Momentos inesquecíveis: volume 4

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  10/09/2022 13:36 

APRENDER COM A NOVA REVOLUÇÃO HUMANA

Por Dr. Daisaku Ikeda

Nesta continuação da série publicada no Seikyo Shimbun, trechos selecionados do romance.

 

Reprodução/Foto-RN176 (Traduzido da edição do jornal Seikyo Shimbun do dia 16 de janeiro de 2019.)

União é força

Em novembro de 1958, numa reunião para discutir a fundação do Distrito Aomori, na região de Tohoku, no Japão, Shin’ichi Yamamo­to chamou o recém-nomeado líder de Distrito, Tadashi Kaneki, e os nove novos líderes de comunidade a vir para a frente da sala.

Tadashi Kaneki e os nove líderes indicados se levantaram e foram até Shin’ichi.

— Por favor, com o senhor Kaneki no centro, abracem-se pelos ombros e formem um círculo em torno dele.

Embora não estivessem entendendo nada, todos seguiram as instruções e formaram um círculo em torno de Kaneki. Os demais se mostravam curiosos em saber o que iria acontecer. Um deles perguntou, para se certificar:

— Será que está bem assim?

— Sim, está perfeito. Agora prestem atenção e nunca se esqueçam dessa formação que representa a união que o Distrito Aomori deve manter daqui em diante. Os nove responsáveis de comunidade, firmemente unidos com o responsável de distrito, asseguram que ninguém será capaz de quebrar essa união. Contudo, se esse elo for partido e os nove agirem isoladamen­te, tudo entrará em desordem. A união significa força.

Com isso, Kaneki e os outros conseguiram compreender a intenção de Shin’ichi. Ele continuou:

— Solicito aos senhores que apoiem sempre o responsável do distrito. Para o Sr. Kaneki, que se tornará responsável de distrito, solicito que não meça esforços para se dedicar ao bem dos responsáveis de comunidade e de todos os membros do distrito. Se protegerem os seus companheiros, serão protegidos também por eles. Esse é o princípio de causa e efeito no budismo. A Gakkai é uma organização que existe conforme a ordem e o desejo do Buda. Se um líder destruir essa união por sentimentalismo ou discórdia, criará uma causa muito grave. Doravante, quando enfrentarem alguma dificuldade, lembrem-se deste círculo e construam com base na prática da fé o distrito mais harmonioso e o mais unido do Japão.

(Capítulo “Tempestade Primaveril”, p. 27-28)
Dias envoltos no calor de raios dourados

Em 19 de abril de 1961, quando seu trem estava passando pela Estação Omiya no caminho para a reunião de fundação do Distrito Kumagaya, Shin’ichi recordou-se com carinho do dia em que visitou a área com seu mestre, Josei Toda.

Quando o trem se aproximou da Estação Omiya, Shin’ichi relembrou com saudade o dia em que visitou aquela localidade com o presidente Toda, no final do outono de 1950. Eles foram procurar por uma pessoa que poderia ajudar a solucionar a crise nas empresas de Josei Toda. Essa procura foi em vão e ambos perderam uma das últimas esperanças que ainda restavam. Os negócios do presidente Toda estavam numa encruzilhada entre a ruína e a sobrevivência. Os salários continuavam em atraso e muitos funcionários haviam abandonado o trabalho, restando apenas um punhado de pessoas. Isso foi numa época em que a saúde de Shin’ichi estava péssima, porém mantinha a decisão de proteger o seu mestre a qualquer custo.

No retorno para Tóquio, os dois caminharam pela margem de um rio. O céu estava repleto de estrelas que pareciam cintilar friamente para eles. Era uma noite gélida que se somava à frieza da crise que enfrentavam. Sr. Toda e Shin’ichi caminhavam calados.

Josei Toda estava sereno como sempre, mas Shin’ichi sofria por nada poder fazer para ajudar seu mestre. Apesar de ser um assunto ligado aos negócios do Sr. Toda, ele não suportava vê-lo se humilhando perante outros devido à sua crise, naquela situação.

Sentia-se também frustrado pela sua incapacidade em protegê-lo. Além disso, estava extremamente exausto. Num momento da caminhada, seu sapato quase saiu do pé. Estavam gastos e havia buracos na sola. Abaixando-se para amarrá-lo, Shin’ichi cantarolou um trecho de uma canção em moda na época: “Na correnteza de estrelas, quem me fez uma mulher assim”. Porém, Shin’ichi cantou parodiando “…quem me fez um homem assim”.

No mesmo momento, Sr. Toda se voltou para ele. As lentes de seus óculos brilharam.

— Fui eu! — disse rindo.

Shin’ichi sentiu o calor humano e a convicção de Josei Toda que se permitia brincar e rir numa hora tão difícil em que o amanhã era completamente incerto. Ele pensou: “A convicção de meu mestre sempre revela a verdade. Então, eu, como seu discípulo, devo também corresponder ao mestre com a verdade”.

Apesar de ter sido um período de árduas lutas, os dias vividos por eles como mestre e discípulo foram repletos de um brilho resplandecente.

(Capítulo “Triunfo”, p. 72-73)

A luta para desbravar um novo caminho

Em maio de 1961, Shin’ichi anunciou um plano para documentar em filme as atividades da Soka Gakkai. O projeto seria supervisionado pela recém-fundada Divisão de Divulgação, cuja equipe era composta por apenas três integrantes, entre os quais um rapaz chamado Yoshio Iizaka.

Certa noite, já bastante tarde, Shin’ichi foi até a sala de produção. Os dois jovens estavam tão compenetrados no trabalho que sequer notaram a sua chegada. Quando lhes dirigiu algumas palavras, os dois se assustaram e levantaram o rosto. O cansaço estava estampado em seus semblantes, indicando que haviam trabalhado muitas noites seguidas até tarde. Quando iam se levantar, ele pediu que permanecessem sentados.

— Não precisam se levantar. A propósito, queria apenas saber qual o maior problema de vocês no momento.

Iizaka respondeu:

— Para ser sincero, já estamos quase sem filmes para as gravações. Já utilizamos todo o orçamento…

Por ser uma divisão instalada há pouco tempo e com pouca verba, seus membros faziam o máximo para reduzir as despesas.

Por exemplo, um noticiário de trinta minutos equivalia aproximadamente a trezentos metros de filme. Para produzi-lo normalmente seria necessário gravar dez vezes mais, isto é, cerca de três mil metros. Contudo, eles vinham planejando a filmagem de tal forma a reduzir ao mínimo a quantidade de tomadas a serem descartadas na montagem. Apesar do esforço, o estoque de filmes estava no fim.

— É mesmo? Sinto muito que tenham de trabalhar nessas condições.

Shin’ichi perguntou então a Iizaka qual era a quantia necessária para adquirir os rolos de filmes necessários naquele momento, e ofereceu prontamente seu próprio dinheiro.

— Sei que agora não é nada fácil para vocês, mas as dificuldades sempre acompanham o desbravamento de um novo projeto — disse Shin’ichi sorrindo.

A preocupação de Shin’ichi em visitar o local de trabalho da cinegrafia já tarde da noite comoveu o coração de Yoshio Iizaka.

— Sinto muito por fazê-los trabalhar com um orçamento tão apertado. Isto se deve ao fato de estarmos arcando com muitas outras despesas como as de providenciar a instalação de projetores nos distritos gerais. Como todas as despesas da Gakkai são cobertas por meio das preciosas contribuições de nossos companheiros, é natural que nos esforcemos ao máximo na contenção das despesas. Tentarei aumentar o quadro de funcionários dessa divisão. Por ora, peço que sejam pacientes e façam o melhor com sabedoria e criatividade. A verdadeira disposição dos jovens é a de manter o desafio de produzir o melhor mesmo dentro das piores condições de trabalho. Se conseguirem realizar uma excelente produção com a falta de tudo — pessoal, dinheiro, material e tempo — será o maior tesouro de sua vida. Este é o trabalho do pioneiro. Se pensarem que estão trabalhando para criar a melhor recordação de sua vida, tudo se tornará mais prazeroso. A propósito, vocês estão bem de saúde?

— Sim!

— Vocês devem cuidar da saúde da melhor forma. Isso também é sabedoria. Quando se sentirem esgotados, imaginem a cena onde os companheiros se levantam emocionados e revigorados após assistirem ao filme produzido por vocês. A fase de produção de um filme não é notada por ninguém e é uma luta nos bastidores, mas a sua repercussão é imensurável. Em uma casa, o seu alicerce é invisível. As pessoas também não veem os motores dos carros. No corpo humano, não é possível ver o coração. A força essencial que sustenta as coisas está sempre escondida na sombra.

(Capítulo “Folhas Novas”, p. 150-152)
A profunda preocupação do mestre por seu discípulo

Em 4 de julho de 1961, de pé diante do túmulo de Josei Toda, Shin’ichi recordou-se de 3 de julho de 1957, durante o Inciden­te de Osaka, no qual enfrentou falsas acusações de violação da lei eleitoral.

A prisão se tornou para Shin’ichi uma nova partida no movimento do humanismo de conquistar o triunfo do povo. Além disso, ele jamais esqueceu o arden­te sentimento de seu mestre para com ele, seu discípulo, durante todo o transcorrer do caso. No Aeroporto de Haneda, em Tóquio, quando Shin’ichi estava de partida para se apresentar voluntariamen­te na Delegacia de Polícia de Osaka, o presidente Toda lhe disse:

— Shin’ichi, caso você vier a morrer por algum motivo, eu correrei imediatamente até você e morrerei junto sobre seu corpo…

Ao pensar nesse profundo sentimento de Josei Toda, lágrimas de emoção brotavam nos olhos de Shin’ichi. Além disso, durante o perío­do em que ele ficou detido, o presiden­te Toda se dirigiu pessoalmen­te à Promotoria de Osaka para manifestar o seu protesto contra a injusta prisão. Ele se sentiu compelido a agir dessa maneira após promover uma reunião geral dos membros de Tóquio em 12 de julho, na Arena Nacional de Esportes Kuramae, condenando as ações da delegacia de polícia e da Promotoria de Osaka. Logo que chegou a essa cidade, solicitou um encontro com o chefe da promotoria. Apesar do corpo debilitado, subiu os degraus da promotoria auxiliado pelos líderes que o acompanhavam, com a respiração ofegante e sem firmeza. Se fosse possível, estava disposto a se oferecer para ficar na prisão no lugar de Shin’ichi. Ele era um mestre que não hesitava em dar a vida pelo discípulo.

Na audiência com o chefe da promotoria, Josei Toda protestou com veemência:

— Por que o meu discípulo está detido por tanto tempo?! Ele é inocente! Se quiserem a mim, prendam-me agora!

E exigiu a libertação imediata de Shin’ichi.

No caminho de volta, o presiden­te Toda murmurou várias vezes com profunda indignação:

— Qualquer um pode ver claramente, pela personalidade de Shin’ichi, que ele jamais seria capaz de cometer uma fraude!

Shin’ichi soube disso após sua libertação e chorou comovido pelo nobre sentimento de seu mestre. O protesto de Josei Toda junto à promotoria lhe ensinou como um líder deve defender as pessoas.

Defronte ao túmulo de seu amado mestre, as palavras do presidente Toda ecoavam em seu coração: “Lute contra a natureza maligna do poder! Proteja as pessoas!” Shin’ichi recitou três vezes o Nam-myoho-renge-kyo como um profundo juramento.

(Capítulo “Pacificação da Terra”, p. 182-183)

Luz da paz

Em 8 de outubro de 1961, Shin’ichi se postou diante do Portão de Brandemburgo, que separava Berlim Oriental e Ocidental — símbolo de um mundo dividido pela Guerra Fria.

A chuva já havia cessado e o céu se tingia com as cores do entardecer. Era um pôr do sol de rara beleza. O sol se coloria de vermelho profundo e os raios dourados se expandiam por todo o céu. A natureza celestial oferecia um momento de pausa e de tranquilidade na cidade coberta de tensão.

No momento em que contemplavam o entardecer, o motorista disse sorrindo:

— Nas ocasiões em que vemos um pôr do sol maravilhoso como esse, nós costumamos dizer: “Os anjos desceram do céu…”

Reprodução/Foto-RN176 (Traduzido da edição do jornal Seikyo Shimbun do dia 16 de janeiro de 2019.) – ILUSTRAÇÕES: Kenichiro Uchida

As torres, os prédios, as vias bloqueadas e o Portão de Brandemburgo se coloriam de dourado. Shin’ichi pensou: “Quando o sol desponta, as nuvens se dispersam e tudo fica envolto pelos raios dourados. Se o sol da vida despontar no coração das pessoas, o mundo será certamen­te banhado pelos brilhos da paz e um arco-íris de amizade unirá gloriosamen­te a humanidade”.

Fitando o portal, Shin’ichi disse aos companheiros da comitiva exaltando a sua convicção:

— Estou certo que, dentro de trinta anos, o Muro de Berlim será derrubado completamente.

Não se tratava de uma simples previsão do futuro nem mera expectativa. Sua esperança se basea­va na forte convicção no triunfo da consciência, da sabedoria e da coragem dos seres humanos que almejam a paz. Era também a expressão de devotar a sua vida em prol da paz e felicidade das pessoas. A determinação inabalável envolve todo o universo, o ichinen sanzen — esse é o princípio imutável do budismo.

“Lutarei para derrubar este muro e pela paz no mundo, para estimular a vida das pessoas com o diálogo e despertar o humanismo na consciên­cia de todos. Vou dedicar a minha vida a esse trabalho” — pensando assim, Shin’ichi recitou sozinho o daimoku três vezes em direção ao Portão de Brandemburgo.

— Nam-myoho-renge-kyo… Sua voz imbuída de profunda oração e juramento ressoava altivamente pelo céu do entardecer de Berlim.

(Capítulo “Grande Brilho”, p. 270-271)

(Traduzido da edição do jornal Seikyo Shimbun do dia 16 de janeiro de 2019.)

ILUSTRAÇÕES: Kenichiro Uchida