Momento BVD 7 – Vida e Morte (II)

ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 05/12/2020 02:30

CADERNO  BVD

Reprodução/Foto-RN176 Imagem virtual de ilustração – Editora Brasil Seikyo – BSGI

A presente série, “Momento BVD (Budismo na Vida Diária)”, trata de temas do cotidiano com base nos ensinamentos do Budismo de Nichiren Daishonin de forma sucinta. Apresenta, sempre, trechos dos escritos de Nichiren Daishonin acompanhados de explanações e orientações do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda. Essas matérias poderão ser utilizadas em diversas atividades da organização, em especial, nas reuniões de palestra. Naturalmente, uma pesquisa mais aprofundada poderá ser desenvolvida a partir de matérias publicadas nos diversos periódicos e livros da BSGI. Em particular, na Biblioteca de Materiais de Referência do DEB, poderão ser encontradas matérias correspondentes a cada tema na forma de explanações completas e trechos do romance Nova Revolução Humana.

Momento BVD 7

Vida e morte II — “Esplêndido lugar no momento da morte”

Neste trecho do escrito As Quatorze Calúnias, Nichiren Daishonin orienta seu discípulo sobre a postura correta da prática da fé. Aqui, o ponto importante é justamente a atitude de persistir na fé até o último momento da vida.

Daishonin nos mostra como superar o temor da morte que é algo desconhecido para as pessoas. Afirma que a persistência na prática da fé até o fim nos conduz a um “esplêndido lugar” no momento da morte.

Portanto, ao estudarmos este trecho do escrito com base nas explanações do presidente Ikeda, é fortemente desejável que renovemos nossas decisões de prosseguir na caminhada da fé, tanto para nós como para outros, empenhando-nos em prol do kosen-rufu, até o fim da nossa vida. Com isso, Daishonin nos assegura um mundo de plena felicidade.

Escrito de Nichiren Daishonin

As Quatorze Calúnias

Persista em sua prática até o último momento da vida; e quando este momento chegar, observe com atenção! Quando escalar [rapidamente ascenderem a] a montanha da perfeita iluminação1 e contemplar ao redor em todas as direções, verá com grande surpresa que o mundo dos fenômenos é a Terra da Luz Tranquila.2 O chão será de lápis-lazúli, e os oito caminhos3 estarão delimitados por cordões de ouro. Quatro tipos de flores4 cairão dos céus e música ecoará no ar. Todos os budas e bodisatvas estarão presentes, expressando a mais perfeita alegria, acariciados pelas brisas da eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.5 Aproxima-se o momento em que nós também nos juntaremos a eles [e nos deleitaremos em total liberdade e tranquilidade]. No entanto, se tivermos uma fé fraca, jamais chegaremos a esse esplêndido lugar.6 (CEND, v. II, p. 18)

Resumo e Cenário Histórico

Esta carta foi escrita no final de 1276, em resposta ao sacerdote leigo Matsuno Rokuro Saemon. Quatro pessoas de sua família receberam cartas de Nichiren Daishonin: o próprio Matsuno, sua esposa, seu filho e sua nora. Uma das filhas do sacerdote leigo se casou com Nanjo Hyoe Shichiro e deu à luz Nanjo Tokimitsu, o qual veio a se tornar firme defensor de Daishonin e de seu discípulo Nikko. Acredita-se que Matsuno tenha se convertido aos ensinamentos de Nichiren Daishonin graças à ligação que mantinha com a família Nanjo.

Nesse escrito, Daishonin elucida sobre as quatorze calúnias. As dez primeiras das quatorze calúnias referem-se às atitudes e às ações com relação à Lei, ou seja, os ensinamentos do Buda; as quatro últimas, à postura e às ações com respeito às pessoas que creem na Lei e a praticam.

Na parte final da carta, Daishonin instrui Matsuno sobre a forma que um leigo deve praticar persistentemente seu ensinamento até o último momento da vida.

Explanação do presidente da SGI

Uma sublime condição em que se sente alegria na vida e na morte

Como será o momento da morte para aqueles que perseveram na prática budista com sólida fé até o último instante? No escrito As Quatorze Calúnias, Nichiren Daishonin explica que eles serão saudados por um mundo de indestrutível felicidade e tranquilidade, o qual se desenrola em sintonia com o ritmo da lei da vida absoluta.

Como expõe Daishonin ao afirmar “Quando escalar a montanha da perfeita iluminação” (CEND, v. II, p. 18), aqueles que recitam Nam-myoho-renge-kyo e dedicam a vida ao kosen-rufu alcançarão imediatamente um maravilhoso estado de total paz e tranquilidade que permeará as “três existências” — passado, presente e futuro.

Olhando para as quatro direções, veremos “com grande surpresa”, diz ele, que o universo inteiro é a Terra da Luz Tranquila, onde o chão é pavimentado com pedras preciosas, chovem flores do céu, e melodias fascinantes ressoam pelo ar. É um mundo em que podemos nos deleitar à vontade, com todos os budas e bodisatvas, afirma ele, acrescentando que se aproxima o momento em que vivenciaremos essa feliz experiência (cf. CEND, v. II, p. 18).

No ciclo da vida e da morte no mundo do estado de buda, esse é o aspecto da morte, também descrito como a terra pura do Pico da Águia.

Se estabelecermos solidamente o mundo do estado de buda em nossa presente existência, a morte não mais será assustadora. Nossa próxima existência também será de felicidade e de liberdade. Nas asas da fé, podemos voar serenamente para aquele “esplêndido lugar” (Ibidem), o mundo da felicidade perene, a Terra da Luz Eternamente Tranquila que sempre existiu.

Daishonin reitera isso várias vezes em seus escritos, por exemplo:

Se [seu marido] tivesse que partir neste exato momento para [a terra pura] o Pico da Águia, iria se sentir tão feliz como se o Sol tivesse surgido e ele pudesse ver em todas as dez direções. Cheio de júbilo, perguntaria a si mesmo como uma morte prematura poderia ser algo tão feliz. (CEND, v. II, p. 203)

Quando estava vivo, ele [seu finado marido] era um buda em vida, e agora é um buda em morte. Ele é um buda tanto em vida como em morte. (CEND, v. I, p. 477)

Ao nos alinharmos com a Lei Mística, experimentaremos tanto a vida como a morte com plena alegria. A passagem de As Quatorze Calúnias que estamos estudando menciona as “brisas da eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza” (CEND, v. II, p. 18). Não se referem aos tristes ventos da impermanência de todos os fenômenos, mas dos perfumados ventos da felicidade indestrutível.

O Buda primeiro ensinou que a vida é marcada pelo sofrimento, pelo vazio, pela impermanência e pelo não eu (cf. CEND, v. I, p. 767), instigando as pessoas a extirpar os apegos em relação a este mundo transitório e a se libertar dos sofrimentos de nascimento e morte. Mas se tratava apenas de um meio apropriado. Nos ensinamentos do Mahayana, o Buda revela a verdade essencial da vida como algo caracterizado pela eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.

Vidas imbuídas de alegria pelas três existências emergirão novamente depois da morte e retomarão suas atividades num novo palco, na próxima existência. Renascerão “muito rápido (…) para conceder livremente os benefícios aos seres vivos em toda a parte” (WND, v. II, p. 860), e poderão “escolher livremente onde renascerão” (LSOC, cap. 10, p. 202).

Essa é a condição de vida do estado de buda, originalmente intrínseca, eterna e perene, que exala a fragrância das “quatro nobres virtudes” — eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.

Trechos do romance Nova Revolução Humana

NRH, cap. “Retorno do Budismo para o Oeste”, v. 3, p. 45, 46 e 47

— Se tiverem algo que desejam ouvir, perguntem­me sem acanhamentos — sugeriu Shin’ichi.

Tão logo ele terminou de falar, uma senhora se manifestou:

— Quando eu comecei a praticar o budismo, ouvi dizer que a vida é eterna, mas o que realmente acontece com as pessoas após a morte?

(…)

— É uma questão de suprema importância. Desvendar os mistérios da morte é fundamental para todas as pessoas e religiões. Como é um assunto bastante extenso, irei expor só pontos essenciais. Muitos acreditam que a vida se limita à existência atual. Se não for eterna, surge a questão da desigualdade das condições entre as pessoas desde o nascimento. Algumas crianças nascem no Japão, em Hong Kong ou na América, em países em guerra ou assolados pela fome e miséria. Umas nascem em famílias ricas, outras em condições paupérrimas, com doenças incuráveis ou sofrendo de deficiências físicas e mentais. As circunstâncias em que nascemos e nossa aparência são muito diversificadas. A única explicação é que todos os seres humanos são portadores de um destino inato na vida. Se um deus onipotente os tivesse criado, então todos seriam iguais. Se a vida fosse restrita a uma única existência, quem nasceu sob a estrela do infortúnio não conseguiria evitar o ódio pelos pais, e os culpariam, assim como não teriam ânimo para viver. E outros, nascidos em boas condições, chegariam à conclusão de que deveriam simplesmente aproveitar a vida e seguiriam por um caminho inconsequente e superficial. Se limitarmos a tentativa de investigar a fundo a origem desses destinos a uma única existência, isso não nos levará a lugar algum. A única maneira de explicar esta questão é com a visão de que a vida é eterna, com infindáveis ciclos de nascimento e morte.

(…)

Com relação à questão da vida após a morte, a resposta é que a vida se funde com o universo. O presidente Josei Toda comparou esse estado com o ato de dormir no final do dia. Despertar do sono para um novo dia equivale à existência futura. A vida é, portanto, uma sucessão desses atos. O importante aqui é que o carma não desaparece com a morte e continuará pela próxima existência. Se morrer em meio a um extremo sofrimento e infortúnio, na existência seguinte enfrentará as mesmas dificuldades. Se morrer odiando os outros, nascerá num ambiente em que terá de viver detestando as pessoas. Não há como fugir do destino mesmo com a morte. Não é possível libertar-se dos sofrimentos mesmo que se cometa suicídio. Por outro lado, se estabelecer um estado de felicidade e encerrar a vida com plena satisfação, nascerá num bom lugar na próxima existência e poderá novamente seguir pelo curso da felicidade. Poderá surgir quem prefira não nascer mais e ficar dormindo eternamente para não ter de suportar sofrimento na próxima existência. Contudo, isso é impossível. Mesmo que a vida se encontre no estado de fusão com o universo antes do nascimento, sentirá seus sofrimentos, semelhante aos pesadelos que nos afligem quando estamos com um grande problema ou preocupação.

Shin’ichi foi explicando a questão da vida e da morte de maneira simples e compreensível.

As filosofias e pensamentos da atualidade estão muito focadas no presente. Isso equivale a ver uma planta brotando no solo e ignorar sua raiz. Por essa razão, elas não conseguem visualizar o caminho que oferece soluções básicas para os sofrimentos do ser humano.

NRH, cap. “A Dança da Vida”, v. 12, p. 197

O marido era para Takako um companheiro nessa batalha que ambos empreendiam e um parceiro com o qual ela havia percorrido, um ao lado do outro, o caminho do kosen-rufu. Mas agora ele se fora. Num dia de neve em fevereiro daquele mesmo ano, ele falecera devido aos ferimentos sofridos num acidente de carro. Seu semblante na morte era o de uma pessoa que estava dormindo tranquilamente. Ele havia deixado quatro filhos; o mais velho estava com 18 anos de idade.

Quando Takako Kubokawa perdeu o marido, perdeu também o principal pilar de apoio emocional. Mas ela saiu das profundezas do sofrimento dizendo para si mesma: “Se eu ficar triste, ele também ficará. Mesmo com fé, a vida é cheia de dificuldades e de momentos de tristeza. O ponto principal desta prática é não sermos derrotados por eles. A partir de agora, vou me empenhar em prol do kosen-rufu por nós dois. E criarei nossos quatro filhos para que se tornem excelentes adultos e conquistem a genuína felicidade”.

A fé nos proporciona a energia vital para vencer os sofrimentos e as dificuldades.

NRH, cap. “Brisa Suave”, v. 25, p. 200-201

Depois da recitação, Shin’ichi discorreu sobre a clareza do Budismo Nichiren ao explanar a realidade da vida e da morte, da perspectiva budista da eternidade da vida, que se estende pelas “três existências” — passado, presente e futuro.

— Nossa vida é eterna, prosseguindo desta existência para a próxima e a seguinte. Nossas ações nesta existência determinam nossa recompensa ou punição cármica nas outras que se seguirão. Ou seja, a continuidade da vida, sem início nem fim, é governada pela lei de causa e efeito.

— Aqueles que abraçam o Gohonzon e praticam com forte fé na presente existência criam uma causa para atingir o estado de buda novamente nas existências subsequentes. Se, por outro lado, caluniarem a Lei nesta existência, então, como ensinou Daishonin, estarão criando uma causa para a miséria futura. Se a pessoa se dedicar à felicidade dos outros nesta vida e se mantiver fiel à sua missão em relação ao kosen-rufu, não obstante quanto sofrimento possa experimentar, ou mesmo que perca sua vida no decorrer de alguma grande perseguição, ela infalivelmente atingirá o estado de buda nas existências futuras.

Compreender que a vida persiste pelas “três existências” — passado, presente e futuro — possibilita que estabeleçamos valores verdadeiros, uma sólida visão da vida e ética genuína.

Material de apoio:

Leia mais:

Biblioteca de Materiais de Referência: Tema de Estudo 6 — Vida e Morte II.

Diálogo sobre Religião Humanística, v. 3, cap. 19.

Notas:

  1. A perfeita iluminação constitui o último e mais elevado dos 52 estágios da prática do bodisatva, ou o estado de buda. É o estágio no qual se erradica a escuridão fundamental.
  2. Terra da Luz Tranquila: Também conhecida como Terra da Luz Eternamente Tranquila. Terra do buda, livre da impermanência e impureza. Em muitos sutras, o mundo real saha onde vivem os seres humanos também é descrito como terra impura repleta de ilusões e sofrimentos, ao passo que a terra do buda é retratada como um lugar puro livre desses fatores e muito distante deste mundo saha. Em contraste, o Sutra do Lótus revela que o mundo saha é a terra do buda, ou a Terra da Luz Eternamente Tranquila, e explica que a natureza de uma terra é determinada pela mente daqueles que o habitam.

3.Os oito caminhos levam a oito direções, ou seja, aos oito pontos da bússola.

4.Quatro tipos de flores: Mandarava, grande mandarava, manjushaka, grande manjushaka. Perfumadas flores vermelhas e brancas que, de acordo com a tradição indiana, florescem no céu.

5 Eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza são conhecidos como as “quatro virtudes”. Descrevem as nobres qualidades da vida do buda. “Eternidade” significa imutável e eterno; “felicidade” indica tranquilidade que transcende todos os sofrimentos; “verdadeiro eu” refere-se à natureza verdadeira e intrínseca; e “pureza” quer dizer livre de ilusões ou condutas errôneas.

6. As Quatorze Calúnias: Escrito datado do décimo segundo mês de 1276, endereçado ao sacerdote leigo Matsuno Rokuro Saemon. Nele, Nichiren Daishonin afirma que o benefício da recitação do Nam-myoho-renge-kyo com fé na Lei Mística é o mesmo, independentemente do fato de se tratar de um sábio ou um mortal comum não iluminado. Além disso, ele observa que caluniar os praticantes do Sutra do Lótus constitui uma ofensa grave. Por intermédio da história do menino Montanhas de Neve, Daishonin incentiva seus discípulos a recitar Nam-myoho-renge-kyo com total dedicação e a propagar a Lei Mística