abundante espírito de procura dos jovens que se encarregariam da próxima geração.

Na verdade, desde a manhã de 17 de junho, um dia depois de sua chegada a Nova York, Shin’ichi já vinha trabalhando na composição de um poema com o desejo de oferecê-lo como diretriz aos jovens da América. No dia seguinte ao do diálogo com os jovens, na manhã de 20 de junho, o poema foi revisado e concluído. Na tarde desse dia, ele visitou a casa onde havia nascido o grande poeta Walt Whitman, localizada em Long Island, na periferia de Nova York.

No dia 16, quando Shin’ichi chegou a Nova York, vindo de Paris, os jovens haviam lhe entregue uma coletânea de críticas de Whitman junto com uma tradução para o japonês e com uma carta onde se lia: “Por favor, visite sem falta a casa onde nasceu Whitman”. Ele queria corresponder à sinceridade dos jovens.

A casa do poeta ficava em meio a um extenso gramado verde com diversas árvores. Era um sobrado de construção sólida que parecia hospedar o espírito pioneiro. Na mente de Shin’ichi veio o poema Pioneiros! Ó, Pioneiros!1 de Walt Whitman. É um poema magnânimo que se aplica também ao espírito Soka do caminho do desbravar do kosen-rufu. Shin’ichi ainda extraiu muita coragem desses versos. Um excelente poema desperta esperança e proporciona força de viver.

PARTE 59

No andar de baixo da Casa de Whitman havia o quarto onde ele nasceu, a sala de visita e a cozinha. Na cozinha estavam expostas uma máquina de produzir velas e de assar pães, além de um enorme vasilhame de água e uma haste para transporte sobre os ombros. Demonstravam o aspecto de uma vida autossuficiente em uma região selvagem. No quarto do andar superior, havia diversas relíquias, tais como réplicas de manuscritos, retratos, diário da época daquela trágica Guerra da Secessão, e outras.

Havia também uma carta de Ralph Waldo Emerson sobre o poema Folhas de Relva [Leaves of Grass, em inglês]. Essa obra reformista rompeu a formalidade, que no início foi de má reputação, com alguns pouquíssimos admiradores. Dentre eles, Emerson observou cuidadosamente o poema de Whitman, elogiando-o profundamente.

Quanto mais reformista o caminho de um pioneiro, mais árdua e solitária é essa estrada. Não é fácil para as pessoas compreenderem algo sem exemplos anteriores. O kosen-rufu e o “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra” (rissho ankoku) que almejamos são um novo movimento religioso sem precedentes na história da humanidade. Trata-se do movimento para abrir o potencial infindável inerente a cada pessoa, com eixo na revolução humana, visando à criação de uma época e de uma sociedade pelo povo e para o próprio povo. Por isso, é desnecessário dizer que a obtenção de sua correta compreensão exige um longo tempo. O avanço do kosen-rufu é uma caminhada gradual da expansão concreta do círculo de simpatia por meio de persistentes diálogos e de divulgação dos ensinamentos budistas alicerçada em suas próprias ações, no seu modo de vida e na sua personalidade. E ainda, deve-se ter plena ciência de que nessa caminhada são esperadas tempestades de ondas bravias de críticas, difamações, perseguições e opressões devido à falta de compreensão.

Walt Whitman escreveu: “Vamos partir! Superando as árduas batalhas! O ponto de chegada vitoriosa não pode ser apagado”.2

Para Shin’ichi, Whitman era um dos poetas mais admirados desde a sua juventude. Em particular, Folhas de Relva era uma obra muito próxima a ele. Shin’ichi se lembrava de ter enviado certa vez essa passagem do poema para um membro da Divisão Masculina de Jovens de Shin’etsu, clamando para que ele iniciasse um novo desbravar rumo ao kosen-rufu.

O espírito daquele que experimentou uma árdua batalha emite um brilho diamantino.

PARTE 60

Em decorrência de uma pneumonia, Whitman morreu aos 72 anos, em março de 1892. Seu funeral não foi realizado com a presença de clérigos religiosos. Os amigos o louvaram e se despediram dele lendo trechos de escrituras budistas e de obras de Platão. A rejeição a cerimônias realizadas sob autoritarismo religioso era o desejo do poeta.

No prefácio da primeira edição de Folhas de Relva, ele registrou: “Um novo grupo de sacerdotes deverá surgir e conduzir o

Reprodução/Foto-RN176  Desenho de pessoas de ilustração  da matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida

Em março de 1992, seriam realizadas comemorações pelo centenário de falecimento do poeta Walt Whitman. A Associação Walt Whitman da América enviou um convite a Shin’ichi Yamamoto para o evento. Devido à sua impossibilidade de participar, ele encaminhou um poema dedicado ao seu admirado poeta do povo Walt Whitman, intitulado Tal Como o Sol que se Levanta. Em um dos trechos, Shin’ichi escreveu:

Ninguém é propriedade de alguém nem seu escravo.

A política, o estudo, a arte,

a religião

são em prol do ser humano;

são em prol do povo.

Esmagando a visão

racial distorcida,

e destruindo a barreira das classes sociais,

para propiciar a compreensão da liberdade e da igualdade à pessoas, o poeta prosseguiu compondo com dedicação,

ao limite de suas forças.

Oh, esses versos são

a declaração do homem

da nova era!

Ele amou o povo mais

do que ninguém.

Ou melhor,

ele próprio foi por toda a vida,

o orgulhoso povo sem louros.

Visitando a Casa de Whitman, Shin’ichi imaginava a época do Renascimento Americano. E jurava em seu coração que, no desenvolvimento do novo movimento de renascença da vida chamado kosen-rufu, ele também continuaria a escrever poemas de encorajamento, de esperança e de coragem para as pessoas por toda a vida.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Notas:

  1. Coletânea de Poemas de Walt Whitman. Tradução: Seigo Shirotori. Editora Yayoi Shobo.
  2. WHITMAN, Walt. Folhas de Relva. Tradução: Saika Tomita. Editora Daisanbunmeisha.
  3. Idem. Folhas de Relva. parte 1. Tradução: Masayuki Sakamoto. Editora Iwanami Shoten.

Ilustrações: Kenichiro Uchida

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO