ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 23/09/2022 13:48 CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA
Por Ho Goku
Capítulo “Levantando Voo”, volume 30
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da matéria – Ilustrações: Kenichiro Uchida
Após o encontro com Su Buqing, Shin’ichi recebeu a visita do escritor Ba Jin à noite no hotel.
Ba Jin era um autor mundialmente prestigiado pelas obras como Family [Família] e Cold Nights [Noites Geladas], que também atuava como primeiro vice-presidente da Associação de Escritores da China. Era a segunda vez que se encontravam.
Eles se conheceram no Centro de Treinamento da Soka Gakkai de Shizuoka em 5 de abril, pouco antes da viagem de Shin’ichi à China, quando Ba Jin visitava o Japão como chefe de uma delegação de escritores chineses. Também estava presente naquela ocasião, Bing Xin, uma das escritoras mais famosas da literatura moderna chinesa, presidente honorária da Associação de Escritores da China e vice-chefe da delegação que visitava o Japão. Juntos, eles desfrutaram uma agradável e animada discussão a respeito de literatura, da situação do círculo literário japonês e de escritores japoneses como Murasaki Shikibu e Natsume Soseki.
Seis dias após a reunião (em 11 de abril), Ba Jin foi orador convidado em uma série de palestras patrocinadas pelo jornal Seikyo Shimbun. Em seu discurso, ele declarou:
— Escrevi para combater inimigos.
Ao longo de sua carreira, o escritor chinês empunhou sua caneta movido pela ardente chama e pelo desejo de despertar aqueles que, reprimidos pelo código ético feudal que permeava a China antes da revolução, estavam enclausurados no inferno do sofrimento e tiveram a juventude roubada.
São palavras de Ba Jin: “Quais são meus inimigos? Todas as noções tradicionais ultrapassadas, todas as políticas e sistemas irracionais que impedem o progresso da sociedade e o desenvolvimento do potencial humano, tudo o que destrói o amor”.
Ele tinha 75 anos, mas ainda transbordava o espírito guerreiro que luta contra os inimigos do povo.
— Fico profundamente impressionado com seu espírito jovem — disse Shin’ichi a Ba Jin [na reunião no Centro de Treinamento de Shizuoka]. E prosseguiu:
— Um dos maiores problemas do Japão na atualidade é que os jovens, que deveriam ser porta-bandeiras e agentes da mudança, ficaram apáticos, sucumbindo à resignação e ao escapismo. O estado atual da literatura é parcialmente responsável por isso. Acho verdadeiramente lamentável que existam tão poucos escritores e livros ricos em filosofia e ideais que possam proporcionar aos jovens princípios sólidos, grande esperança e elevados objetivos eternos para a vida. Sempre foram os jovens, o poder da juventude, que vieram mudando a sociedade. Eles têm a missão de criar o futuro e possuem a capacidade real de fazê-lo. Os jovens não podem desistir. Se eles o fizerem, estarão jogando fora o próprio futuro.
PARTE 14
Em sua conversa no Japão, Shin’ichi Yamamoto havia dito a Ba Jin e aos outros escritores chineses visitantes: “Da próxima vez, vamos discutir a respeito de revolução e literatura, política e literatura, paz e literatura, entre outros assuntos”. Todos se comprometeram a se encontrar novamente.
Então, Shin’ichi se reencontrou com Bing Xin em um banquete de agradecimento em Pequim, em 24 de abril, que ele ofereceu aos seus anfitriões na sua quinta visita à China. Agora, em Xangai, concretizava-se o segundo encontro de diálogo com Ba Jin.
Quando Shin’ichi perguntou a opinião de Ba Jin a respeito de política e literatura, ele respondeu sem hesitação:
— A literatura não pode ser separada da política. Mas a política nunca pode substituir a literatura. A literatura pode construir o espírito humano, mas a política não.
Em seguida, eles falaram sobre a Revolução Cultural da China.
Durante a Revolução Cultural, Ba Jin foi rotulado de contrarrevolucionário e expulso da esfera literária. Milhares de cartazes condenando-o estavam colados nas paredes e ele foi denunciado como traidor da pátria. O escritor enfatizou que era importante que ele avaliasse seriamente o sofrimento pelo qual passou, analisasse minuciosamente esses fatos e esclarecesse o que havia acontecido naquele momento.
Em suas observações na série de palestras no Japão no início do mês (em 11 de abril), ele disse:
— Eu tenho de escrever. Vou continuar a escrever. Para isso, devo me tornar uma pessoa melhor, mais pura e mais útil. Minha vida logo se encerrará. Não quero ir embora sem ter feito tudo o que devo fazer. Eu tenho de escrever. Não consigo repousar minha caneta. Acendo as chamas do meu coração com uma caneta, e eu as manterei acesas até elas consumirem todo o meu corpo, tornando-o cinzas. Meu amor e ódio serão deixados para a posteridade sem desaparecer jamais deste mundo.
Não devemos ignorar os erros que acontecem em nosso mundo. Precisamos contemplar profundamente suas causas e sua essência, e iniciar uma luta pelo bem do futuro.
Em sua conversa com Shin’ichi, Ba Jin disse:
— Comecei a escrever um romance sobre a Revolução Cultural. Pretendo demorar um pouco para escrevê-lo, dedicando-lhe um bom tempo.
O espírito de luta pela verdade e pela justiça é o que constrói uma nova sociedade.
PARTE 15
Com os encontros, os indivíduos se tornam “conhecidos”; mediante várias conversas, tornam-se “amigos”; e pela dedicação sincera, consideração e empatia mútua, eles se transformam em “amigos do coração” ou “amigos íntimos”.
Shin’ichi Yamamoto e Ba Jin continuaram a manter contato, criando laços de profunda confiança e forte amizade.
Mais tarde, Ba Jin se tornou presidente da Associação de Escritores da China. Em novembro de 2003, a associação se uniu à Fundação da Literatura Chinesa para homenagear Shin’ichi com o Prêmio Literário Internacional de Compreensão e Amizade.
Dois anos mais tarde, em 2005, Ba Jin faleceu aos 100 anos.
Bing Xin havia falecido em 1999 aos 98 anos. Em 1997, dois anos antes, a Sociedade de Pesquisa Bing Xin, presidida por Ba Jin, criou o Museu de Literatura Bing Xin em Changle, província de Fujian, para preservar e promover o legado dessa escritora. Em setembro de 2004, o museu concedeu a Shin’ichi o título de diretor honorário e, para sua esposa, Mineko, o de embaixadora da amizade.
Em resposta a essas expressões de grande consideração, Shin’ichi e Mineko renovaram a decisão de dedicar ainda mais esforços na promoção da amizade e do intercâmbio cultural e artístico entre Japão e China.
O dia 29 de abril era a data em que a delegação da quinta visita à China retornaria ao Japão. O gerente-geral do hotel Jin Jiang, onde o grupo estava hospedado, solicitou a Shin’ichi que escrevesse algo no livro de visitas do estabelecimento. Shin’ichi assinou seu nome e registrou um poema:
Uma ponte de ouro
Nesta quinta visita à China —
Admoestação a Hachiman.
Em seu escrito Admoestação a Hachiman, Nichiren Daishonin escreveu: “A lua se move do oeste para o leste, um sinal de como o budismo da Índia se propagou na direção leste. O sol nasce no leste, um sinal auspicioso de como o budismo do Japão está destinado a retornar à Terra da Lua (Índia)”. 1 É a profecia de Daishonin do “retorno do budismo para o oeste”.
Ele confiou aos discípulos das épocas posteriores a missão de iluminar a Ásia e o mundo com a luz do humanismo do Budismo Nichiren e edificar a felicidade para todas as pessoas. Shin’ichi prosseguiu realizando suas viagens pela paz devotando a vida para tornar realidade essa profecia.
Nossa missão social como budistas que objetivam concretizar o ideal de “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra” [rissho ankoku] é estabelecer no coração das pessoas o princípio filosófico da dignidade da vida e da compaixão e edificar uma sociedade próspera e uma paz mundial duradoura.
PARTE 16
Uma nova luta em direção ao novo século foi iniciada.
Às 13h40 do dia 29 de abril, Shin’ichi Yamamoto e os outros integrantes da delegação partiram do Aeroporto Internacional Hongqiao de Xangai de volta para o Japão. O destino de Shin’ichi era Nagasaki, em Kyushu.
Ele estava determinado a iniciar uma nova luta para abrir um novo caminho do kosen-rufu. Aquela era hora de se libertar dos grilhões impostos a ele pela conspiração de traidores da Soka Gakkai e dos sacerdotes da Nichiren Shoshu, que pretendiam romper o elo de mestre e discípulo Soka. Com esse objetivo em mente, Shin’ichi decidiu participar de sessões de Gongyo Comemorativo e de outras reuniões em Nagasaki, Fukuoka, Osaka, Nagoya, entre outros, no caminho de volta da China, para incentivar de corpo e alma os companheiros.
Shin’ichi estava ciente de que essa ação provocaria uma reação das forças da maldade que tentavam obstruir o kosen-rufu, mas ele tinha decidido firmemente em seu coração que, independentemente do que acontecesse, protegeria os membros que vinham sofrendo com os ataques maliciosos das autoridades do clero.
Reprodução/Foto-RN176 O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku. Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI Fotos: Seikyo Press – Ilustrações: Kenichiro Uchida
Um lindo arco-íris se formou no céu onde está situado o aeroporto de Nagasaki naquele dia. O avião de Shin’ichi e comitiva aterrissou ali pouco depois das 16h30 do dia 29 de abril.
Shin’ichi Yamamoto parou na base da escadaria para descer do avião. Uma grande faixa com os dizeres “Parabéns pelo grande sucesso da 5a Delegação da Soka Gakkai à China!” estava estendida no mirante do aeroporto e uma multidão de membros da Soka Gakkai acenava entusiasticamente dando as boas-vindas pelo retorno.
Shin’ichi correspondeu a todos e acenou de volta. Sua batalha de incentivos começou naquele momento.
A alegria transbordava no semblante de todos.
O líder da província de Nagasaki, Tsuguya Umemori, estava com um sorriso radiante, mas assim que apertou a mão de Shin’ichi, a emoção aflorou e seus olhos se encheram de lágrimas. A cidade de Omura, onde ficava o aeroporto de Nagasaki, era um dos lugares onde os membros tinham sido intimidados e assediados pelos sacerdotes da Nichiren Shoshu. Contendo as lágrimas de revolta e de indignação, todos aguardaram pacientemente pela chegada desse dia.
Shin’ichi então bradou:
— O leão está aqui! Tudo ficará bem. Não se preocupem!
Uma representante da Divisão Feminina de Jovens (DFJ) disse:
— Sensei! Muito bem-vindo de volta!
— Obrigado! Vamos, agora é hora da nova partida. A longa jornada pelo kosen-rufu já se iniciou! Vamos abrir o portal do futuro!
Enquanto continuarmos avançando, um amanhã cheio de esperança chegará. E enquanto a chama do nosso espírito de luta arder, o futuro será repleto do brilho da luz do sol.
Nota:
- The Writings of Nichiren Daishonin[Os Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, v. II, p. 936, 2006
Ilustrações: Kenichiro Uchida