Momentos inesquecíveis: volume 7

ROTANEWS176 08/12/2022 10:50                                                                                                                                APRENDER COM A NOVA REVOLUÇÃO HUMANA                                                                                                  Por Dr. Daisaku Ikeda

Nesta continuação da série publicada no Seikyo Shimbun, trechos selecionados do romance.

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustração de Kenichiro Uchida

Um juramento só tem significado se for cumprido

Em novembro de 1962, durante uma reunião no escritório do Seikyo Shimbun, Shin’ichi Yamamo­to recebeu a informação de que a Soka Gakkai havia alcançado o objetivo de 3 milhões de famílias mais de um ano antes do previsto. Ele imediatamente se dirigiu à sala do Gohonzon para relatar o fato ao seu falecido mestre, Josei Toda.

Em seguida, Shin’ichi dirigiu-se à sala de reunião e recitou daimoku três vezes com o sentimento de comunicar ao seu mestre, Josei Toda, a concretização do objetivo de três milhões de famílias.

Com muita emoção, disse em seu coração: “Mestre! Conforme havia prometido, consegui concretizar o objetivo de três milhões de famílias. Esta é a prova da união e do esforço de todos os discípulos criados pelo senhor”.

O presidente Toda havia delega­do essa tarefa a Shin’ichi dois meses antes de seu falecimento, num encontro ocorrido em 10 de fevereiro de 1958, véspera do dia em que completaria 58 anos. Na manhã daquele dia, Shin’ichi voltara para Tóquio num trem notur­no após participar de diversas atividades pela região de Kansai e foi para a residência de Toda, que se encontrava acamado desde novembro por problemas no fígado.

Apesar de ter superado a fase mais crítica da doença, estava ainda muito debilitado.

Após ouvir sobre a situação da organização em Kansai, Toda começou a falar sobre as perspectivas do kosen-rufu.

— De forma geral, podemos dizer que conseguimos criar uma base razoável do kosen-rufu no Japão. A questão é o desenvolvimento daqui em diante. O que faremos nos próximos sete anos?

A Gakkai havia concretizado em dezembro do ano anterior o grande desejo de Toda de realizar 750 mil conversões e era necessário lançar os próximos objetivos. Toda disse, fitando os olhos de Shin’ichi:

— Eu não tenho muito tempo pela frente. Você conseguirá concretizar três milhões de famílias nos próximos sete anos?

Toda revelou esta meta ao discípulo como uma grandiosa perspectiva do kosen-rufu. (…)

Shin’ichi respondeu-lhe prontamente.

— Sim, vou concretizar sem falta seu ideal! Já estou sentindo uma forte coragem fluindo pelo meu corpo. Não se preocupe. Sou seu discípulo e haverei de realizar essa grande meta. Por favor, fique tranquilo e me observe.

O desejo de Toda transformou-se imediatamente no juramento de Shin’ichi. Desde então, Shin’ichi manteve acesa a chama do juramento ao mestre no coração. Enfim, o objetivo de três milhões de famílias foi concretizado. Ele próprio demonstrou que um discípulo realmente cumpre o juramento feito ao seu mestre.

A concretização do objetivo de três milhões de famílias não foi um resultado alcançado meramen­te com o decorrer do tempo. Decorreu de um movimento criado por Shin’ichi, da atuação firme e determinada como verdadeiro discípulo de Josei Toda. Tal atuação repercutiu no coração dos companheiros e criou ondas crescentes em prol do kosen-rufu.

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustração de Kenichiro Uchida

(“Flor da Cultura”, p. 64 e 65)

***

Desenvolvam ampla condição de vida, capaz de abarcar o universo inteiro

Em sua visita ao Havaí, em janeiro de 1963, Shin’ichi encontrou-se com os membros, entre eles, Emiko Haruyama, na época vice-líder da Divisão Feminina do Distrito Geral da América e líder da Divisão Feminina de Jovens do Continente da América do Norte.

Emiko sentia-se sozinha e lembrava com saudades os dias em que atuava no Japão com o apoio de outras companheiras. Foi quando recebeu a notícia da visita do presidente Yamamoto e logo pensou em encontrá-lo para receber orientações.

Embora estivesse grávida, prontificou-se em viajar até o Havaí, levando muitas questões em sua mente. Porém, ao encontrar-se com o presidente Yamamoto, teve dificuldade em lhe falar de suas preocupações. Percebendo isso, foi Shin’ichi quem lhe dirigiu a palavra:

— Emiko, como estão os associados na América?

Procurando as palavras certas, ela apenas conseguiu dizer:

— O que eu sinto é que a América é demasiadamente extensa… Essas palavras exprimiram todo o seu sentimento em não poder obter um resultado expressivo por mais que se esforçasse.

Shin’ichi respondeu-lhe sorrindo:

— Isso eu já sei. Entretanto, do meu ponto de vista, por mais que a América seja um país muito extenso, é como se fosse o jardim de minha casa. O mais importante é criar um elevado padrão de vida. Se você olhar um muro de pedra do nível do chão, terá a impressão de ser muito alto. Contudo, se o observar da janela de um avião voando pelos céus, não passará de uma minúscula saliência. Da mesma forma, com a mudança do padrão de vida, o modo de sentir e ver também muda. As dificuldades se transformam em desafios a serem superados com alegria e tranquilidade. A fonte dessa mudança é a recitação do daimoku com seriedade e forte determinação. Quando conseguir isso atuando ao mesmo tempo com coragem, conseguirá ter uma nova visão e derrubar a barreira que você mesma criou dentro de seu coração. O Nam-myoho-renge-kyo é a grande Lei que rege o nosso universo, e você será capaz de reger o seu universo.

Ao ouvir essas palavras, Emiko percebeu imediatamente que estava sendo derrotada pelo rigor da realidade devido à sua estreita visão, e não pelo fato de a América ser um grande país. Ela pensou consigo mesma: “O presidente Yamamoto não considera os Estados Unidos como um país distante. O que existe é a distância entre o meu pensamento e o dele”. Ela sentiu como se uma névoa estivesse se dissipando diante de seus olhos.

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustração de Kenichiro Uchida

(“Broto”, p. 82 e 83)

***

 O Budismo Nichiren é uma “religião humanística”

Em 22 de janeiro de 1963, no decorrer de uma viagem ao Líbano, Shin’ichi conversou com os líderes que o acompanhavam sobre a importância do diálogo e o papel do budismo como uma religião humanística.

Shin’ichi continuou expondo seu pensamento:

— No Oriente Médio, como na Europa, as religiões exercem uma significativa influência social, o que não acontece no Japão. Se juntarmos a essa conjuntura os interesses políticos e sociais de cada religião, o diálogo torna-se complexo e difícil. Por isso, antes de qualquer diálogo, é necessário que seus líderes deixem de lado as diferenças de convicções religiosas e conversem incansavelmente sobre temas comuns como seres humanos.

Primeiramente, devem criar uma base comum de simpatia e de entendimento. Eles devem mudar também o raciocínio de dividir as pessoas pelas suas crenças. Não posso concordar com a separação de pessoas por etnia, nacionalidade, religião ou classe social. Todas as pessoas devem ser consideradas como seres humanos íntegros. Quando existe alguma discriminação no raciocínio, não pode haver um diálogo franco nem uma verdadeira amizade. O foco do diálogo deve o ser humano e não a sua religião. Embora isso não seja fácil, é preciso mover as engrenagens nessa direção. Caso contrário, a situação pode se agravar cada vez mais. O que pretendo promover e ampliar por todo o futuro é o diálogo entre os líderes da humanidade de uma mesma posição como seres humanos.

Shin’ichi fez uma pausa e em seguida completou:

— No início da história do budismo, não havia divisão entre seitas e escolas. Ele também não foi exposto para determinado povo ou classe social; seu objetivo era favorecer o ser humano e toda a humanidade. Da mesma forma, Nichiren Daishonin se preocupou unicamente em abrir o caminho da felicidade para todas as pessoas. Numa ocasião, o presidente Toda disse que a Gakkai iria propagar a religião humanística. Ele queria dizer que o ser humano é o fator principal da Gakkai

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustração de Kenichiro Uchida

(“Primavera”, p. 171-172)

***

O inverno sempre se torna primavera

No dia 9 de abril de 1963, durante o período da lei marcial em Taiwan, que durou de 1949 a 1987, várias restrições foram impostas aos cidadãos, e os direitos humanos se encontravam gravemente cerceados. Diante de um oficial da polícia e de membros da imprensa, Chu Senjin, líder de Distrito da cidade de Taipé, realizou uma reunião em sua casa, onde anunciou que a organização Soka Gakkai em Taiwan recebera a ordem de dissolução e o encerramento oficial de atividades. Embora a liberdade de crença religiosa fosse amparada pela constituição, os membros também eram alvo das autoridades.

Apesar de profundamente indignado e de se sentir incapaz de convencer as autoridades, Chu Senjin procurou conter as lágrimas e começou a falar calmamente:

— Hoje, dia 9 de abril, o Distrito Taipé recebeu a ordem de dissolução pelo fato de não ter obtido a autorização do governo para o seu funcionamento como entidade civil. Por esta razão, a partir de hoje, não poderemos mais promover reuniões e atividades…

A partir desse momento, ele não conseguiu mais conter as lágrimas e seu corpo começou a tremer. Um profundo silêncio tomou conta do local.

Chu Senjin lembrou-se então das palavras de Shin’ichi no breve encontro que teve pouco mais de dois meses antes, em 27 de janeiro, no Aeroporto Matsuyama, em Taipé: “Por mais difícil que seja promover as reuniões agora, não fiquem temerosos nem permitam o retrocesso na prática da fé. Seja como for, mantenham a coragem e não permitam que a chama do budismo, que há de iluminar o caminho para a felicidade do povo de Formosa, se apague. A verdadeira luta será daqui a trinta ou quarenta anos e os senhores certamente vencerão”.

Estas palavras despertaram no coração de Chu Senjin forte coragem. (…)

Uma vez decretada a dissolução, a polícia intensificou a vigilância e a investigação da conduta dos associados de Taipé. A residência de cada um foi invadida repentinamente pelos policiais e os impressos da Soka Gakkai e o Gohonzon foram confiscados. Quando os associados reagiam contra as ações arbitrárias dos policiais, eram ameaçados de prisão.

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustração de Kenichiro Uchida

(“Leme”, p. 250-251)

No trabalho, muitos tiveram a promoção cancelada, sendo transferidos de setor. Alguns chegaram a ser demitidos por fazerem parte de uma organização clandestina. (..)

Chu Senjin era considerado um dos executivos de futuro promissor na grande companhia de cimento onde trabalhava. Os membros da diretoria, ao perceberem que ele estava sendo vigiado pela polícia, exigiram que abandonasse a Gakkai e a prática do budismo.

Ele repudiou essa ameaça e manteve-se firme em sua decisão. Consequentemente, foi destituído de seu cargo e transferido para outro setor sem nenhuma função. (…)

Com o passar dos anos, a democracia foi se estabelecendo em Formosa e as religiões foram consideradas com mais tolerância. A lei marcial foi abolida em 1987 e a Soka Gakkai de Formosa finalmente obteve o reconhecimento em 1990 como instituição religiosa. Foi uma longa jornada de 27 anos desde a sua dissolução.

(Traduzido da edição do jornal Seikyo Shimbun do dia 10 de abril de 2019.)

Ilustrações: Kenichiro Uchida

 FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO