Momento BVD 6 – Vida e Morte (I)

ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO  28/11/2020 03:16

CADERNO DO BVD

A presente série, “Momento BVD (Budismo na Vida Diária)”, trata de temas do cotidiano com base nos ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin de forma sucinta. Apresenta, sempre, trechos dos escritos de Nichiren Daishonin acompanhados de explanações e orientações do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda. Essas matérias poderão ser utilizadas em diversas atividades da organização, em especial, nas reuniões de palestra. Naturalmente, uma pesquisa mais aprofundada poderá ser desenvolvida a partir de matérias publicadas nos diversos periódicos e livros da BSGI. Em particular, na Biblioteca de Materiais de Referência do DEB, poderão ser encontradas matérias correspondentes a cada tema na forma de explanações completas e trechos do romance Nova Revolução Humana.

Momento BVD 6:

Reprodução/Foto-RN176 Imagem virtual de ilustração

Vida e Morte

A questão da vida e da morte é sempre algo que desperta ao menos muita curiosidade a todos. Diversos fatores trazem dúvidas e natural temor para as pessoas, independentemente de sua posição socioeconômica, do grau de escolaridade, da idade, e outros. A única coisa evidente para qualquer um é que a morte é certa e representa irremediavelmente o fim de um ciclo. Mas, como enfrentá-la, em especial a perda de pessoas próximas e de entes queridos? Como encarar a própria morte?

A elevada filosofia de vida do Budismo de Nichiren Daishonin oferece uma visão concreta sobre essa questão complexa da vida e da morte. Essa visão não se restringe apenas aos aspectos teórico e filosófico, mas algo que, acima de tudo, proporciona coragem e esperança em vida.

No pequeno trecho do escrito O Inferno é a Terra da Luz Tranquila a seguir, Nichiren Daishonin encoraja uma seguidora que havia perdido o esposo, supostamente há quase dez anos, deixando-lhe nove filhos pequenos para criar, sempre com base em profundos princípios do budismo.

Escrito de Nichiren Daishonin

O Inferno é a Terra da Luz Tranquila

O número de homens com quem a senhora trocou votos de matrimônio durante todas as suas existências passadas deve superar até mesmo os grãos de areia do oceano. No entanto, desta vez, esses votos foram trocados com seu verdadeiro marido. Isso porque, por meio do incentivo dele, a senhora veio a se tornar uma praticante do Sutra do Lótus. Assim, deve reverenciá-lo como um buda. Quando estava vivo, ele era um buda em vida, e agora é um buda em morte. Ele é um buda tanto em vida quanto em morte. Esse é o significado da doutrina fundamental chamada atingir o estado de buda na forma que se apresenta.1 O quarto volume do Sutra do Lótus afirma: “Se uma pessoa for capaz de manter este [sutra], ela estará mantendo o corpo do buda” [LS, cap. 11, p. 180]. (CEND, v. I, p. 477)

Resumo e Cenário Histórico

No quinto mês do décimo primeiro ano de Bun’ei (1274), Nichiren Daishonin deixou Kamakura para viver numa pequena cabana no sopé do Monte Minobu. No sétimo mês do mesmo ano, ele escreveu esta carta para a viúva de Nanjo Hyoe Shichiro, também conhecido como Ueno. Essa senhora era mãe de Nanjo Tokimitsu, o qual sucedeu ao pai como administrador da vila de Ueno, província de Suruga. Após a morte do marido, em 1265, essa mãe dedicada e sincera seguidora de Nichiren Daishonin criou sozinha os nove filhos. Ela fizera vários oferecimentos a Daishonin por ocasião da cerimônia do décimo aniversário de falecimento do marido. Nessa carta, Daishonin expressa sua gratidão pela preocupação e devoção dessa seguidora.

Explanação do presidente da SGI

Tanto a vida como a morte estão imbuídas de alegria

Nichiren Daishonin afirma: “Quando estava vivo, ele era um buda em vida, e agora é um buda em morte” (CEND, v. I, p. 477). O grande ensinamento de Nichiren Daishonin nos possibilita atingir o estado de buda nesta existência e passar pelo ciclo eterno de nascimento e de morte com total liberdade e infinita esperança.

Se nossa vida for repleta de alegria, assim também será nossa morte. E se nossa morte for cheia de júbilo, da mesma forma será nossa próxima existência. Daishonin ensina que o ciclo de nascimento e de morte é uma sucessão ininterrupta de alegria, e que a essência da vida está em nos dedicarmos a fazer dessa alegria nossa realidade e ajudar os outros a fazer o mesmo.

O Inferno é a Terra da Luz Tranquila é uma carta endereçada à monja leiga de Ueno, viúva de Nanjo Hyoe Shichiro. Há divergências entre os estudiosos a respeito da data em que a carta foi escrita. Alguns dizem ter sido redigida imediatamente após a morte de Hyoe Shichiro, em 1265. Outros acreditam que tenha sido escrita em 1274, quando Daishonin voltou da Ilha de Sado e foi viver no Monte Minobu, retomando a correspondência assídua com a família Nanjo.

O primeiro membro da família Nanjo a se converter aos ensinamentos de Nichiren Daishonin foi Hyoe Shichiro. Vassalo do xogunato de Kamakura e discípulo muito estimado por Daishonin, Shichiro faleceu em 1265 devido a uma grave doença. Seguiu com sinceridade as orientações do seu mestre e manteve a fé na Lei Mística até o fim da vida. Os familiares de Shichiro prosseguiram com a prática budista, sustentando a mesma pureza.

Quando Hyoe Shichiro faleceu, o segundo filho, Tokimitsu2 — que se tornou o chefe da família — tinha apenas 7 anos. Nessa época também, a esposa de Hyoe Shichiro estava esperando o quinto filho [homem]. Certamente a dor pela perda do marido foi muito grande. Porém, ela deixou de lado o próprio sofrimento para proteger e criar sozinha os filhos.

Nichiren Daishonin sentiu a tristeza incontida que havia no coração daquela mãe e a encorajou com o sincero desejo de lhe aliviar o sofrimento. Nessa carta, ele comenta que mesmo que ela conseguisse ver o falecido marido em sonhos, no mundo real estava impossibilitada de manter qualquer comunicação com ele. Daishonin ressalta que, do ponto de vista do budismo, Hyoe Shichiro está na terra pura do Pico da Águia, zelando constantemente pela família. E lhe assegura que, no final, ali se reencontrarão.

Com profundo afeto, Daishonin conforta a monja leiga de Ueno, dizendo-lhe que todos os que compartilham os laços da fé — os companheiros praticantes, os familiares ou os amigos —, sem falta, voltarão a se encontrar.

A terra pura do Pico da Águia é o eterno “lar” da vida

A terra pura do Pico da Águia, da qual Nichiren Daishonin fala, certamente não se refere a nenhum reino lendário como o paraíso ocidental chamado Terra Pura da Perfeita Felicidade,3 exposto pela escola budista Terra Pura (Nembutsu). Simplesmente, a terra pura do Pico da Águia representa o estado de buda do universo. Nos escritos de Nichiren Daishonin, lemos estas palavras: “o corpo e a mente dela permeiam todo o mundo dos fenômenos num único momento”.4 A vida de uma pessoa que falece, tendo praticado firmemente a Lei Mística, entrará em fusão com o estado vasto e ilimitado do universo e será permeada por uma grande alegria. O presidente Josei Toda dizia que isso era “entrar em fusão com o estado de buda do universo”.

Nos escritos de Nichiren Daishonin, frequentemente lemos trechos como “Vamos nos reencontrar na terra pura do Pico da Águia” (CEND, v. I, p. 623) e “Sem falta, tanto a mãe como o filho vão para a terra pura do Pico da Águia” (WND, v. II, p. 964).

A terra pura do Pico da Águia representa o estado de buda que pode ser atingido por todos os que mantêm a fé na Lei Mística até o fim da vida. Ali, mestre e discípulo, companheiros de fé, pais e filhos, cônjuges, familiares e todos os que estão unidos por profundos laços de vida, podem celebrar um jubiloso reencontro.

Procedentes do estado de buda universal, os bodisatvas da terra, aparecem neste mundo saha cheio de problemas para cumprir a missão de conduzir os seres humanos à iluminação. Depois de cumprir a missão na vida, regressam uma vez mais ao estado de buda do universo — à terra pura do Pico da Águia. Esse é o “lar” eterno — na profunda dimensão da vida — dos corajosos bodisatvas da terra, consagrados a propagar amplamente a Lei Mística. Um “lar” habitado por companheiros do tempo sem início.

Ser um “buda em vida” significa evidenciar nosso estado de buda inato com base nessa consciência, e nos levantarmos com coragem no palco de nossa missão, sem nos afastar da dura realidade cotidiana, não só pela felicidade pessoal, mas também pela felicidade dos demais. Ser um “buda na morte” significa entrar no caminho eterno da infinita alegria da Lei5 depois de ter cumprido a missão nesta existência, e empreender a viagem seguinte pelo caminho do bodisatva para continuar cumprindo o juramento de conduzir as pessoas à iluminação.

O propósito desta existência é desenvolver elevada condição de vida, por meio da qual possamos sentir verdadeiramente que somos budas em vida e na morte e que tanto uma condição como a outra estão imbuídas de alegria. Em outras palavras, cada momento desta existência é uma luta para consolidar essa condição de vida.

Nesse escrito, Nichiren Daishonin cita uma passagem do Sutra do Lótus: “Se uma pessoa for capaz de manter este [sutra], ela estará mantendo o corpo do buda”.6 Tal como essa passagem declara, Nanjo Hyoe Shichiro entrou no caminho eterno do nascimento e da morte no mundo do estado de buda porque perseverou na prática budista e estabeleceu, ao longo de sua existência, essa elevada condição de vida. Daishonin tranquiliza a monja leiga de Ueno com essas palavras. É como se estivesse dizendo a ela: “Seu falecido marido é, com absoluta certeza, um buda, tal como o Sutra do Lótus afirma”; “Seu marido venceu! Agora é a vez de a senhora vencer!”.

Trechos do romance Nova Revolução Humana

NRH, cap. “Atsuta”, v. 26, p. 62-67

Ele decidiu discorrer sobre a visão budista de vida e morte em seu discurso na solenidade.

Leu um trecho do escrito de Nichiren Daishonin O Inferno é a Terra da Luz Tranquila: “Quando estava vivo, ele era um buda em vida, e agora é um buda em morte. Ele é um buda tanto em vida como em morte. Esse é o significado da doutrina fundamental chamada atingir o estado de buda na forma que se apresenta. O quarto volume do Sutra do Lótus afirma: ‘Se uma pessoa for capaz de manter este [sutra], ela estará mantendo o corpo do buda’” (CEND, v. I, p. 477).

Com grande convicção, deu início à sua explanação:

— Esta passagem consta em uma carta que Nichiren Daishonin escreveu para a monja leiga Ueno, mãe de Nanjo Tokimitsu, conhecida como “Ueno, o Reverenciável”, e esposa de Nanjo Hyoe Shichiro. Depois da morte do marido, a monja leiga Ueno criou de maneira esplêndida seus nove filhos e manteve a fé com pureza de coração. Nessa parte, Daishonin afirma que, quando o marido dela estava vivo, ele era “um buda em vida”, e agora, após a sua morte, ele é “um buda em morte”. Ele era um buda tanto na vida como na morte. Por quê? Porque todos nós, que surgimos neste mundo para realizar o kosen-rufu, somos os verdadeiros discípulos de Nichiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei; somos bravos bodisatvas da terra. O fato de termos firmado o mesmo grande juramento que Daishonin de propagar o Sutra do Lótus e de estarmos nos empenhando em prol do kosen-rufu e da felicidade do próximo é prova de que somos budas e bodisatvas da terra. Isso porque somente budas e bodisatvas da terra podem efetuar o sagrado trabalho do kosen-rufu. Sentir imensurável em realizar atividades da Soka Gakkai, em compartilhar este budismo com os outros, em recitar Nam-myoho-renge-kyo; transbordar entusiasmo por assumir novos desafios e sentir que a vida, em si, é alegria — essa é a condição de vida do estado de buda, de um “buda em vida”.

As pessoas reunidas para a cerimônia em memória dos falecidos ouviam atentamente a explanação de Shin’ichi Yamamoto.

Ele prosseguiu:

— Todos enfrentaremos a morte um dia. Porém, a vida, em si, é eterna. Nossa vida não desaparece, mas se torna latente dentro do universo. É como dormir depois dos afazeres de um dia. Quando chega o momento certo, a vida retorna mais uma vez a um estado ativo. A lei de causa e efeito continua operando em nossa vida mesmo após morrermos, pelas “três existências” — passado, presente e futuro. Sendo assim, o carma, a boa sorte, a missão e a condição existencial que alcançamos nesta vida permanecem inalterados. Aqueles que se dedicaram ao kosen-rufu, manifestando os mundos de bodisatva e de buda, tornam-se “budas em morte”. Quando vivos, somos budas em vida, e quando morremos, somos budas em morte. É a isso que Nichiren Daishonin se refere como “doutrina fundamental chamada atingir o estado de buda na forma que se apresenta” (CEND, v. I, p. 477). Daishonin prossegue, citando a passagem do 11º capítulo do Sutra do Lótus, “Surgimento da Torre de Tesouro” do Sutra do Lótus: “Se uma pessoa for capaz de manter [este sutra], ela estará mantendo o corpo do buda” (LSOC, cap. 11, p. 220). O único requisito para se atingir o estado de buda nesta existência é abraçar e manter a Lei Mística e persistir com fé absoluta.

Material de apoio:

Leia mais:

Biblioteca de Materiais de Referência: Tema de Estudo 5 – Vida e Morte I.

Diálogo sobre Religião Humanística, v. 3, cap. 19.

 

Notas:

  1. Atingir o estado de buda na forma que se apresenta: Significa manifestar o estado de buda tal como cada indivíduo é, sem ter de se descartar do corpo e da identidade como ser humano. De acordo com outros ensinamentos, exceto o Sutra do Lótus, uma pessoa somente pode atingir o estado de buda depois de ter praticado durante um período incrivelmente longo, por incontáveis existências, e cortando todo vínculo com os “nove mundos”. Mas o Sutra do Lótus ensina que é possível atingir o estado de buda tal como cada um é, como pessoas comuns. Esse princípio costuma ser ilustrado por meio do exemplo da filha do rei dragão que, de acordo com o capítulo 12, “Devadatta”, do Sutra do Lótus, atingiu a iluminação num instante, sem mudar a forma de dragão, por meio do poder benéfico da Lei Mística.
  2. Nanjo Tokimitsu (1259–1332): Seguidor leigo de Nichiren Daishonin e segundo filho de Nanjo Hyoe Shichiro. Além de apoiar seu mestre, Tokimitsu auxiliou Nikko Shonin, o sucessor imediato de Nichiren Daishonin, nas atividades de propagação na área Fuji. Também protegeu os seguidores de Nichiren Daishonin durante a Perseguição de Atsuhara, iniciada em 1278.
  3. Terra Pura da Perfeita Felicidade: Terra situada a oeste, descrita nos sutras da escola Terra Pura. Segundo esse sutra, está localizada a uma distância de “dez bilhões de terras do buda a oeste”, onde vive Amida.
  4. Uma passagem de Anotações sobre “Grande Concentração e Discernimento”, de Miaole. Pelo fato de os dez mundos na totalidade, e todos os três mil mundos, existirem originalmente na vida das pessoas em cada momento, quando elas atingem o estado de buda, de acordo com esse princípio, o corpo e a mente delas permeiam o mundo dos fenômenos e elas atingem uma condição de completa liberdade. Leia em CEND, v. I, p. 384.
  5. Infinita Alegria da Lei: A felicidade suprema e ilimitada do Buda, o benefício da Lei Mística.
  6. Sobre essa passagem do capítulo 11, “Surgimento da Torre de Tesouro”, do Sutra do Lótus, Nichiren Daishonin afirma no Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente: “Manter o Sutra do Lótus é sustentar a crença de que nosso corpo é o corpo do Buda. (…) Manter o corpo do Buda significa sustentar a crença de que fora do nosso corpo o Buda não existe. Em outras palavras, o mortal comum, no nível em que se é um buda em teoria, não difere do Buda no nível da iluminação suprema” (OTT, p. 96-97).