ROTANEWS176 E POR ESTADÃO CONTEÚDO 28/06/2020 11h12 Por Julia Lindner
Carlos Alberto Decotelli informou que está disposto a fazer uma revisão na dissertação de mestrado após acusação
BRASÍLIA – Após uma série de questionamentos sobre a sua formação e produção acadêmica, o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, informou neste sábado, em nota, que vai mudar o currículo para “dirimir quaisquer dúvidas”. Ele comunicou que as acusações de suposto plágio na dissertação de mestrado não envolvem “dolo” de sua parte e que “quaisquer omissões” devem-se a “falhas técnicas ou metodológicas”, mas que está disposto a fazer uma revisão no trabalho.
SAIBA MAIS
Carlos Alberto Decotelli é o novo ministro da Educação
Decotelli não tem doutorado na Argentina, diz reitor
Aulas voltam escalonadas em SP a partir de 8 de setembro
Colégios vão priorizar ensino infantil e 3º ano do médio
Veja em detalhes o plano de retomada das aulas em São Paulo
Secretário de Educação do PR, Renato Feder, pode assumir MEC
Reprodução/Foto-RN176 Carlos Alberto Decotelli, novo ministro da educação Foto: MARCELLO CASALJR/AG~ENCIA BRASIL / Estadão
O ministro não diz em nenhum momento possuir pós-doutorado na universidade alemã Wuppertal, como mencionado em seu currículo referente ao período de 2015 a 2017. Neste caso, ele afirma que registrou um trabalho apoiado pela universidade em 2017, mas ressalta agora que “não recebeu títulos em decorrência desta pesquisa”. No Brasil, em geral, pós-doutorado não é considerado um título, mas exige conclusão de doutorado.
No documento, Decotelli alega que cursou inicialmente o doutorado em Administração na Universidade de Rosário, na Argentina, de 2 de outubro de 2007 a 7 de fevereiro de 2009. Ele foi aprovado em todas as disciplinas, mas não teve a defesa da tese de doutorado autorizada.
“Seria necessário, então, alterar a tese e submetê-la novamente à banca. Contudo, fruto de compromissos no Brasil e, principalmente, do esgotamento dos recursos financeiros pessoais, o ministro viu-se compelido a tomar a difícil decisão de regressar ao país sem o título de Doutor em Administração”, diz a nota sobre o período do ministro da Universidade de Rosário.
Apesar de admitir que não recebeu o título, até assumir o cargo de ministro Decotelli mantinha a formação no currículo. A informação acabou questionada publicamente pelo reitor da universidade, Franco Bartolacci.
Em seguida, ele afirma que “tendo trabalhado como professor de gestão de riscos em derivativos no agronegócio em vários cursos no Brasil, construiu um projeto de pesquisa intitulado ‘Sustentabilidade e Produtividade na automação de máquinas agrícolas'”.
O novo trabalho foi submetido, então, à Bergische Universitat Wuppertal, na Alemanha, que, de acordo com ele, aceitou “apoiar o projeto”, considerando, segundo ele, “a relevância do tema, a conclusão e a aprovação em todos os créditos obtidos no curso de Doutorado em Administração na Universidade de Rosário e seus 30 anos de atuação como conceituado professor no Brasil”. Ele ressalta, no entanto, que o trabalho não lhe rendeu títulos.
“A pesquisa, que foi orientada pela Dra. Brigitte Edith Ursula Wolf e pelo Dr. Siegfried Maser, foi concluída e publicada em 10 de outubro de 2017. Ressalta-se que, por questões de sigilo em relação aos dados da citada empresa, o acesso ao texto integral da pesquisa está disponível apenas por meio de visita presencial ao cartório de registros acadêmicos na cidade de Koln, na Alemanha. Em abril de 2017, recebeu documento que atesta o registro de seu trabalho. O ministro ressalta que não recebeu títulos em decorrência desta pesquisa”, continua o ministro, em nota.
Sobre as acusações de plágio na dissertação de mestrado apresentada em 2008 à Fundação Getúlio Vargas (FGV), Decotelli as classificou como “ilações”. “O ministro refuta as alegações de dolo, informa que o trabalho foi aprovado pela instituição de ensino e que procurou creditar todos os pesquisadores e autores que serviram de referência e cujo conhecimento contribuiu sobremaneira para enriquecer seu trabalho”, diz.
“O ministro destaca que, caso tenha cometido quaisquer omissões, estas se deveram a falhas técnicas ou metodológicas. Informa também que, ainda assim, por respeito ao direito intelectual dos autores e pesquisadores citados, revisará seu trabalho e que, caso sejam identificadas omissões, procurará viabilizar junto à FGV uma solução para promover as devidas correções”, acrescenta.
Em nota, a FGV informou que vai investigar a suspeita de plágio. “A Fundação Getúlio Vargas vai apurar os fatos referentes à denúncia de plágio na dissertação do Ministro Carlos Alberto Decotelli. A FGV está localizando o professor orientador da dissertação para que ele possa prestar informações acerca do assunto”, informou a instituição de ensino.