O Brasil no espaço

ROTANEWS176 E POR ISTOÉ 05/03/2021 09h30                                                                                                                    Por  Brian Alan

Equipamento de vigilância 100% nacional lançado na base indiana de Satish Dhawan envolveu investimentos de R$ 380 milhões e pode recolocar o País na corrida espacial

Reprodução/Foto-RN176 1 – Satélite sendo preparado para o lançamento 2 – Acoplagem do aparelho demandou cuidados especiais: são mais de 14 mil conexões elétricas e 6 quilômetros de fios 3 – O Amazônia-1 percorreu mais de 752 quilômetros em 17 minutos para entrar em órbita (Crédito: Divulgação)

Já era hora de alçar voos rumo ao espaço com nossas próprias forças. Após tentativas frustradas de desbravar o universo, como no acidente na Base de Alcântara, no Maranhão, em 2003, o Brasil conseguiu um feito inédito na última semana e finalmente lançou seu primeiro satélite com produção 100% nacional. O “Amazônia-1” partiu do Centro Espacial Satish Dhawan, na cidade de Sriharikota, na Índia, e é fruto de uma parceria entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O equipamento levou mais de treze anos para ficar pronto e tem como objetivo monitorar o desmatamento da Floresta Amazônica, minimizar os efeitos de desastres naturais e também auxiliar na produção agrícola, visto que consegue monitorar uma faixa de aproximadamente 850 km do território brasileiro, com resolução de 60 metros. Segundo Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia, o feito pode mudar os rumos da produção espacial brasileira nos próximos anos. “O satélite tem uma importância muito grande para o desenvolvimento de sistemas espaciais e também da nossa indústria”, disse em entrevista à TV Brasil. Estima-se que o custo da empreitada gire em torno de R$ 380 milhões, e coloca o Brasil ao lado de apenas outros vinte países que conseguiram dominar o ciclo completo de desenvolvimento dos materiais: design, construção e operação. Deste modo, o País passa a ter capacidade até para comercializar tecnologia espacial para outras nações.

 Reprodução/Foto- Reprodução/Foto-RN176 OPERAÇÃO Informações serão úteis para o monitoramento da região amazônica e da produção agrícola em todo o território nacional (Crédito:Divulgação)

Futuro promissor

O Brasil já possui dois satélites em órbita: CBERS-4 e o CBERS-4A. Ambos foram desenvolvidos em conjunto com a China, mas agora, com a experiência bem-sucedida do Amazônia-1, é provável que a independência esteja mais próxima. “A Missão Amazônia-1 consolida o conhecimento do Brasil no desenvolvimento integral de uma missão espacial utilizando satélites estabilizados em três eixos, visto que os satélites de sensoriamento remoto anteriores foram desenvolvidos em cooperação internacional”, disse o INPE.

Reprodução/Foto-RN176 SENSORIAMENTO REMOTO Satélite está posicionado a 750 km de altitude e leva 100 minutos para orbitar a Terra

Assim como outras potencias mundiais, a meta do Ministério de Ciência e Tecnologia é reforçar a cultura espacial no País. Inclusive, já prepara mais dois satélites de sensoriamento remoto: Amazônia-1B e Amazônia-2. Os dois ainda não tem previsão exata de lançamento. “Isso abre perspectivas para fornecimento de materiais para outros países e agências espaciais”, diz o comunicado. Como vivemos em plena era da tecnologia, em breve o espaço estará na palma da mão dos brasileiros. Através do site oficial do INPE, qualquer pessoa poderá acessar as imagens do Amazônia-1. O recurso faz parte do programa Deter, que fiscaliza o desmatamento de florestas e compartilha dados com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Por hora, os registros chegarão de cinco em cinco dias, mas, sob demanda, o prazo pode diminuir para 48 horas. Quanto à Base de Alcântara, acredita-se que até o final deste ano ela estará pronta para lançar microssatélites – o máximo que pode fazer, por ora. Em novembro de 2020, o Senado aprovou o uso comercial da base.

Mesmo que a nova ferramenta seja capaz de combater a degradação da natureza, talvez desagrade parte dos integrantes do governo, sobretudo o presidente Bolsonaro. Ele já criticou o INPE há alguns anos com a justificativa de que eles deveriam “filtrar” as informações antes de disponibilizá-las na internet. O nome do satélite foi escolhido como uma homenagem à floresta, até porque nos últimos anos o índice de desmatamento na região bateu recordes históricos. Recentemente, por meio do decreto 10.631, Bolsonaro impôs sigilo de dados e também a dispensa de licitação para a contratação de obras ou compra de serviços relacionados ao lançamento de veículos espaciais, entre outros. A medida pode estar relacionada com a compra, sem licitação, de um satélite-radar finlandês, avaliado em cerca de R$ 175 milhões. Especialistas afirmam que o equipamento não era necessário, mas mesmo assim foi adquirido. Com o Amazônia-1, esse radar importado da Finlândia tornou-se ineficaz e caro.