ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 26/06/2021 09:24
REDAÇÃO/ESPECIAL
O dia 3 de julho é considerado uma das principais datas da história da Soka Gakkai e encerra o profundo significado da unicidade de mestre e discípulo
Reprodução/Foto-RN176 Retratos de ilustração dos três primeiros presidentes da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi (acima, à dir.), Josei Toda (acima, à esq.) e Daisaku Ikeda – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Em 6 de julho de 1943, o primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, e seu discípulo, Josei Toda, foram presos por defender a liberdade religiosa. Na ocasião, eles não aceitaram a decisão do governo militarista de impor à população a adoção do talismã xintoísta como forma de unificar o sentimento nacional em torno do esforço de guerra.
Devido às precárias condições do sistema carcerário da época, Makiguchi faleceu em 18 de novembro de 1944. No ano seguinte, no dia 3 de julho, Josei Toda foi libertado da prisão e deu início à reconstrução da Soka Gakkai, promovendo de maneira efetiva o ideal do seu mestre. Anos mais tarde, no dia 3 de julho de 1957, Daisaku Ikeda, então responsável pela secretaria da Divisão dos Jovens da Soka Gakkai, foi preso por falsa acusação de ter violado as leis eleitorais. Após inúmeros interrogatórios, ele é libertado em 17 de julho. Sobre esses acontecimentos, o presidente Ikeda relata:
O espírito da Soka Gakkai e o espírito de mestre e discípulo continuam pulsando na firme decisão de combater o mal e a injustiça. (…) O laço de mestre e discípulo é o mais solene e profundo. Quando ambos tiverem o mesmo sentimento, não haverá nada que esteja fora de seu alcance. Eles vencerão sem falta.1
Como tudo começou
Reprodução/Foto-RN176 O jovem Daisaku Ikeda discursa, no dia 17 de julho de 1957, reconfirmando sua decisão no desafio diante das provações. Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Em meio à Segunda Guerra Mundial, no ano de 1940, passou a vigorar a Lei dos Grupos Religiosos em todo o Japão. E, em 1941, houve a revisão da Lei de Manutenção da Ordem Pública, a qual tinha como objetivo principal a opressão sobre o pensamento e a religião. Sendo assim, ser contra o talismã xintoísta se tornou motivo de prisão, pois o xintoísmo era a base espiritual do Japão militarista.
Os detetives da polícia especial começaram a vigiar a Soka Gakkai em 1942. No ano seguinte, todas as reuniões estavam sob os olhares atentos da polícia. Em junho de 1943, o clero da Nichiren Shoshu aceitou passivamente o talismã xintoísta. No mesmo mês, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda foram chamados ao templo principal, sendo orientados a seguir as ordens do governo.
O presidente Makiguchi ergueu a cabeça e disse: “Nunca nos inclinaremos ante a Deusa do Sol”.2 Com essas palavras, ele e Josei Toda saíram do templo. No caminho de volta, bastante indignado com o comportamento do clero, Makiguchi sensei disse: “Não temo a queda de uma religião tanto quanto temo a destruição de toda a nação. Temo a tristeza que isso causaria a Nichiren Daishonin. Não está na hora de admoestar o governo? Do que o clero tem medo? O que acha disso?”.3
Toda sensei ficou em silêncio, não sabia o que responder. Um pouco mais calmo, seu mestre perguntou novamente: “O que acha disso?”.4 Com a voz baixa, mas forte, Josei Toda fez seu juramento ao mestre: “Enquanto eu viver, seguirei o senhor fielmente. Estou pronto para morrer por nossa fé”.5 Na manhã do dia 6 de julho de 1943, o presidente Makiguchi foi detido em Shizuoka, onde realizava shakubuku. Ao se despedir da senhora que o acompanhava, confiou-lhe uma mensagem: “Transmita minhas recomendações a Josei Toda”.6 Porém, Toda sensei também havia sido preso no mesmo dia, em Tóquio. As acusações que caíram sobre eles foram: violação da Lei da Manutenção da Ordem Pública e suspeita de desrespeito ao santuário xintoísta.
No dia 11 de outubro de 1943, cerca de duas semanas após o presidente Tsunesaburo Makiguchi ser transferido para o Centro de Detenção de Tóquio, Josei Toda também foi levado para a solitária desse local.
Em 18 de novembro de 1944, Makiguchi sensei falece na prisão. Toda sensei só soube do ocorrido em 8 de janeiro de 1945.
No dia 29 de junho de 1945, Josei Toda foi transferido do Centro de Detenção de Tóquio para o Presídio de Toyotama. Dali, foi libertado às 19 horas do dia 3 de julho do mesmo ano.
O recomeço da Soka Gakkai
Após a sua libertação da prisão e com o objetivo de honrar a vida do seu mestre, Josei Toda deu início à reconstrução da Soka Gakkai. Em 3 de maio de 1951, assume como segundo presidente da organização e sua liderança é marcada pela luta da reestruturação e pelo fortalecimento da Soka Gakkai. No ano seguinte, a denominação Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor] foi alterada para Soka Gakkai [Sociedade de Criação de Valor]. Toda sensei dizia: “A Soka Gakkai é mais preciosa do que minha própria vida”.7
Nesse ínterim, em 24 de agosto de 1947, o jovem Daisaku Ikeda se converte à filosofia do Budismo Nichiren e decide ser treinado por Josei Toda, fazendo assim o juramento de acompanhar seu mestre por toda a vida. Sobre a relação de mestre e discípulo, o presidente Ikeda frisa:
Agi totalmente de acordo com a intenção do Buda. Nunca tive a ambição de me tornar isto ou aquilo nem de receber nenhum tipo de tratamento especial. Tudo o que queria era proteger Toda sensei e devotar-lhe minha vida. Essa era minha oração. Ficaria satisfeito se pudesse deixar um exemplo para as gerações futuras de como um verdadeiro discípulo de Josei Toda, um mestre sem igual, deveria conduzir sua vida.8
Comprovar a verdade e a justiça
Com a grande expansão das conversões no Distrito Osaka e em todo o Japão, muitos inimigos se levantaram contra a Soka Gakkai. Em 1957, Daisaku Ikeda foi para Hokkaido a fim de solucionar o incidente com o Sindicato dos Mineradores de Yubari, que promovia uma perseguição discriminatória contra os membros da organização. O fato culminou no Incidente de Osaka, quando, em 3 de julho de 1957, Ikeda sensei, com menos de 30 anos, foi preso injustamente sob a falsa acusação de fraude eleitoral.
Ao ser recepcionado no aeroporto, o presidente Ikeda disse para uma senhora que estava no local: “Está tudo bem. Como a senhora sabe, eu não fiz nada de errado. Não há com o que se preocupar”.9
Ele também comenta:
Doze anos mais tarde, em 3 de julho de 1957, eu, seu discípulo, segui orgulhosamente seus passos: fui preso por um crime que não cometi — uma perseguição enfrentada por propagar a Lei Mística.10
Interrogatórios do jovem Ikeda
Durante a prisão, o presidente Ikeda passou por diversos interrogatórios. Em 9 de julho de 1957, por exemplo, a promotoria o pressionou ainda mais para que admitisse a culpa. Repetidas intimidações foram feitas durante os intermináveis inquéritos.
A promotoria exigia que Ikeda admitisse a culpa com chantagens como “Faça logo com que o secretário Ikeda admita, senão faremos uma diligência nas empresas de Josei Toda e na sede da Soka Gakkai. E, conforme a situação, prenderemos o presidente Josei Toda”.11 Essa exigência foi apresentada a Daisaku Ikeda pelo advogado de defesa na manhã do dia 10 de julho. Na mesma noite, ele pensou:
A saúde do mestre é frágil. Não posso deixar Toda sensei morrer na prisão como aconteceu ao presidente Makiguchi. Não permitirei que ele seja preso! Devo minha vida a ele. Não importa o que aconteça, vou protegê-lo! Isso significaria descartar a verdade e mentir conforme o desejo do promotor. Não estaria desonrando conscientemente a estimada Soka Gakkai?12
O presidente Ikeda saiu da prisão no dia 17 de julho de 1957. Foram catorze dias em que sofreu pesados e intermináveis interrogatórios e, ao afirmarem que prenderiam o presidente Josei Toda, caso ele não confessasse o crime eleitoral, assinou uma confissão porque jamais deixaria seu mestre retornar injustamente para a prisão. Porém, determinou que faria justiça e provaria a verdade.
Naquela tarde, os membros de Kansai fizeram uma grande manifestação com protestos contra a polícia e a promotoria de Osaka. Apesar do temporal que caía sem tréguas, milhares de membros se reuniram no Centro Cívico de Nakanoshima e no entorno, no centro de Osaka. Na ocasião, o presidente Ikeda bradou corajosamente: “Vamos lutar com a convicção de que a justiça do budismo prevalecerá no final!”.13
“Daisaku, você tem uma longa batalha”
A primeira audiência no Tribunal de Osaka ocorreu em 8 de outubro de 1957. No total, 64 pessoas foram indiciadas no caso, formando dois grupos: um acusado de compra de votos e o outro de solicitação de votos de porta em porta.
Dos dez artigos de acusação relacionados no julgamento, Daisaku Ikeda foi acusado por todos os relacionados à solicitação de votos de porta em porta, e o diretor-geral da Soka Gakkai, Tadashi Koizumi, à compra de votos.
Em 5 de março de 1958, Ikeda sensei foi ao encontro do presidente Josei Toda para lhe informar sobre a viagem para Osaka, a fim de se apresentar ao julgamento. Acamado, Toda sensei descobriu o cobertor e lhe disse:
Daisaku, você está exausto, não está? Como está sua saúde? Você tem uma longa batalha pela frente. Gostaria de tomar seu lugar se pudesse. Você arcou com toda a culpa. É realmente uma pessoa de bom coração. (…) Este julgamento não será uma batalha fácil. Poderá perturbá-lo por mais algum tempo pela frente. Porém, você vencerá no final. Pelo fato de o ouro ser ouro, jamais perde seu brilho, não importa quão enlameado possa estar. Definitivamente, a verdade aparecerá. Apenas lute como homem — com dignidade e coragem.14
Em 2 de abril daquele ano, o presidente Josei Toda falece e, em meio a esse turbilhão, as audiências prosseguiam. Mais que nunca, o juramento do presidente Ikeda permanecia intacto.
“Toda sensei, vencemos”
Reprodução/Foto-RN176 Detalhe da cela em que Toda sensei foi preso com seu exemplar do Sutra do Lótus e seu juzu feito com tampinhas de garrafa. Josei Toda Mestre o Educador e Pacifista e o Segundo Presidente da Soka Gakkai – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Depois de 1.670 dias após a prisão, em 25 de janeiro de 1962, o juiz proferiu sua decisão: “A corte declara o réu, Daisaku Ikeda, inocente”.15
Durante uma viagem ao exterior, no Egito, o presidente Ikeda recebe o telegrama da sede da Soka Gakkai, informando que não houve apelação dos promotores, indicando a finalização do processo.
Os importantes fatos que envolveram a prisão dos três primeiros presidentes da Soka Gakkai deixam um legado de luta incondicional pela justiça e pela felicidade das pessoas, abrindo o caminho de coragem que os membros da Soka Gakkai Internacional (SGI) trilham pelo bem da humanidade.
No topo: ilustração retrata os três primeiros presidentes da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi (acima, à dir.), Josei Toda (acima, à esq.) e Daisaku Ikeda.
Notas:
- Terceira Civilização, ed. 384, ago. 2000, p. 31.
- Terceira Civilização, ed. 527, jul. 2012, p. 30.
- Ibidem.
- Ibidem.
- Ibidem.
- Ibidem.
- Brasil Seikyo, ed. 2.010, 7 nov. 2009, p. B4.
- Brasil Seikyo, ed. 1.947, 12 jul. 2008, p. A2.
- Terceira Civilização, ed. 529, set. 2012, p. 36.
- RDez, ed. 79, jul. 2008, p. 19.
- Terceira Civilização, ed. 530, out. 2012, p. 30.
- Ibidem.
- Brasil Seikyo, ed. 2.380, 22 jul. 2017, p. B3.
- O julgamento. Revolução Humana. In: Terceira Civilização, ed. 289, set. 1992, p. 2 e ed. 531, nov. 2012, p. 32.
- Terceira Civilização, ed. 531, nov. 2012, p. 32.