ROTANEWS176 E POR TERRA 22/07/2022 21h13 Por Ícaro Malta
Ex-advogada foi apontada como organizadora do “Escândalo da Previdência”, um esquema que desviou verbas de aposentadoria nos anos 90
Reprodução/Foto-RN176 Nessa foto, de julho de 2004, a ex-advogada Jorgina de Freitas comparece a um culto na Penitenciária Talavera Bruce, no Rio de Janeiro Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
A ex-advogada Jorgina Maria de Freitas, de 71 anos, morreu nesta semana, após meses internada no Hospital Municipal Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Ela sofreu um acidente de carro e desde dezembro estava hospitalizada. Na última terça-feira, 19, ela não resistiu ao estado grave em que se encontrava e morreu.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a ex-advogada foi internada no dia 13 de dezembro do ano passado, após o automóvel em que estava capotar. Ela chegou com um quadro de politraumatismo com traumatismo craniano grave.
“A direção do hospital relata que durante o período de internação na unidade, a paciente se manteve em estado grave de saúde, traqueostomizada e com pouca resposta a estímulos sensitivos”, informou a prefeitura, por meio de nota.
Na terça-feira, 19, Jorgina apresentou hipotensão e bradicardia, evoluindo para uma parada cardiorrespiratória. Segundo o município, todos os procedimentos, protocolos e medicações foram realizados, mas sem sucesso. O óbito foi constatado às 13h30 do mesmo dia.
Por se tratar de vítima de acidente de trânsito, o corpo de Jorgina foi encaminhado para o Instituto Médico-Legal.
Fraude histórica do INSS
Ex-advogada e ex-procuradora previdenciária, Jorgina foi apontada como organizadora de um esquema de desvio de verbas de aposentadoria que ficou conhecido como “Escândalo da Previdência”. Entre os anos de 1988 e 1990, ela foi cúmplice de um bando que desviou dinheiro do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), chegando a usar nomes de pessoas mortas. Os criminosos forjaram centenas de processos de indenização milionários.
O esquema começou a ruir em março de 1991, quando uma investigação interna do INSS descobriu como haviam sido desviados inicialmente R$ 90 milhões, supostamente pagos ao motorista de empilhadeira Alaíde Fernandes Ximenes.
De início, a fraude foi estimada em R$ 550 milhões, mais de 50% de toda a arrecadação do INSS na época. Posteriormente, o rombo foi reavaliado em R$ 1,2 bilhão. Mas a Advocacia-Geral da União, enfim, afirmou que a fraude foi da ordem de aproximadamente R$ 2 bilhões.
A condenação de Jorgina aconteceu em julho de 1992. O esquema envolvia diversas autoridades, advogados, procuradores do INSS e juízes do Rio de Janeiro.
Logo após a condenação, ela fugiu para o exterior, passando pelo Paraguai e Estados Unidos. Jorgina passou anos na Costa Rica e em 1997 decidiu se entregar às autoridades do país.
Nesse período, ela se submeteu a diversas cirurgias plásticas e teve o registro profissional cassado pela Ordem dos Advogados do Brasil em 2001. Parte do dinheiro desviado para outros países foi recuperado.
Jorgina cumpriu pena, em regime fechado, no Instituto Penal Talavera Bruce. Em janeiro de 2007 ela foi transferida para outro presídio, também no Rio de Janeiro, onde passou a cumprir a pena em regime semiaberto.
Em maio de 2010, quando mais de R$ 69 milhões desviados haviam sido devolvidos, Jorgina foi condenada a devolver R$ 200 milhões, extensível também ao contador Carlos Alberto Mello. Em junho de 2010, uma sentença declarou extinta a pena e Jorgina foi solta, após cumprir 14 anos de prisão.