ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 12/08/2022 17:26 APRENDER COM A NOVA REVOLUÇÃO HUMANA
Nesta continuação da série publicada no Seikyo Shimbun, trechos selecionados do romance.
Por Dr. Daisaku Ikeda
Reprodução/Foto-RN176 Dedicar a vida à suprema missão pelo kosen-rufu – Ilustrações: Kenichiro Uchida
Em 28 de janeiro de 1961, Shin’ichi Yamamoto partiu para Hong Kong, primeira escala de sua viagem em prol da paz na Ásia. No dia seguinte, enquanto aguardava para embarcar no voo rumo ao próximo destino, Ceilão (atual Sri Lanka), ele incentivou alguns membros que haviam se reunido para se despedir dele.
Ele falou:
— Neste momento, a quantidade de membros da Gakkai em Hong Kong é de pouco mais de dez pessoas. No entanto, surgirão milhares no decorrer de vinte ou trinta anos, e serão os senhores a construir essa história. O curso da vida é como um sonho, tão efêmero quanto uma gota de orvalho que se evapora ao calor do sol. Contudo, mesmo essa gota d’água, quando se junta às outras, pode formar um rio e banhar uma larga extensão de terras. Já que a vida é uma só, por que não vivermos pela nobre e suprema missão pelo kosen-rufu a fim de edificarmos um paraíso de eterna felicidade para o bem da nossa vida e da sociedade? Na América do Norte e no Brasil já se levantaram para essa missão. Agora é a vez de os senhores se erguerem como pioneiros do kosen-rufu da Ásia. Vamos atuar juntos!
Pela janela do avião, ele viu as encostas rochosas da Montanha do Leão. No solo de Hong Kong haviam surgido os filhos do leão. Porém, suas forças eram ainda insignificantes. Apesar disso, acalentava a convicção de que Hong Kong se transformaria num grande leão do kosen-rufu a descortinar a nova era no Oriente. Com o coração repleto de esperança, Shin’ichi continuou a viagem promovendo o retorno do budismo para o Oeste.
Reprodução/Foto-RN176 (Trechos do capítulo “Retorno do Budismo para o Oeste”, p. 58-59) – Ilustrações: Kenichiro Uchida
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Que surjam milhares e milhares de Shin’ichis Yamamoto!
Em 4 de fevereiro de 1961, Shin’ichi visitou Bodh Gaya, local da iluminação de Shakyamuni, para depositar uma placa de pedra dedicada ao kosen-rufu da Ásia, ao lado de outros itens comemorativos.
Retornando à leitura do sutra, recitaram o trecho “Jigage” e o daimoku, cujas vozes ressoaram pelos céus e penetraram o solo da Índia. Shin’ichi ofereceu sua oração com o juramento de dedicar a vida pela paz e felicidade dos povos do Oriente.
Logo após o final solene da cerimônia, uma pessoa que a assistiu se aproximou do grupo. Era um idoso com um turbante na cabeça e envolto num traje típico tibetano chamado chuba. Ele se aproximou em silêncio com pétalas de flores nas mãos, curvou-se respeitosamente diante da comitiva e espalhou as pétalas pelo chão, e em seguida juntou as mãos em profunda reverência — eles foram honrados com uma inesperada cerimônia de oferecimento de pétalas de flores. Dessa forma, um monumento de ouro foi erigido como símbolo do retorno do budismo para o Oeste, e no coração de Shin’ichi ecoou um poema do seu mestre, Josei Toda:
Aos povos da Ásia
que oram para vislumbrar
a Lua
entre as frestas das nuvens,
enviemos, em vez disso,
a luz do Sol.
Como no poema, o sol reluzia magnificamente no céu, iluminando a altiva torre do templo Mahabodhi. Shin’ichi havia assinalado o primeiro passo no propósito de cumprir seu juramento ao seu mestre de concretizar o kosen-rufu da Ásia. Ele não tinha como saber quando a paz e a felicidade chegariam aos povos da Ásia, para então desenterrar os objetos. Porém, a responsabilidade de concretizar esse propósito era totalmente sua.
Reprodução/Foto-RN176 (Trechos do capítulo “Índia”, p. 116-117) – Ilustrações: Kenichiro Uchida
Fitando o sol da Índia, bradou emocionado dentro de seu coração: “Eu o farei! Eu o concretizarei sem falta! Se eu tombar no meio do caminho, delegarei essa missão aos jovens, que são parte de mim. Que surjam milhares e milhares de Shin’ichis Yamamoto!”.
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A iluminação de Shakyamuni para a lei da vida
Durante a viagem à Índia, Shin’ichi refletiu sobre a vida de Shakyamuni e recriou em sua mente o momento de sua iluminação.
O amanhecer se aproximava e, no exato momento em que a Estrela da Manhã (Vênus) começou a brilhar, atingida por uma chuva de raios luminosos, a sabedoria de Shakyamuni iluminou-se claramente para a verdade eterna e imutável. O corpo dele estremeceu de emoção e um choque percorreu seu peito.
A face tornou-se corada e lágrimas transbordaram dos olhos. “Consegui! Consegui finalmente!” — foi o instante em que ele alcançou a tão almejada percepção. Ele se tornara finalmente um buda. Era como se a porta da sua vida se abrisse para o universo, libertando-o de todas as ilusões que o desnorteavam. Sentiu que agora podia se mover e agir livremente baseado nessa lei da vida. Era uma sensação que nunca havia experimentado.
Ele percebeu que o universo passa por constante criação e mutação; e os seres humanos também — nascem, crescem, envelhecem e morrem, para depois nascerem novamente. Nada no mundo, mesmo a natureza ou a sociedade humana, permanece imutável mesmo por um instante. Todas as coisas e fenômenos do cosmo emergem e se extinguem de acordo com a interação de fatores circunstanciais. Nada se forma ou subsiste isoladamente. Todas as coisas estão interligadas na extensão de tempo e espaço, e elas se originam e se manifestam de acordo com suas inter-relações. Cada fator opera ora como causa, ora como efeito e ora como circunstância, sobre o qual reina todos os fenômenos.
Reprodução/Foto-RN176 (Trechos do capítulo “O Buda”, p. 133-134) – Ilustrações: Kenichiro Uchida
Shakyamuni alcançou o domínio da natureza mística da vida pela qual obteve a convicção de que poderia desenvolver ilimitadamente sua condição interior. Adversidades, obstáculos e perseguições já eram para ele como partículas de pó diante do vento. Ele pensou: “Por desconhecer essa verdade absoluta, as pessoas se iludem pensando que são autossuficientes sem depender de outros. Essa ilusão as leva, no final, a se tornar prisioneiras de suas ambições, afastando-as da aceitação da imutável lei da vida. Com isso, perdem-se na escuridão das ilusões e acabam se afogando no mar de infelicidade e sofrimentos. Essa escuridão nada mais é que a divagação na fonte de todos os males e a causa fundamental do sofrimento humano representado pelo nascimento, envelhecimento, doença e morte. Por essa razão, o caminho da humanidade e da felicidade indestrutível somente pode ser desbravado ao se combater a maldade alojada no âmago da própria vida”.
O sol despontava no horizonte dispersando a névoa branca da manhã. Era o radiante alvorecer anunciando a paz e a felicidade de toda a humanidade.
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Desenvolvimento decorre do incentivo
Em 5 de fevereiro de 1961, Shin’ichi e os líderes que o acompanhavam na viagem chegaram a Calcutá. Por coincidência, um empresário japonês que fora um velho conhecido de Josei Toda estava hospedado no mesmo hotel e passou no quarto de Shin’ichi.
À noite, um empresário japonês, já idoso, hospedado no mesmo hotel, encontrou-se com Shin’ichi. Ele havia sido um amigo de Josei Toda e Shin’ichi também o conhecia bem. No decorrer da conversa, o assunto começou a girar em torno do Sr. Toda.
— Sr. Yamamoto, um dos grandes feitos de Josei Toda não seria ter organizado a Soka Gakkai? Caso contrário, acredito que ela não teria conseguido seu grande desenvolvimento. Penso que estamos entrando numa época em que uma sólida organização certamente haverá de se expandir.
Shin’ichi disse:
— De certa perspectiva, concordo com sua opinião, mas acredito que não é o único fator. Organizações existem em todas as partes. Empresas, sindicatos, cooperativas — todos são grupos organizados. Existem vantagens e desvantagens. Quanto mais se busca a eficácia de uma organização, mais cresce o perigo de torná-la rígida e demasiadamente burocrática.
Reprodução/Foto-RN176 (Trechos do capítulo “Raios de Paz”, p. 191-192) – Ilustrações: Kenichiro Uchida
Ambos passaram então a trocar visões sobre organizações.
Shin’ichi prosseguia:
— Se compararmos uma organização ao corpo humano, ela corresponderia ao esqueleto. Embora seja necessário e indispensável, o esqueleto não consegue irrigar o sangue pelo corpo. Acredito que a grandeza do presidente Josei Toda está em ter inspirado a organização com uma energia revigorante, fazendo correr pela sua estrutura o caloroso pulsar da vida humana. Ele conseguiu isso por meio de seus incentivos e orientações a cada um dos membros, e orientou pessoalmente dezenas de milhares de pessoas. Com isso, elas conseguiram sair do abismo e triunfar como seres humanos. Ele incentivava as que se encontravam nos piores sofrimentos, que pensavam mesmo em dar fim à vida, e fazia com que se levantassem novamente com coragem por meio da fé — esta é a verdadeira fonte do desenvolvimento da Soka Gakkai. E estimavam com muito respeito Toda sensei, não por ele ser o presidente, mas baseados em suas experiências por terem conseguido desbravar uma nova vida e se tornado felizes com suas palavras de encorajamento.
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A força interior de uma mãe
Durante a visita a Bruma (atual Mianmar), onde seu irmão mais velho havia morrido na Segunda Guerra Mundial, a mente de Shin’ichi retorna a lembranças de sua família e de sua mãe naquele tempo.
Reprodução/Foto-RN176 (Trechos do capítulo “Raios de Paz”, p. 211-212) – Ilustrações: Kenichiro Uchida
Um episódio ilustra sua força interior. No fim da guerra, quando o governo evacuou a população do bairro de Kamata, onde ela e sua família moravam, para demolir as casas a fim de evitar a propagação de incêndios provocados por bombardeios, ela decidiu construir um cômodo conjugado à casa de um parente que morava num bairro próximo. No dia seguinte, quando tinham acabado de transportar toda a mudança para iniciar a vida nessa casa, ocorreu um ataque aéreo e uma bomba incendiária destruiu-a completamente. Tudo que se pôde salvar foi um velho baú. Na manhã seguinte, desamparados e desmotivados, foram ver o que restou do incêndio. Tudo foi transformado em cinzas, e a esperança deles concentrou-se no velho baú, a única coisa que restava. No entanto, quando a tampa foi aberta, ficaram ainda mais desolados. Continha bonecas que enfeitam as casas no Dia das Meninas e um velho guarda-chuva. Quem havia retirado esse baú do meio do fogo foi Shin’ichi e seu irmão mais novo. Ele sentiu suas forças se esvaírem ao ver o conteúdo do baú e ninguém escondeu a decepção. Então, ela disse: “Tenho certeza de que vamos morar novamente numa casa onde poderemos montar este conjunto de bonecas”. Na verdade, ela também estava desapontada, mas se esforçava para se mostrar radiante a fim de incentivar a família, e eles se sentiram muito encorajados com isso. Apesar da triste situação, o riso de todos ecoou pelos arredores destruídos pelo fogo. No coração dela ardia um forte espírito de jamais ser derrotada.
Ilustrações: Kenichiro Uchida
(Traduzido da edição do jornal Seikyo Shimbun do dia 12 de dezembro de 2018.)