ROTANEWS176 E POR DELAS 07/03/2022 10:30 Por Daniela Ferreira
A doença afeta mais de 7 milhões de brasileiras; ginecologista explica sintomas e tratamento
Reprodução/Foto-RN176 Endometriose: pesquisa aponta que riscos são maiores para mulheres que trabalham à noite – Reprodução: Alto Astral
Você tem cólica? Qual é a intensidade dessa cólica? Quando ela é incapacitante, dentro e fora do período menstrual, pode ser sinal da endometriose, uma doença caracterizada pelo implante de um tecido semelhante ao que reveste a cavidade do útero, fora do útero.
Foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2021, um problema de saúde pública pela forma como interfere na qualidade de vida da mulher, já que, muitas vezes, ela não consegue sequer levantar da cama para o seus afazeres diários ou trabalhar. E ainda pode atrapalhar os sonhos de quem deseja ser mãe, pois é a principal causa da infertilidade feminina.
“A dor severa pode ser intensificada ainda na evacuação, na micção e nas relações sexuais, sendo a principal causa de dor pélvica e de absenteísmo na mulher. De 40 a 50% das adolescentes com cólicas incapacitantes podem sofrer de endometriose”, alerta o ginecologista Mauricio Abrão, professor de Ginecologia da FMUSP e o atual presidente da Associação Americana de Ginecologia Laparoscópica (AAGL).
A psicóloga Vânia Camanzi passou por isso. “Por muitos anos ouvi médicos dizendo que sentir dor era normal. Me receitaram anti-inflamatório, injeção para dor…e nada funcionava. Depois de muito tempo descobri que as dores eram da endometriose”, explica.
São 7 milhões de brasileiras sofrendo com o problema, segundo a OMS, sendo que em 2019, 11.790 precisaram de internação. Uma delas foi a enfermeira Tathiane Fátima Bastos da Cruz (38 anos), que começou com cólicas fortes aos 13 anos, desde a primeira menstruação, mas só foi diagnosticada portadora da doença aos 27.
“Estava tentando engravidar e acabei descobrindo a endometriose. Passei por nove cirurgias até 2019, sendo 5 videolaparoscopias e 4 laparotomias exploratórias, e em uma delas, acabei com uma perfuração no intestino. Foram cinco meses no hospital, ficando um mês em coma e dois meses na UTI. Saí em uma cadeira de rodas, tive que aprender a andar, escrever e me alimentar.”
“Com o intestino grosso totalmente removido, usei uma bolsa de colostomia, que foi retirada apenas em 2019, quando passei por uma cirurgia de reconstrução intestinal. Hoje, faço sondagens 4 vezes ao dia, com sonda específica, para evitar infecções urinárias, pois tenho uma lesão permanente na bexiga causada pela endometriose. É triste quando a pessoa acha que cólica é frescura. Não é”, confessa.
O que causa a endometriose?
As causas da endometriose são multifatoriais e não são totalmente esclarecidas, mas sabe-se que o tecido que reveste a cavidade do útero (endométrio) pode refluir de forma retrógrada pelas tubas uterinas e a baixa imunidade pode facilitar o implante deste tecido fora do útero. O problema é que o diagnóstico leva, em média, de 7 a 10 anos e precisa ser realizado com exame clínico, de acordo com as queixas, e com ultrassom especializado com preparo intestinal.
“A endometriose pode ser classificada como superficial, quando apresenta lesões com menos de 5mm de profundidade, principalmente no peritônio, camada que reveste internamente o abdômen. Como ovariana, com cistos a partir de meio centímetro, compostos por um líquido chamado de endometrioma ovariano.E, por fim, a profunda, que são lesões de mais de 5mm de profundidade com nódulos de vários tamanhos. Pode-se infiltrar em ligamentos, em vários órgãos da cavidade abdominal ou até mais distante”, conta Mauricio Abrão, que estuda a doença há mais de 30 anos e é o idealizador da nova classificação da endometriose, utilizada mundialmente desde novembro do ano passado.
Tratamento da endometriose
O tratamento vai depender da intensidade do problema e das queixas da paciente, mas pode ser pela prescrição de hormônios e analgésicos/anti-inflamatórios para tratar a dor.
“Essas medicações não reduzem o foco da doença, por isso, o acompanhamento com os exames de imagem periódicos é essencial e, se for o caso, a indicação da laparoscopia, cirurgia minimamente invasiva, para remoção dos focos”, explica o especialista, que é Coordenador do Setor de Ginecologia Avançada da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Vale lembrar que a endometriose não tem cura, mas quando muito bem tratada pode ser administrada. “Precisamos informar as mulheres sobre a doença. Quanto mais o diagnóstico demora, mais chances os focos têm de se espalharem e afetarem outros órgãos, como a bexiga e o intestino”, avisaAbrão.