Nasa lança ao espaço Lucy, missão inédita para explorar asteroides desconhecidos

ROTANEWS176 E POR CNN 18/10/2021 11:09                                                                                                          Por Ashey Strickland

Missão de 12 anos nos ajudará a entender formação do Sistema Solar e viajará bilhões de quilômetros

A primeira missão da Nasa que voará até oito asteroides antigos já está no ar. A Nasa divulgou que a espaçonave foi lançada ao espaço às 6h43 da manhã, horário de Brasília.

A agência havia anunciado ontem que as condições meteorológicas na hora do lançamento seriam 90% favoráveis na Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral.

Lucy sai em uma missão de 12 anos para explorar os asteroides troianos de Júpiter, que nunca foram observados. O nome dos asteroides vêm da mitologia grega e eles orbitam o Sol em dois grupos – um a frente de Júpiter, o maior planeta do nosso sistema solar, e um segundo que fica atrás do planeta.

Até agora, nossos únicos vislumbres dos asteroides troianos foram ilustrações de artistas e animações. A Lucy trará as primeiras imagens de alta resolução deles.

Lucy é a primeira espaçonave criada para visitar e observar esses asteroides, que são remanescentes dos primeiros dias do nosso sistema solar. A missão ajudará pesquisadores a voltarem no tempo para entender como o Sistema Solar se formou há 4,5 bilhões de anos. Ela ainda ajudará cientistas a entender como os planetas acabaram em suas posições.

“No coração de Lucy está a ciência e como ela vai nos comunicar sobre os asteroides troianos”, disse Thomas Zurbuchen, administrador associado do Diretório de Missão Científica da Nasa.

“É tão importante ir lá e observar os asteroides porque eles nos contarão um capítulo da nossa história – nesse caso, como os planetas exteriores estavam se formando no Sistema Solar”, disse Zurbuchen. “Ainda estou impressionado pelo fato de que se você pegar uma pedra ou olhar para um desses corpos planetários e adicionar ciência, aquilo se torna um livro histórico”.

Visitando asteroides misteriosos

Há cerca de 7 mil asteroides troianos e o maior deles tem 250 quilômetros de diâmetro. Os asteroides representam o material restante que rondava planetas gigantes do nosso sistema solar durante sua formação, incluindo Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Embora eles compartilhem a órbita com Júpiter, os asteroides ainda estão muito distantes do planeta em si – quase tão longe quanto Júpiter está do Sol, de acordo com a Nasa.

A espaçonave deve passar por um asteroide dentro do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter e então irá explorar sete dos troianos. Ao longo do curso da missão, Lucy irá passar de volta para órbita da Terra três vezes para que a gravidade possa empurrá-la para o caminho certo. Isso fará da Lucy a primeira espaçonave a ir para Júpiter e voltar para a Terra.

Reprodução/Foto-RN176 Ilustrações de asteroides troianos que serão visitados por Lucy / NASA

A missão pega seu nome emprestado do fóssil Lucy, os restos de um antigo antepassado humano descoberto na Etiópia em 1974. O esqueleto ajudou pesquisadores a reunir aspectos da evolução humana. Os cientistas do time da Lucy da Nasa esperam que a missão alcance resultados semelhantes ao estudar a história do nosso sistema solar.

Os asteroides troianos “são mantidos lá pelo efeito gravitacional de Júpiter e do Sol. Se havia um objeto lá no início da história do Sistema Solar, ele tem sido sempre estável”, disse Hal Levison, pesquisador principal da missão Lucy, no Centro de Pesquisa do Sudeste, em Boulder, Colorado. “Essas coisas realmente são os fósseis da formação dos planetas”.

Tanto o fóssil quanto a missão têm em comum a música “Lucy in the Sky With Diamonds”, dos Beatles. E é por isso que o logo da missão Lucy inclui um diamante.

Ao longo dos 12 anos, Lucy irá viajar por aproximadamente 6,4 bilhões de quilômetros a uma velocidade de aproximadamente 643 mil quilômetros por hora (17.881 metros por segundo).

A Lucy irá visitar especificamente esses asteroides com nomes de herói que você deve conhecer da Ilíada de Homero: Eurybates, Queta, Polymele, Leucus, Orus, Patroclus e Menoetius.

Eurybates não é um dos asteroides troianos, mas foi escolhido por ser o maior remanescente de uma grande colisão massiva, significando que pode revelar o que está por dentro de um asteroide. Observações feitas com o Telescópio Hubble descobriram que um pequeno asteroide chamado Queta é um satélite do Eurybates.

Cada um dos asteroides que a Lucy irá visitar variam em tamanho e forma.

“Uma das coisas realmente surpreendentes dos asteroides troianos que vimos quando começamos a observá-los é como eles são diferentes entre si”, disse Levison. “Então se você quer entender o que eles dizem sobre a formação dos planetas, você precisa entender o que significa essa diversidade; e é isso o que a Lucy pretende fazer.”

Um feito da engenharia

A espaçonave Lucy tem mais de 14 metros de ponta a ponta, principalmente por conta dos seus gigantescos painéis solares – cada um com a largura de um ônibus escolar – concebidos para manter uma fonte de energia para os instrumentos da nave. Mas a Lucy também tem combustível necessário para ajudar a executar algumas manobras habilidosas no caminho dos asteroides.

Foi necessário um time de mais de 500 engenheiros e cientistas para conceitualizar e construir a nave, disse Donya Douglas-Bradshaw, gerente de projetos do Espaço de Voos Espaciais Goddard da Nasa.

“A Lucy será a primeira missão da Nasa a viajar para tão longe do Sol sem energia nuclear”, disse Joan Salute, diretor associado de programas de voo da Divisão de Ciência Planetária da Nasa. “Para gerar energia suficiente, a Lucy tem duas grandes matrizes solares circulares que se abrem como leques. Elas se abrem de forma autônoma e simultânea – e isso acontece uma hora depois do lançamento.”

A Lucy usará três instrumentos científicos para estudar os asteroides, incluindo câmeras coloridas e em preto e branco, termômetro e um espectrômetro de infravermelho para determinar a composição dos materiais de superfície dos asteroides. A espaçonave irá se comunicar com a Terra utilizando antena, que também pode ser usada para determinar a massa dos asteroides.

Os instrumentos permitirão ao time de cientistas pesquisarem por luas em torno desses asteroides, assim como as crateras nas suas superfícies – o que pode ajudar a determinar suas idades, assim como a origem e a evolução dos asteroides.

A Lucy passará pelos asteroides a uma velocidade de aproximadamente 24 mil quilômetros por hora (6.705 metros por segundo), quase quatro vezes mais lenta do que quando a espaçonave New Horizons da Nasa passou por Plutão e o distante objeto Arrokoth, disse Hal Weaver, um dos principais pesquisadores do instrumento L’LORRI no Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins.

A Lucy estará a aproximadamente 965 quilômetros de distância de cada asteroide durante seu voo, enquanto a New Horizons estava a 3.218 quilômetros de Arrokoth – o que significa que as imagens dos troianos terão resolução quatro vezes melhores.

Uma vez que a missão Lucy terminar, a equipe pretende propor uma nova missão para explorar mais troianos. A espaçonave irá permanecer em órbita estável que retraça o caminho de sua exploração entre a Terra e Júpiter – e não haverá a hipótese de colidir com nenhum dos dois durante 100 mil anos. Eventualmente, se a órbita se tornar instável, provavelmente a espaçonave irá a uma missão suicida rumo ao Sol ou será chutada para fora do Sistema Solar.

(Texto traduzido. Leia o original aqui.)