Momentos inesquecíveis: volume 1

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  09/06/2022 15:33                                                                  APRENDER COM A NOVA REVOLUÇÃO HUMANA

Nesta segunda parte da série publicada no Seikyo Shimbun, trechos selecionados do romance

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da matéria – Ilustrações: Kenichiro Uchida

Pela felicidade de todas as pessoas

No dia 2 de outubro de 1960, Shin’ichi Yamamoto dá o primeiro passo rumo ao kosen-rufu mundial ao partir para a sua viagem inaugural ao exterior em prol da paz. A primeira escala foi no Havaí, onde estabeleceu a primeira comunidade da Soka Gakkai fora do Japão. Naquela noite, ele ofereceu orientações a Hiroto Hirata, recém-nomeado líder de comunidade.

Os olhos de Hiroto Hirata brilhavam enquanto ouvia atentamen­te a orientação de Shin’ichi. Ao ter a certeza de que suas expectativas estavam sendo correspondidas, Shin’ichi começou a ensinar sobre a atitude correta de um líder em relação à fé. Enquanto falava, a lua cheia refletia um brilho tênue sobre o mar e podia-se ouvir o suave murmúrio das ondas se quebrando na praia.

— A partir de agora, como responsável de comunidade, peço que dedique sua vida à felicidade dos membros junto comigo. O que a maioria das pessoas consegue fazer é preocupar-se com a própria felicidade ou com a de sua família. Por isso, não é uma tarefa fácil dedicar-se em prol dos amigos, dos companheiros da organização, da Lei e do kosen-rufu, enquanto tenta resolver os seus próprios problemas. No entanto, quando o senhor se preocupa, ora e luta pelo bem dos demais, está provando com suas próprias ações que transcendeu os limites de suas questões individuais e está iniciando sua extraordinária revolução humana. A organização irá mudar e se desenvolver dependendo do ichinen ou da profunda determinação de seu líder. As pessoas seguem um líder que sempre luta por elas. Mas se perceberem que a verdadeira natureza desse líder for de alguém apenas interessado em fama e riqueza, deixarão de apoiá-lo.

O puro espírito de procura ao budismo de Hiroto Hirata fazia dele uma pessoa tal como a areia seca que absorve totalmente a água. Shin’ichi Yamamoto segurou a mão de Hirata e disse:

— Eu o nomeei responsável de comunidade. O seu fracasso será o meu fracasso. Assumirei total responsabilidade. Por favor, empenhe-se de modo que possa sentir verdadeira alegria e satisfação, extraindo o máximo de sua capacidade.

— Sim! Vou me esforçar ao máximo! Lutarei até o fim! — disse Hiroto Hirata apertando-lhe a mão com firmeza.

Os olhos de ambos brilharam com a luz da Lua.

 Trecho do capitulo “Alvorada”, p. 60-61

A união de “diferentes em corpo, unos em mente”

Shin’ichi e o grupo de líderes da Soka Gakkai que o acompanhava chegaram a São Francisco. Junto com os líderes de comunidade recém-nomeados, a comitiva parou para admirar a Ponte Golden Gate.

À medida que se afastavam da cidade, a Baía de São Francisco se revelava à direita deles. Logo avistaram a Golden Gate com suas magníficas torres vermelhas e estrutura imponente.

O grupo resolveu parar para descansar num pequeno parque próximo da ponte. Saindo dos carros, viram em exposição um fragmento dos cabos de suspensão usados na ponte. Uma placa explicava que os cabos tinham cerca de 90 centímetros de diâmetro e eram formados por 27.572 fios de aço. Shin’ichi e os demais se juntaram ao redor da placa.

— O cabo é espesso, mas cada fio que o compõe é bem fino. É incrível como consegue sustentar a ponte! — exclamou Katsu Kiyohara.

Shin’ichi concordou com o comentário e então disse a Yukiko Gilmore e a Chiyoko Taylor, que no dia anterior haviam sido nomeadas, respectivamente, responsável de comunidade e responsável pela Divisão Feminina da Comunidade São Francisco:

— É verdade, os fios, indivi­dualmen­te, são finos, mas quando agrupados em grande quantidade, apresentam uma força incrível. Isso se assemelha à união de itai doshin (diferentes em corpo, unos em mente). Na Soka Gakkai, também, embora a força de cada integrante seja pequena, quando essa força for combinada e todos estiverem firmemen­te unidos, poderão manifestar um poder inimaginável. A união faz a força. De agora em diante, as senhoras terão papel fundamental na unificação dos esforços dos companheiros em prol do movimento do kosen-rufu e da felicidade de todas as pessoas de São Francisco.

— Sim! — responderam as duas mulheres em uníssono.

A magnitude daquela nobre missão que lhes havia sido confiada suscitou nelas um forte senso de responsabilidade.

Reprodução/Foto-RN176 Trechos do capitulo “Novo Mundo”, p. 110-111

A noite da posse do presidente Yamamoto

Durante sua estada em Seattle, Shin’ichi adoeceu e orou inten­samen­te para superar os problemas de saúde que ameaçavam interferir em sua missão. Deitado na cama, ele refletiu como sua determinação de cumprir seu juramento estava repercutindo na vida pessoal.

Lembrou-se da conversa que teve com a esposa, Mineko, na noite de 3 de maio daquele ano, data que marcou o início da grande jornada para a ampla propagação do Budismo de Nichiren Daishonin para o mundo.

Nessa ocasião, Shin’ichi chegou tarde da noite. Mineko ainda o esperava com um jantar que havia preparado. A mesa estava posta com a habitual simplicidade.

— Pensei que teríamos sekihan [iguaria feita de arroz misturado com feijão-azuqui servida em ocasiões festivas] para comemorar minha posse como presidente, mas vejo que é um jantar corriqueiro — comentou Shin’ichi.

Mineko sorriu e respondeu resolutamente:

— Considero que, a partir de hoje, não tenho mais marido.

Não preparei sekihan porque hoje é como se fosse um dia de funeral para a família Yamamoto.

— Sim, é verdade — respondeu Shin’ichi sorrindo também.

Por um momento, ele se sentiu um pouco consternado pelas palavras de Mineko, mas, acima de tudo, estava feliz pelo espírito invencível demonstrado por ela. As palavras da esposa proporcionaram-lhe imensa coragem.

A partir daquele dia, certamente ele quase não teria tempo para brincar com os filhos ou para desfrutar momentos tranquilos com a família. Para toda esposa a solidão decorrente dessa situação era difícil de suportar. Mas Shin’ichi havia jurado dedicar a vida ao kosen-rufu, e Mineko, como esposa, demonstrou sua firme determinação em apoiá-lo.

Shin’ichi não almejava a felicidade secular ou comum para si. De certo modo, havia optado com alegria consagrar a vida ao kosen-rufu. Assim, ficou profundamente comovido e feliz ao perceber que a esposa pensava como ele.

Reprodução/Foto-RN176 Trechos do capitulo “Outono Dourado”, p. 128

O espírito invencível de mestre e discípulo

Em Nova York, na véspera de sua partida e da comitiva para a América do Sul, Shin’ichi continuava lutando para recuperar a saúde e buscar energia para sustentá-lo em sua missão.

Do bolso de seu paletó, Shin’ichi tirou a foto de seu venerado mestre, Josei Toda. Repousando o corpo cansado, fixou os olhos na foto.

Em sua mente começaram a surgir vivas lembranças do dia 19 de novembro de 1957, cinco meses antes do falecimento de Josei Toda. Naquele dia, mesmo sabendo que seria severamente repreen­dido, Shin’ichi tentou impedir a viagem de Josei Toda a Hiroshima. O presidente Josei Toda nunca havia estado tão debilitado e já mostrava ter chegado ao limite de suas forças. Era evidente que qualquer esforço naquelas condições poria a sua vida em risco.

Shin’ichi dirigiu-se até a sala onde Josei Toda repousava deitado num sofá, na Sede Central da Soka Gakkai. Ajoelhou-se diante do mestre, abaixou a cabeça e suplicou:

— Sensei, por favor, cancele sua viagem a Hiroshima. Eu lhe imploro! O senhor precisa descansar!

No entanto, Josei Toda respondeu resolutamente:

— Como eu poderia fazer isso? Tenho de ir. Como um emissário do Buda não posso desistir de algo que já decidi fazer. Eu irei ainda que venha a morrer! Não percebe que esse é o real significado da fé, Shin’ichi? Por que me pede isso?

A voz intrépida de seu mestre ainda ressoava claramente em seus ouvidos.

Aquele brado sintetizava a verdadeira postura de um líder do kosen-rufu, a conduta que Josei Toda lhe ensinou com a própria vida.

Em relação ao Japão, o Brasil era um dos países mais distantes, situado do lado oposto do globo terrestre. Ao pensar que ali se encontravam muitos membros aguardando a sua chegada, Shin’ichi teve a certeza de que deveria ir a qualquer custo. Decidiu que incentivaria a todos e empenharia até a última gota de energia para isso. Em seu peito, a chama do espírito de luta herdado de Josei Toda ardia intensamente.

Reprodução/Foto-RN176 Trechos do capitulo “Raios Benevolentes”, 214-215
Transcendendo limites físicos

Em 19 de outubro de 1960, Shin’ichi e comitiva chegaram ao Brasil. No dia seguinte, ele anunciou a criação de um distrito no país, o primeiro fora do Japão.

Já passava da meia-noite quando Shin’ichi retornou ao hotel. Apesar do extremo cansaço físico e da vertigem, ele retirou um bloco de papel de sua valise, sentou-se à mesa e começou a escrever uma carta de incentivo a um membro do Japão. Na verdade, ele escreveu várias cartas naquela noite.

Mesmo debilitado fisicamente, o coração de Shin’ichi vibrava de alegria e satisfação por estar no Brasil e por poder abrir um novo caminho para o desenvolvimento do kosen-rufu no lugar de seu querido mestre, Josei Toda. A alegria e o espírito de luta se tornaram um brado ardente pelo kosen-rufu que retumbava em todo o seu ser e o motivava a escrever folhas e mais folhas de incentivo.

Reprodução/Foto-RN176 Trechos do capitulo “Desbravadores”, p. 233-234

A um responsável de distrito Shin’ichi escreveu: “Neste momento, meu único pensamento é realizar o desejo do presidente Josei Toda dedicando-me totalmente ao estabelecimento da base do kosen-rufu, ainda que à custa da própria vida. O mais importante neste empreendimento são as pessoas — pessoas de grande capacidade. Peço ardentemente que o senhor se una a mim nesta tarefa e trilhe com coragem o caminho de sua missão até o fim. Solicito também que, em meu lugar, cuide com carinho de todos os membros de seu distrito, conduzindo-os dessa forma à felicidade”.

Ninguém no Japão poderia imaginar em que condições Shin’ichi havia escrito aquelas cartas. Mais tarde, quando tomaram conhecimento de seu estado de saúde durante a viagem, não conseguiram conter as lágrimas e renovaram o juramento de se empenhar junto com Shin’ichi em prol do kosen-rufu.

(Traduzido da edição do jornal Seikyo Shimbun do dia 17 de outubro de 2018)

Ilustrações: Kenichiro Uchida