Momentos inesquecíveis: volume 2

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  02/07/2022 10:37                                                                      APRENDA COM A NOVA REVOLUÇÃO HUMANA                              

Nesta continuação da série publicada no Seikyo Shimbun, trechos selecionados do romance.

 

Por Dr. Daisaku Ikeda

Reprodução/Foto-RN176 Desenho ilustrativa da matéria – Ilustrações: Kenichiro Uchida

Eternizar o legado do mestre

No dia 18 de julho de 1960, Shin’ichi Yamamoto realizou sua primeira viagem a Okinawa, que outrora fora o centro do Reino de Ryukyu e ainda estava sob ocupação americana na ocasião. Visitou os campos de batalha da Segunda Guerra Mundial ao sul da ilha e concluiu a viagem nos memoriais da guerra nas Colinas de Mabuni, onde a Batalha de Okinawa finalmente se encerrou.

Agora, a grandiosa correnteza da paz posta em movimento por Josei Toda produzia esplêndidas ondas de felicidade que serpenteavam pelas atormentadas ilhas de Okinawa — ondas douradas e prateadas refletindo a alegria e a esperança dos membros.

Shin’ichi cogitou que logo teria de começar a trabalhar no romance biográfico que estava planejando escrever havia algum tempo, como um registro permanente das nobres realizações de seu mestre. Todavia, tinha uma promessa a cumprir: a concretização do desejo do presidente Josei Toda de alcançar a marca dos 3 milhões de famílias na organização. Antes de iniciar o trabalho da narrativa, Shin’ichi queria informar o sucesso na consecução desse objetivo ao presidente Josei Toda no sétimo aniversário da morte dele.

Josei Toda era um homem de ação. Shin’ichi sentia que não poderia exprimir o espírito de seu mestre num livro a menos que ele próprio empreendesse uma luta em prol do kosen-rufu e estabelecesse uma base inabalável para a paz mundial. Isso porque uma obra escrita é uma expressão de seu autor, um reflexo de seu estado de vida interior. Subitamente ocorrera a Shin’ichi que Okinawa seria o lugar mais apropriado para começar a redigir seu manuscrito, uma vez que havia homenageado o sétimo aniversário da morte de seu mestre com uma brilhante vitória. Depois de apreciarem os monumentos, os membros locais se reuniram ao redor dele.

— Séculos atrás, acalentando a esperança de tornar aquelas ilhas uma ponte com o restante do mundo, o rei de Ryukyu, Sho Taikyu1 encomendou a confecção do “Sino da Ponte para Todos os Países” e mandou pendurá-lo no salão principal do Castelo de Shuri. O espírito da paz reside em Okinawa. É missão de vocês se colocar na vanguarda da construção de uma ponte para o mundo com esse mesmo espírito — observou Shin’ichi.

Capítulo “Vanguarda”, p. 72-73

Nota:

  1. Rei Sho Taikyu (1415–1460): Sexto rei da dinastia Ryukyu. Sob o reinado dele, as Ryukyus (ilhas de Okinawa) praticaram um comércio ativo com os países asiáticos vizinhos. O “Sino da Ponte para Todos os Países”, encomendado por ele, era feito de bronze e tinha 154,5 cm de altura e pesava cerca de 600 kg.

Luta contra impasses

Em 22 de julho de 1960, na Segunda Convenção da Divisão Feminina, realizada em Tóquio, Shin’ichi discorreu sobre a batalha interior constante que devemos travar contra a estagnação.

Shin’ichi Yamamoto, em seguida, descreveu sua vivência na juventude:

— O período de luta angustiante de Toda sensei para reerguer seus negócios após a guerra também foi a época mais penosa de minha vida. Minha saúde era extremamente debilitada, meu salário estava continuamente atrasado e eu me esforçava além do limite dia após dia. Certa vez, deixei escapar algumas palavras de derrotismo na presença de Toda sensei. Nunca me esquecerei da repreensão severa dele: “Shin’ichi”, disse ele, “fé é uma batalha interminável contra impasses. É uma luta entre o Buda e as funções demonía­cas; entre as forças negativas e as positivas. Esse é o significado da frase ‘O budismo se refere à vitória’”. Todos encontram um impasse em algum ponto da vida. Uns podem se ver sem saí­da no trabalho. Um casal talvez se veja num impasse no relacionamento e alguns no que diz respeito à criação dos filhos, ao relacionamento com outras pes­soas, nas atividades de propagação, ou no estudo dos ensinamentos budistas. O poder do Gohonzon, porém, é imensurável, tão vasto quanto o próprio Universo. Nossa vida também possui um potencial infinito. Tudo depende do fato de permitirmos ou não que nossa determinação entre num impasse. Se compreen­dermos verdadeiramente esse ponto, o caminho da vitória já estará aberto” — assegurou.

E finalizou:

— Caso se sintam de mãos atadas, lancem o desafio de superar a própria fraqueza, invocando o grande poder da fé. Toda sensei dizia que é assim que se “descarta o transitório para revelar o verdadeiro” em nossa vida. No longo curso de nossa vida, ocasionalmente podemos sentir vontade de desistir da fé e simplesmente nos divertir, livres de qualquer responsabilidade. Ou podemos ficar doentes ou mergulhar no sofrimento pela morte de alguém que amamos. Essa é a nossa luta contra os obstáculos dos desejos mundanos, da doença e morte. A relevância máxima do budismo repousa em sobrepujar tais impasses recitando daimoku, alcançar um estado de felicidade absoluta e consolidar a vida mais significativa possível. Portanto, espero que, quando encontrarem uma dificuldade, a considerem uma luta contra um impasse, um embate contra obstáculos e, decidindo que esse é momento de vencer, construam seu caminho na vida, desafiando o destino de frente.

Reprodução/Foto-RN176 Capitulo “Aprimoramento”, p. 81- 82 – Ilustrações: Kenichiro Uchida

Transcender conflitos

No curso ao ar livre do Suiko-kai, um grupo de aprimoramento da Divisão Masculina de Jovens, rea­lizado em Inubosaki, na província de Chiba, Shin’ichi respondeu às perguntas dos participantes.

— O impasse entre Oriente e Ociden­te está se agravando cada vez mais. Poderíamos considerar uma manifestação do desastre dos conflitos internos descritos por Nichiren Daishonin? — indagou um jovem.

— Sim, penso que possamos analisar desse modo. Em decorrência dos progressos nos meios de transporte e comunicação, o mundo está cada vez menor. A Terra agora é comparável a um extenso país. Nesse sentido, poderíamos dizer que o confronto Oriente-Ocidente corresponda ao “desastre do conflito interno” a que se referia Daishonin em sua época — respondeu Shin’ichi.

E acrescentou:

— Chegou a hora dos que abraçam o Budismo de Nichiren Daishonin assumirem uma posição em prol da paz mundial e da felicidade de todas as pessoas. A chave para a paz no futuro repousa em uma filosofia humanística que restaure o foco no ser humano e transcenda as barreiras de diferenças ideológicas. Como budistas, contribuir para o mundo deverá ser uma preocupação crescente na vida de todos nós. (…) Por mais sofisticados que sejam os sistemas sociais ou o ambiente globalizado de um país, esses aspectos não são suficientes para solucionar problemas espirituais, tais como superar o sofrimento humano e estimular o desejo de autoaprimoramento e o espírito de independência. A contínua rejeição à religião só levará à estagnação e à desolação es­piritual. Portanto, qualquer país seriamente preocupado com a melhor maneira de desenvolver e elevar o espírito humano será forçado a reconhecer a premente necessidade de uma religião genuína.

E afirmou:

— Por esse motivo, é importante que iniciemos diálogos com os líderes de cada país. Quando se constrói a confiança e a empatia por meio do diálogo, é possível abrir os olhos das pessoas ao budismo naturalmente. Em três décadas, tenho certeza que compreenderão o que quero dizer.

Reprodução/Foto-RN176 Capitulo “Aprimoramento”, p. 103-104 – Ilustrações: Kenichiro Uchida

Nossas ações diárias são manifestações da fé

Em 9 de novembro de 1960, depois da reunião de fundação do Distrito Kofu, Shin’ichi realiza um diálogo com um pequeno grupo de pessoas e responde às perguntas de uma integrante da Divisão Feminina de Jovens.

Uma líder da Divisão Feminina de Jovens perguntou a seguir:

— Minha mãe não pratica. Por isso, sempre que volto para casa e vejo o rosto dela, minha alegria diminui. O que devo fazer?

— Praticamos o Budismo de Nichiren Daishonin para tornar nosso lar radiante e alegre. Que sentido há, então, em você voltar para casa e ficar taciturna e desanimada? Além do mais, se quiser que sua mãe comece a praticar este budismo, terá de mudar. Você pode pregar a doutrina budista altivamente para a sua mãe quanto desejar, mas a verdade é que ela sempre a verá apenas como filha. Portanto, em vez de gastar tempo ministrando sermões para ela, será muito mais válido se tornar uma filha tão doce e atenciosa, que a deixe realmente impressionada. Por exemplo, se viajar para Tóquio para participar de uma reunião de líderes ou algo assim, deve ser amável o bastante para comprar uma pequena lembrança para ela. E, ao chegar a casa, poderia cumprimentá-la respeitosamente e expressar sua sincera gratidão por ter cuidado de tudo enquanto você esteve fora.

E assegurou-lhe:

— A fé não tem nada de extraor­dinário. Suas ações e conduta diá­rias são manifestações da fé. Se você se tornar uma filha de quem sua mãe realmente possa se orgulhar, a ponto de afirmar: “Ela está se saindo realmente muito bem. Tenho tanto orgulho dela!”, garanto-lhe que ela abraçará a fé. A imagem que sua mãe tem de você determinará se conseguirá fazê-la iniciar a prática.

Reprodução/Foto-RN176 Capitulo “Empenho Corajoso”, p. 176 – Ilustrações: Kenichiro Uchida

A confiança inicia-se pelo ato de cumprir promessas

Depois de sua nomeação como presidente da Soka Gakkai, Shin’ichi passou a dedicar cada minuto de seus dias à luta para concretizar o kosen-rufu. Isso significava que raramente tinha tempo para passar com sua esposa e filhos pequenos.

Shin’ichi sempre se esforçava para cumprir as promessas que fazia aos filhos.

Por desejar jantar com a família pelos menos uma ou duas vezes por ano, prometera se reunir com eles uma noite qualquer. Mas compromissos de trabalho o impediam de voltar para casa em tempo hábil para isso. Deste modo, decidira se encontrar com a família para comer num restaurante a cerca de dez minutos de distância da sede da Soka Gakkai. No dia marcado, contudo, surgiram várias providências, instruções e acertos inesperados a serem deliberados e o acréscimo de uma reunião à noite em sua agenda. Restaram-lhe apenas vinte ou trinta minutos para se dirigir ao restaurante, jantar com sua família e retornar à sede. Mesmo assim, Shin’ichi foi ao encontro deles. Pôde passar só cinco ou dez minutos com eles antes de ter de se levantar e ir embora.

Reprodução/Foto-RN176 Capitulo “Estandarte do Povo”, p. 279 –  Ilustrações: Kenichiro Uchida

A confiança entre pais e filhos inicia-se pelo ato de cumprir promessas. Certamente, algumas vezes, as promessas inevitavelmente são quebradas. Mas quando os pais se empenham sinceramente para fazer valer aquele trato de alguma forma, a criança compreen­de e aprecia esse esforço. É isso que edifica laços de confiança.

Ao observar Shin’ichi tendo de ir embora apressadamente, Mineko disse às crianças:

— Papai é tão atarefado que, na verdade, não tinha tempo para estar conosco, mas manteve a promessa e fez o que pôde para vir aqui mesmo só um pouquinho. Temos muita sorte, não é?

Um trabalho de equipe bem entrosado entre marido e mulher constitui uma parte importante da criação dos filhos.

(Traduzido da edição do jornal Seikyo Shimbun do dia 14 de novembro de 2018.)

Ilustrações: Kenichiro Uchida