ROTANEWS176 14/01/2024 11:40 CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA Por Ho Goku
Capítulo “Sino do Alvorecer”, volume 30
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de pessoas para ilustrar a matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
PARTE 71
A revista Seikyo Graphic havia sido deixada por Ota no restaurante chinês para que a proprietária e os funcionários vissem a grandiosidade da Soka Gakkai.
Uma das funcionárias disse a Shin’ichi:
— Em relação ao presidente Yamamoto, já ouvimos bastante por intermédio da Sra. Ota, vimos sua foto na revista e o conhecemos muito bem. Fico feliz em conhecê-lo pessoalmente.
Shin’ichi trocou aperto de mãos com todos e se despediu deixando o nome do hotel em que estava hospedado.
Nesse dia, ao retornar da viagem, Ota se dirigiu ao restaurante chinês levando alguns presentes e soube que foi procurada por Shin’ichi e comitiva. Ela duvidou disso, pensando: “Não é possível que Yamamoto sensei, presidente da Soka Gakkai, tenha vindo me procurar, eu que sou uma desconhecida”. De toda forma, foi até o hotel onde a comitiva estava hospedada.
Junto com sua esposa, Mineko, Shin’ichi a recebeu calorosamente. Então, Ota relatou que estava um pouco perdida, sem saber o que fazer, por ter sido pedida em casamento por um canadense.
Shin’ichi a incentivou dizendo que a felicidade não era algo que se encontrava em algum lugar distante, mas sim dentro do próprio coração. A prática da fé era justamente para extrair essa felicidade. Ao se empenhar firmemente na fé, com certeza conquistaria a felicidade, sejam quais fossem as circunstâncias.
— Portanto, mesmo que os sofrimentos sejam enormes, jamais deve abandonar a fé. Deve se empenhar na prática da fé até o final, com perseverança, com humildade e de forma concreta onde quer que esteja, em qualquer lugar do mundo.
A felicidade se encontra no caminho do kosen-rufu.
Alguns anos depois, Ota se casou com esse canadense e se mudou para o Canadá.
E agora, Shin’ichi dialogava com Miki Carter, seu nome de casada, com seu esposo e com o filho dele, o administrador da pista de esqui. Shin’ichi se sentia muito feliz pelo fato de aquela senhora ter persistido na prática da fé com base nas orientações daquela ocasião. As sementes plantadas dezessete anos antes haviam desabrochado como flores no Canadá, após superar um período de ventanias e de nevascas.
Ao continuar plantando as sementes chamadas “incentivo”, ampliam-se os jardins do kosen-rufu.
PARTE 72
Shin’ichi disse a Miki Carter:
— Por favor, daqui em diante, continue se empenhando na prática da fé, tal como a água corrente. A continuidade é a condição primordial para se atingir o estado de buda nesta existência. É por isso que Nichiren Daishonin afirma em seus escritos: “Aceitar é fácil; manter é difícil. Porém, para se atingir o estado de buda é necessário manter a fé”.1 Viva em prol da felicidade das pessoas, rumo ao ideal do kosen-rufu. Aí se encontra também a própria felicidade.
A escritora canadense Lucy Maud Montgomery deixou registrado: “Por existir um ideal, a vida é grandiosa e maravilhosa”.2
No dia seguinte, 24 de junho, Shin’ichi visitou a sede regional de Toronto, localizada na King Street West, nessa cidade. Recitou gongyo com cerca de 150 representantes e orou pela boa saúde e felicidade de todos. Ele declarou:
— Com convicção, esperança e coragem, gostaria que avançassem tendo como lema “jamais abandonar a fé, por toda a vida”.
Na sequência, junto com os membros, ele visitou as cataratas do Niágara
Vinte e um anos antes também, havia visitado esse local. Mas, observar a paisagem das quedas d’água produzindo um barulho estrondoso e uma enorme neblina era sempre algo majestoso. Ele admirou as cataratas por algum tempo e as registrou também em fotos.
Na mente de Shin’ichi voltaram as lembranças daquele dia quando contemplou o arco-íris formado nas cataratas: “Águas volumosas correm de forma incessante e caem vigorosamente. É por essa razão que se cria uma neblina, e sob a luz do sol, forma-se o arco-íris. Da mesma maneira, no caminho do kosen-rufu, a vida das pessoas que continuam avançando diariamente de forma ininterrupta com volumoso espírito de luta em seu coração é dinâmica, e em seu topo resplandece sempre o arco-íris da esperança”.
Analisando o arco-íris do kosen-rufu do Canadá que se desenvolveu a partir de uma única pessoa, Shin’ichi sentia profundamente que “ações são, em si, a alegria” e “ações são, em si, a esperança”.
A comitiva visitou também a Casa de Laura Secord, considerada a heroína da independência canadense. Essa residência, que se tornou o palco da história, estava localizada a cerca de 15 quilômetros das cataratas do Niágara.
PARTE 73
Em 1813, continuava a guerra entre os Estados Unidos e a Inglaterra devido ao domínio inglês sobre uma região da América do Norte (parte do Canadá). Queenston, onde ficava a residência de Laura Secord, também se tornou um local de sangrentas batalhas. O marido dela lutou como soldado inglês e acabou ferido. A Casa de Secord foi tomada pelo Exército americano e utilizada como hospedagem pelos oficiais. Certo dia, ela acabou ouvindo, casualmente, sobre um plano de invasão do Exército americano às bases inglesas. Se o plano fosse bem-sucedido, a península do Niágara cairia nas mãos do Exército americano.
“Preciso transmitir essa informação ao Exército britânico!”
Porém, a base do Exército britânico se localizava a mais de 30 quilômetros. Seu esposo ainda não havia se recuperado dos ferimentos. Então, Laura decide que iria pessoalmente levar tal comunicação. Ela caminhou desesperadamente pelos bosques onde nem havia trilhas. E ainda era território inimigo. Para uma mulher caminhar a pé sozinha, a intranquilidade e as dificuldades devem ter sido enormes.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de pessoas para ilustrar a matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
Graças à valiosa informação transmitida por ela, o Exército britânico se preparou plenamente contra a invasão e o Exército americano não conseguiu conquistar a vitória.
Laura salvou o Exército britânico do perigo iminente por meio de uma ação ao custo da própria vida, mas por longo tempo suas contribuições não foram reconhecidas. Mesmo após a morte do marido, que havia se tornado uma pessoa com deficiência física na guerra, ela continuou sua luta contra as ondas bravias da sociedade. Laura Secord só recebeu atenção em 1860 quando o príncipe Albert Edward (posterior Edward VII) da Inglaterra visitou o Canadá. Na ocasião, o príncipe disse que primeiro ouviria sobre a árdua luta dela. Laura já estava com 85 anos. E, mesmo depois, até a sua morte aos 93 anos, sua vida simples continuou da mesma forma.
A casa dela era um pequeno sobrado branco feito de madeira. Parece que fora restaurado em 1972, mas a lareira e a chaminé construídas em tijolos, como também a máquina de tear manual, faziam-nos sentir a vida simples do passado. Sentindo profunda emoção, Shin’ichi Yamamoto disse aos membros da comitiva:
— Conclusivamente, o trabalho de uma única mulher protegeu o Exército britânico e o Canadá. Uma única pessoa é realmente importante. É como se diz: “Uma única pessoa que luta desesperadamente vence um exército”.
PARTE 74
Ele disse à sua esposa, Mineko, que estava ao seu lado:
— O modo de vida de Laura Secord se assemelha ao das integrantes da Divisão Feminina da Soka Gakkai, não é? Para salvar o Exército britânico, ela agiu bravamente. Havia forte convicção e coragem. E, mesmo tendo sido uma pessoa que prestou enorme contribuição, nunca demonstrou arrogância ou poder. Apoiou o esposo, e como mãe criou silenciosamente os filhos. É realmente o próprio modo de vida das componentes da Divisão Feminina.
Concordando, Mineko respondeu com sorriso no rosto:
— De fato. Por trás de um grande movimento da história, há muitos casos de esforço e dedicação da mulher. Porém, raramente essa situação é reconhecida.
— Sim, eu também penso que seja exatamente assim. É por isso que, em todos os lugares que eu vá, tento procurar os heróis e as heroínas em meio às pessoas comuns do povo, como se utilizasse uma lanterna para iluminar as raízes de um capinzal.
Shin’ichi disse, ainda, aos membros da comitiva:
— São realmente muitas as pessoas que, mesmo anônimas, dedicam esforços pelo kosen-rufu com o sentimento de dar a vida em prol da paz e da felicidade das demais. É algo místico e maravilhoso. A cada dia, fortaleço a convicção de que a Soka Gakkai é onde se reuniram os budas e os bodisatvas da terra. Com o sentimento de focalizar e homenagear essas pessoas, mesmo por pouco, venho tomando ações tais como realizar plantio comemorativo com o nome dos companheiros meritórios de cada localidade e de gravar o nome dos membros em placas de bronze nos centros culturais. O líder não deve, jamais, avaliar as pessoas pelas suas funções na organização ou suas posições sociais. Deve, sim, verificar e discernir de vários ângulos, quem são as pessoas que mais empreenderam esforços pelo kosen-rufu, com suor e devoção. Em especial, deve se manifestar máximo respeito por aquelas de mérito dos bastidores, valorizando-as, admirando-as e anunciando-as a todos. Somente o profundo sentimento de gratidão com as pessoas que lutam arduamente nos bastidores traz o calor humano à organização. Quando isso deixar de acontecer, a organização se tornará fria e burocrática.
PARTE 75
Mesmo que não sejam admirados ou homenageados, à luz do princípio de causa e efeito da vida chamado Lei budista, os esforços pelo kosen-rufu se tornam integralmente benefícios e boa sorte. O Buda observa a tudo. Esse é o princípio de “iluminar claramente o obscuro” (myo-no-shoran). Portanto, do ponto de vista da fé individual, é essencial que se lute exaustivamente, encarregando-se com coragem dos árduos esforços em prol do kosen-rufu, da Lei e dos companheiros, considerando-os como prática budista, e consciente de sua própria convicção, independentemente de as pessoas observarem ou não.
Acima dessa premissa, o líder deve reconhecer e louvar o esforço de todos, e se preocupar em como homenageá-los para que os membros sintam alegria e se dediquem à prática da fé com boa disposição.
A comitiva de Shin’ichi saiu para os jardins da Casa de Laura Secord onde prosseguiu a conversa.
— A vitória do Exército britânico se deu graças à colaboração dedicada com a própria vida de uma senhora do povo chamada Laura. Da mesma forma, todo movimento só alcança o sucesso se houver simpatia, aprovação, apoio e colaboração das pessoas do povo. Na promoção do kosen-rufu também, é de suma importância valorizar sempre as pessoas à sua volta e a sociedade, e estender profundas raízes na comunidade local, prestando contribuição a ela. Portanto, pode-se dizer que a amizade e a atenção com a vizinhança no dia a dia e a contribuição para a comunidade local são condições indispensáveis para promover o kosen-rufu. Com atitude de se distanciar da sociedade e da comunidade local, não haverá, de forma alguma, o desenvolvimento do kosen-rufu. Além disso, ela criou seus filhos, cuidando do esposo que havia se ferido. Um ponto importante como ser humano é o modo de vida com pé no chão que não despreza a base fundamental da vida familiar. Essa é a força das pessoas do povo. Quando essas pessoas se levantam, pode-se mudar a sociedade pela raiz. Nosso movimento pelo kosen-rufu visa realizar isso de forma concreta em meio à própria realidade. Os protagonistas desse movimento são as integrantes da Divisão Feminina.
Shin’ichi disse essas palavras dirigindo o olhar para Teruko Izumiya. Com brilho nos seus grandes olhos pretos, ela concordava com a fisionomia repleta de decisão. Com essa visita de Shin’ichi, o Canadá alçava voo rumo a uma nova etapa do kosen-rufu mundial.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Notas:
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 492, 2020.
2. MONTGOMERY, L. M. Anne de Avonlea. Tradução: Yuko Matsumoto. Editora Shueisha.
Ilustrações: Kenichiro Uchida
FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO