O ATAQUE A PEARL HARBOR QUE NÃO DEU CERTO

ROTANEWS176 E AIRWAY  04/01/2016 17h25                                                                                             THIAGO VINHOLES

HISTÓRIA

Com objetivo de destruir alvos esquecidos no primeiro ataque, o Japão tentou uma arriscada operação

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Reprodução/Foto-RN176 Os hidroaviões japoneses H8K podiam cumprir missões de 24 horas (Fotos – Domínio Público)

O ataque surpresa do Japão que arrasou a frota da Marinha dos Estados Unidos em Pearl Harbor, no Havaí, foi devastador. Dezenas de navios foram aniquilados por torpedos e bombas lançadas por um enxame de aviões japoneses. Apesar do bem-sucedido ataque, alguns alvos foram ignorados durante a ofensiva e um deles era essencial para frear ainda mais qualquer chance de reação imediata dos EUA no Oceano Pacífico, então dominado pelos orientais.

As duas ondas com mais de 350 aviões japoneses que atacaram o porto em 7 de dezembro de 1941 afundaram mais de uma dezena de navios de combate, destruíram 188 aviões em solo e deixaram outros 154 danificados, bombardearam prédios de instalações militares e nos arredores, deixando mais de 2.400 mortos. Os depósitos de combustível da Marinha dos EUA, no entanto, sofreram danos mínimos.

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Reprodução/Foto-RN176  O saldo para o Japão foi de 29 aviões abatidos, 74 danificados e os cinco submarinos perdidos.

Destruir esses depósitos atrasaria ainda mais as chances de uma reação rápida dos EUA, que ficaria sem um meio de abastecer as embarcações da frota do Atlântico que foram remanejadas para Pearl Harbor. Com esse objetivo, a Marinha Imperial do Japão, então já em estado de guerra contra os EUA e seus aliados, lançou a “Operação K”.

Preparativos

Sem chances de realizar um novo ataque surpresa com uma horda de aviões contra o Havaí, uma vez que as defesas na ilha estavam em alerta constante e reforçado, o Japão escolheu uma nova estratégia, mais enxuta.

Desta vez, a única possibilidade do Japão atacar Pearl Harbor novamente seria com um bombardeio em alta altitude. Além disso, a missão recebeu dois adendos: colher dados sobre os danos do primeiro ataque e atacar pontos em reconstrução e instalações de socorro.

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Reprodução/Foto-176 Os hidroaviões foram transportados de navio até as Ilhas Marshall

Em vez de 354 aeronaves, como no primeiro ataque, na Operação K seriam utilizados apenas cinco hidroaviões Kawanishi H8K, que podiam cumprir missões de vigilância e defesa marítima com 24 horas de duração sem descanso ou paradas para reabastecimento.

Os H8K eram uma das mais novas aquisições da Marinha Imperial do Japão. Desenvolvido para operar somente na água em missões de reconhecimento em longa distância, o aparelho era fortemente armado. O hidroavião foi equipado com cinco metralhadoras de 7,7 mm e outros cinco canhões de 20 mm para se defender de caças hostis.

A capacidade de bombas do H8K, devido ao perfil operacional da aeronave, destinada a missões de vigilância, era limitada: podia levar 1.600 kg de bombas em fixações nas asas ou um torpedo de 1.000 kg alojado no porão interno. Por isso, o ataque deveria ser preciso.

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Reprodução/Foto-RN176 O primeiro ataque a Pearl Harbor destruiu importantes embarcações da Marinha dos EUA

Longa missão

O novo ataque a Pearl Harbor foi marcado para o dia 4 de abril de 1942, quase 17 semanas após o primeiro e devastador ataque. Para realizar a Operação K, os bombardeiro teriam de fazer um longa viagem para viajar por um caminho ainda sem cobertura dos EUA.

Os hidroaviões foram deslocados parcialmente desmontados em embarcações até as Ilhas Marshall e de lá fariam um longo voo de 3.100 km até o atol Mokupapapa, a 900 km de Honolulu. Nesse ponto, os hidroaviões seriam abastecidos por submarinos japoneses e voariam em direção a Pearl Harbor na maior altitude possível.

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Reprodução/Foto-RN176 Os H8K levavam uma tripulação de 10 homens, sendo pelo menos 7 em posições de armas

No dia do ataque, porém, a Marinha do Japão conseguiu preparar dois H8K. Essa seria a primeira missão de combate da aeronave na Segunda Guerra Mundial e os oficiais e tripulações japoneses ainda estavam aprendendo a lidar com a complexidade do avião de quase 30 metros de comprimento e 38 m de envergadura.

Sendo assim, apenas dois aviões foram enviados para a longa missão, cada armado com quatro bombas de 250 kg. O plano inicial era lançar era decolar a meia noite do dia 4 de abril e assim alcançar Pearl Harbor pela manhã com condições de visibilidade para o bombardeiro. Contudo, relatórios enviados por submarinos japoneses infiltrados próximos do Havaí indicaram mau tempo na região e a decolagem foi adiada. As aeronaves decolaram apenas quatro horas depois, na escuridão da madrugada, após a chegada de um novo informe meteorológico relatando condições favoráveis para o ataque.

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Reprodução/Foto-RN176 A longa missão dos hidroaviões teve o apoio de submarinos em regiões remotas do Oceano Pacíco

Últimas explosões no Havaí

Os dois hidroaviões H8K cumpriram todo o plano de voo com sucesso e após reabastecerem em Mokupapapa seguiram para o ataque a Pearl Harbor. Ao se aproximar do Havaí, porém, a previsão do tempo enviada pelos submarinos se provou errada, erradíssima.

Voando em alta altitude, próximos dos 10 mil metros, os aviões foram recebidos no Havaí com um céu totalmente encoberto, que impedia qualquer chance de mira para lançar as bombas. Mesmo assim, as aeronaves seguiram se orientando por mapas e lançaram suas bombas às cegas onde acreditavam que estavam os depósitos de combustível. E erraram feio.

As bombas lançadas por um H8K caíram no mar, na baia de Pearl Harbor, enquanto o outro aparelho atingiu uma região remota e desabitada no Havaí, nessas que foram as últimas explosões no belo arquipélago do Pacífico.

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Reprodução/Foto-RN176  Para evitar novos ataques surpresa do Japão, os EUA espalhou diversos radares pelo Havaí

Os hidroaviões japoneses, ao se aproximarem de Pearl Harbor, foram detectados pelas estações de radar na ilha e um alerta foi lançado, diferente do primeiro ataque, quando a horda de aviões do Japão foi confundida com uma frota de bombardeiros B-17 que chegaria no Havaí no mesmo dia. Em solo, a artilharia anti-aérea foi preparada e caças foram lançados para interceptar a ameaça.

Após lançar as bombas, os H8K evadiram e retornaram para o atol de reabastecimento e em seguida para as Ilhas Marshall, onde relataram o fracasso da missão devido as condições climáticas.

Com o resultado negativo da Operação K e os riscos envolvidos com os reforços recém-introduzidos no Havaí, o Japão desistiu de destruir os tanques de combustível e decidiu enfrentar a ameaça dos EUA, que avançaria pelo Pacífico arrasando as forças japonesas justamente com suporte de Pearl Harbor.