O início de uma história dourada

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  07/08/2021 09:26

ECONTRO COM O MESTRE

Em 14 de agosto de 1947, o jovem Ikeda participa de uma reunião de palestra e lá ele conhece um homem que seria seu eterno mestre, Josei Toda. Neste discurso, o Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI),relata como esse encontro mudou sua vida e o movimento pelo kosen-rufu.

Reprodução/Foto-RN176 Da direta paraesquerda Josei Toda Mestre o Educador e Pacifista e o Segundo Presidente da Soka Gakkai, e Daisaku Ikeda  com o mesmo coração, mestre e discípulo caminham juntos (Shizuoka, Japão, mar. 1958) Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

  1. DAISAKU IKEDA

Era uma noite tranquila. As famílias provavelmente já haviam terminado o jantar, e o silêncio tomava conta do lugar. Um pequeno grupo de pessoas seguia apressado pelas ruas escuras para certa casa em Kojiya, na região de Kamata, no bairro de Ota, em Tóquio, para participar de uma reunião de palestra.

O dia era 14 de agosto de 1947, data decisiva que mudou para sempre o rumo da minha vida. Nessa ocasião, firmei a promessa e o compromisso com o presidente Josei Toda de ingressar na Soka Gakkai, que cumpri dez dias depois, em 24 de agosto.

Estava com 19 anos quando participei daquela reunião de palestra. Josei Toda, meu mestre, me aguardava como um pai afetuoso. Nosso encontro foi um momento solene, atemporal, no fluxo eterno. Naquele dia, jurei me tornar discípulo do presidente Josei Toda e dedicar a vida ao kosen-rufu.

O encontro ocorrido naquela noite quente e úmida de verão, exatamente dois anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, foi palco de emocionantes histórias de pessoas simples descobrindo uma nova esperança na vida. Do lado de fora, o breu cobria as ruas sem iluminação, e muitas partes de Kamata ainda estavam pontilhadas de imagens sinistras de extensas áreas carbonizadas pelos bombardeios do período da guerra. O sofrimento dos cidadãos comuns de bom coração, muitos dos quais experimentaram a perda cruel de entes queridos, era profundo e persistente.

Tão jovem, eu me perguntava severamente todos os dias quem era o responsável por aquela dor. Era adolescente e sofria de tuberculose, a qual me deixava febril e com dores todas as noites. Buscava algum tipo de estrela-guia, uma bússola que me conduzisse a uma vida de esperança. Uns amigos me disseram que haveria uma reunião sobre filosofia de vida. Portanto, fui até lá sem ter consciência de que espécie de encontro me aguardava.

Creio que cheguei ao local aproximadamente às 20 horas, quando as ruas já estavam escuras. Tirei os sapatos na entrada e ouvi uma voz alegre, levemente rouca, vindo de dentro da sala. Foi a primeira vez que ouvi Toda sensei falar. Ele explanava o tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra. Nessa obra, Nichiren Daishonin expõe sua grandiosa filosofia para a edificação de uma sociedade pacífica.

Na explicação proferida em minha primeira reunião, Toda sensei injetou sua paixão e decisão de despertar o mundo para o perigo que existia. Era o rugido de um leão declarando a essência do Budismo Nichiren.

A explicação dele não apresentava um budismo antiquado e sem vida; revelava um caminho nobre para um futuro radiante, uma estrada sublime repleta de convicção e dinamismo colossais.

Depois da explanação, começou um diálogo informal. Mastigando balinhas de menta, ele conversou com franqueza e naturalidade. Não havia nenhum traço da arrogância condescendente e afetada tão comum entre personalidades religiosas e políticas que não são genuínas. Apesar de ser nosso primeiro encontro, senti-me à vontade para expor as indagações que residiam em meu jovem coração.

— Qual a maneira correta de viver? — perguntei.

Minha voz talvez tenha soado com uma intensidade incomum.

Tinha 13 anos quando a guerra irrompeu (em 1941), e 17, quando ela acabou. Passei o período mais suscetível da minha vida sob nuvens escuras e espessas da guerra. A tuberculose me atormentava, a sombra da morte parecia me seguir por todos os cantos — do lado de fora, a ameaça era a guerra, e, dentro de mim, a tuberculose. Com a derrota do Japão, todas as convicções em relação à nação e à vida que havia mantido até então se desmantelaram completamente.

Qual seria o modo de vida verdadeiro? A que deveria dedicar minha vida? Esses eram os questionamentos que estavam sempre martelando a mente.

As respostas de Toda sensei foram claras e convictas. Ele não recorreu a nenhum jogo intelectual ou a enganações que ofuscassem o ímpeto da minha preocupação.

Cansado da atitude paternalista que muitos adultos adotavam em relação aos jovens, fiquei comovido com a sinceridade dele. Queria viver como uma pessoa intrépida, que não se curvasse a nenhuma espécie de opressão das autoridades. Por isso, procurava uma filosofia prática que me ajudasse nessa empreitada.

Eu era apenas um rapaz comum em busca de um caminho na vida. Tenho certeza de que minha sincera e fervorosa devoção ao caminho de mestre e discípulo me possibilitou uma vida inigualável, dedicada ao bem supremo.

Numa palestra proferida na Faculdade de Pedagogia da Universidade de Colúmbia (em junho de 1996), expressei sobre a profunda dívida de gratidão que tenho com Toda sensei, declarando: “Noventa e oito por cento do que sou hoje, aprendi com ele”.

Reprodução/Foto-RN176  Em visita ao Centro Cultural da SGI-Itália, presidente Ikeda cumprimenta jovens que foram recebê-lo (Florença, Itália, maio 1994)  Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

A relação de mestre e discípulo é exclusiva dos seres humanos. Ao seguirmos o caminho de mestre e discípulo, podemos nos desenvolver e nos aprimorar. Aí reside o segredo para concretizarmos nosso pleno potencial humano.

Enquanto puder, quero transmitir aos meus jovens sucessores tudo o que tenho para lhes ensinar. Quero confiar o futuro a eles. Espero que vocês, como meus discípulos, compreendam profundamente meu espírito e propósito.

Fonte:

Discurso do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, adaptado da série de ensaios “Reflexões sobre a Nova Revolução Humana”, publicada em japonês no Seikyo Shimbun, em 14 de agosto de 2002. No Brasil, foi veiculada no jornal Brasil Seikyo, ed. 2.403, 20 jan. 2018.