ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 23/01/2021 15:15
RELATO
Cida fez da doença uma oportunidade para manifestar sua força e criar uma história inspiradora
Reprodução/Foto-RN176 Aparecida Souza, Vice-resp. pela DF da Região Estadual Pernambuco, CRE Leste, CGRE.
No ano 2000, eu, que havia superado a depressão, me separei do marido e decidi sair do Rio de Janeiro para voltar à minha cidade natal, Recife, PE, acompanhada da minha mãe, Francisca, e do meu filho, André, com 9 anos, fruto desse relacionamento. A mudança aconteceu em fevereiro de 2003 e meu objetivo fundamental com a viagem era ensinar a prática budista para meus familiares. Hoje, quatro deles são membros da BSGI.
Logo, minha mãe, meu filho e eu fomos morar em Olinda, PE. Com tantas mudanças, havia deixado para trás o bom emprego que tinha no Rio, ficando sete anos desempregada, apenas atuando como freelancer. Foi um período em que fui acolhida pelos líderes da organização, em Recife, onde fica a sede da BSGI da região, desenvolvendo-me em meio às atividades e nos grupos horizontais como o Mamorukai [equipe da Divisão Feminina (DF) que atua na conservação e na limpeza das sedes], o Coral Veneza e como responsável pela Coordenadoria Educacional (CEduc).
Em maio de 2010, fui contratada por uma empresa de software de gestão, tornando-me a gerente de relacionamentos que mais fechava negócios e, com isso, gerei empregos em mais duas capitais nordestinas.
Na organização, segui me aprimorando no Departamento de Estudo do Budismo (DEB) da RE, do qual sou líder. E com essa experiência, criei a base para vencer a doença, um dos maiores desafios da minha vida.
Momento crucial
Em fevereiro de 2016, meu olho direito foi atacado por uma bactéria de altíssima agressividade. Procurei ajuda médica urgente na respeitada Fundação Altino Ventura. Lá, a médica que me atendeu foi duramente enfática no diagnóstico dizendo que essa bactéria havia destruído minha córnea e que eu estava cega.
Imediatamente, lembrei-me de tudo que havia lido e ouvido nas atividades da Gakkai; das palavras que me chamaram a atenção na primeira reunião de palestra que participei, em 1995; das adversidades enfrentadas pelo buda Nichiren Daishonin e pelos Três Mestres [Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda]. E mais, lembrei-me da minha dedicação à prática e ao estudo e do poema Observando a Nona Onda, de Ikeda sensei, que se tornou o juramento do Coral Veneza, do qual ainda faço parte. Consta num trecho: “Não há nada que destrua o coração do ser humano, / não há adversidade que supere a coragem do ser humano”.1 Então, como poderia não revelar meu real aspecto num momento crucial? Como orienta Nichiren Daishonin: “Simplesmente decida-se”.2 Eu tinha a convicção de que não estava cega e assumi a responsabilidade de transformar o veneno em remédio para proporcionar uma grande vitória para aquela médica e sua equipe e comprovar mais uma vez a veracidade do budismo.
Reprodução/Foto-RN176 Cida (como Aparecida é apelidada); o filho, André; e a neta, Louise
Uma médica especialista em córnea disse que tinha apenas 1% de chance de recuperar a visão e teria de passar por um transplante. E, de volta à casa, desabei em prantos, refém de uma mistura intensa de sentimentos.
O tratamento foi muito doloroso; uma guerra entre a resistente bactéria e colírios especiais vindos de São Paulo e aplicados de hora em hora. Numa corrida contra o tempo, passava por consultas diárias porque havia a possibilidade de perfuração da última camada da córnea que resistiu. Em paralelo, o daimoku e o apoio de familiares e das companheiras da DF me mantiveram confiante e sou muito grata por isso.
Passados quinze dias, foi detectado num exame que não havia mais nenhum vestígio da bactéria. Espantado, o médico pediu que o procedimento fosse repetido, mas a vitória foi certa.
Emoção sem igual
Era hora de realizar o primeiro transplante de córnea, enfrentar a chance de um novo ataque bacteriano e a fila de doação, que geralmente demanda muito tempo. Logo, fiz a inscrição no banco de órgãos e no mesmo dia uma córnea foi disponibilizada para mim. Na semana seguinte, o órgão teste foi implantado com sucesso. E em dezembro de 2016, recebi a córnea definitiva, num tempo recorde. Quanta gratidão às pessoas que autorizam a doação de órgãos! Que vitória!
Reprodução/Foto-RN176 Em reunião do Departamento de Estudo do Budismo.
Feliz, participei do Exame de Budismo, com autorização médica, inspirada numa integrante da DF que conheci certa vez numa atividade em São Paulo. Mesmo com baixa acuidade visual, ela se esforçava para estudar com uma apostila adaptada. Eu havia estudado com seriedade e passei na prova!
Em outubro do ano passado, fiz a última cirurgia de correção, desta vez para que o olho esquerdo pudesse ter a mesma capacidade extraordinária a qual alcançamos no olho direito com o tratamento. Que maravilha!
Transformei 1% de chance em 1.000%; e, recuperada, vou me dedicar ainda mais ao estudo do budismo com muita gratidão. Estudar, aprender, apoiar os amigos e compartilhar com eles a filosofia da esperança, junto com Ikeda sensei que nos incentiva com benevolência: “A vitória dos senhores é a minha própria vitória. A felicidade dos senhores é a minha própria felicidade”.3
Notas:
- Brasil Seikyo, ed. 2.145, 25 ago. 2012, p. B2
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. II, p. 89.
- Brasil Seikyo, ed. 2.535, 10 out. 2020, p. 3.
Aparecida Souza, 59 anos. Educadora. Vice-resp. pela DF da Região Estadual Pernambuco, CRE Leste, CGRE.