ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 10/03/2023 14:05 CADERNO ESPECIAL DA JBS
Integrantes da BSGI na região afetada contam os desafios vividos
Reprodução/Foto-RN176 Neusa e Gilberto Nardo, ao lado, superam momentos difíceis com base na recitação do daimoku
Moramos numa propriedade rural próxima à praia de Camburi. No dia 19 de fevereiro, meu marido, Gilberto, e eu estávamos em casa. Por volta das 22 horas, começou a chover sem parar e com muita intensidade. Meu marido, que é músico, foi se deitar para descansar, pois tinha um evento no dia seguinte.
Fiquei na sala acompanhando as notícias de um grupo local de troca mensagens e elas eram preocupantes, com alguns moradores já passando dificuldades por causa da enchente.
Entrei em contato com minha filha e ela disse que o restaurante em que trabalhava já estava alagado. Por isso, ela se encontrava em outro lugar aguardando um momento mais seguro de voltar para casa. E na residência do meu filho, próxima à praia vizinha, a água já estava entrando pelo quintal.
Por volta das 3 horas da madrugada, a chuva continuava forte. Meu marido e eu estávamos recitando daimoku, com o som intenso da água batendo no telhado. Eram barulhos em volta da casa que nunca havia ouvido. Meu coração batia acelerado. Sentia a terra, o céu e o mar se agitando ao mesmo tempo e intensificamos a oração.
Fiquei acordada até o amanhecer. Ao clarear, fui à varanda e não consegui conter o choro. O caos estava instalado. Dentro de casa nada aconteceu, porém, em volta dela havia muita água, lama, troncos e pedras, que obstruíam uma parte do nosso acesso. Mas outra parte dos detritos tinha sido desviada para um córrego ao lado, não causando tantos estragos.
Fui até o portão de casa e, na rua, existia uma fila de pessoas, mas não entendi para que finalidade. E logo soube que as filas já se formavam nos mercados e muitas vias estavam obstruídas por árvores e lama.
Em seguida, visitei as pessoas mais próximas de bicicleta ou a pé. Verifiquei que os membros que moravam perto e alguns vizinhos estavam ilesos.
Não consegui contatar meus filhos por um tempo, mas meu coração dizia que eles estavam bem. Depois de três dias, utilizando o sinal de Wi-Fi fornecido por um estabelecimento de comércio local, aos poucos, consegui mandar e receber notícias de familiares, membros e amigos. Algumas pessoas conhecidas tiveram prejuízos materiais, mas o mais importante é que todos estavam bem, e sou muito grata por isso.
Neusa David Nardo, responsável pela DF do Bloco Camburi
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Em meio aos acontecimentos, tive um momento de muita alegria e emoção quando chegaram à nossa casa os líderes da BSGI da localidade, pessoas que admiro muito. O abraço deles foi muito reconfortante, trazendo mantimentos para um membro da Divisão Sênior do nosso bloco, morador de um local em que a água chegou até a altura do peito.
Queriam ir pessoalmente à casa dele naquele momento, porém um novo temporal ameaçava cair e me preocupei com a segurança deles. Além disso, iriam visitar outras pessoas naquele dia. Por isso, eu me ofereci para levar as provisões no dia seguinte. Todas as visitas foram feitas com sucesso. Bravos!
Gilberto Nardo, responsável pelo Bloco Camburi
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Acordei com o telefone tocando às 6h30. Era dia 19 de fevereiro e havia chovido muito desde a noite anterior. Fui informada de que uma barreira havia caído na estrada e o acesso ao hotel em que trabalho estava difícil. Moro na região norte de Ilha Bela, assim como a maioria dos colaboradores do estabelecimento, e o hotel se localiza ao sul.
Logo me recordei de que, em 2014, quando residia próximo à praia de Maresias, em São Sebastião, também aconteceu uma grande enchente. Passei aquele dia dentro do outro hotel em que trabalhava na época, no piso superior, junto com os hóspedes, enquanto via o piso térreo sendo coberto pela água, que levava tudo. Por essa razão, quis ir rapidamente ao meu local de trabalho atual.
Liguei para outros dois colaboradores que moram do lado sul da ilha e solicitei a ajuda deles para que fossem ao hotel verificar como estava a situação. Lá, encontraram a recepção, o salão de café da manhã, a cozinha e a lavanderia cheios de água e lama. Solicitei que começassem a puxar a água com rodos, junto com o vigia que lá estava. O hotel é grande e estava lotado, mas, naquele momento, só havia três pessoas para limpar tudo. Logo os hóspedes iriam acordar para tomar o café da manhã.
Recitando daimoku mentalmente, liguei para minha mãe e pedi que ficasse com meu filho naquele dia. Acordei-o e, nesse meio-tempo, o vigia me telefonou para dizer que a estrada havia sido liberada. Deixei meu filho na casa da minha mãe e fui para o trabalho, sempre recitando daimoku. Na estrada, havia vários obstáculos, como árvores caídas, pedras, água e lama. Como ainda era muito cedo, a Defesa Civil não tinha chegado ali. Ao recitar daimoku, fui pensando em cada hóspede.
Num trecho do caminho, os carros estavam parados e, na frente deles, próximo a uma caminhonete, as pessoas estavam falando que não era possível continuar. Um poste havia caído no meio da estrada. Mas, como meu carro é menor, consegui passar.
Ao chegar ali, vi que havia lama cobrindo muitas salas. Com os demais colaboradores, organizamos uma força-tarefa e nos dividimos pelos setores para começar a retirar a sujeira. Às 9 horas, conseguimos servir o café da manhã para os hóspedes.
Andando pelo hotel para ver o que tinha acontecido, notei que a lama havia chegado muito próxima à borda da piscina, mas não a atingiu. Logo começaram a chegar vídeos de dois outros hotéis perto do nosso. Lá, infelizmente a situação estava bem pior, com a água chegando aos quartos e molhando camas e tudo o mais. Foi extramente triste, mas também fiquei muito grata pelos danos ao nosso terem sido menores.
Reprodução/Foto-RN176 Grasiele com o filho Luís
Mais tarde, recebi notícias das pessoas na região da costa sul de São Sebastião. Muitos habitantes estavam sem energia elétrica ou sinal de internet.
Quando a situação ficou sob controle no hotel, fui para casa recitar daimoku. Posteriormente, ficamos sabendo dos deslizamentos e das mortes, principalmente na Barra do Sahy e no entorno. Foi uma grande tristeza! Tenho uma amiga que possui um restaurante na região em que sete colaboradores perderam sua casa e alguns familiares.
Também fiquei sabendo que, apesar de alguns membros da BSGI nas regiões afetadas terem a casa atingida pelas enchentes, todos estavam bem, motivo de profunda gratidão em meio a esses acontecimentos.
Grasiele Moraes Oliveira, vice-responsável pela Comunidade Ilha Bela e responsável pela DF do Bloco Itaquanduba
No topo: Neusa e Gilberto Nardo, ao lado, superam momentos difíceis com base na recitação do daimoku
Fotos: Colaboração local