O melhor combustível

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  10/07/2021 07:23

COLUNISTA

O consumo de bons alimentos é essencial para o equilíbrio da nossa microbiota e, consequentemente, para manter nosso cérebro saudável

Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustração – Editorial Brasil Seikyo – BSGI

Em nosso último texto da coluna sobre nutrição, destacamos a importância dos cuidados com o intestino. Neste, refletiremos sobre a relação entre a microbiota intestinal e o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Evidências indicam que a microbiota tem grande importância na comunicação entre intestino e cérebro, influenciando no metabolismo, processos inflamatórios, entre outros. TDAH é um distúrbio do neurodesenvolvimento. Surge ainda na infância, geralmente antes da idade escolar, prejudica o desenvolvimento do conjunto de habilidades do jovem e geralmente é caracterizado pela falta de atenção e pela hiperatividade. É hereditário, mas fatores ambientais também podem estar envolvidos no desenvolvimento do distúrbio.

Estudo feito por pesquisadores chineses analisou o intestino de dois grupos de crianças com diagnóstico de TDAH, um composto por crianças saudáveis e outro sem tratamento, para avaliar se há diferença nas microbiotas intestinais de ambos e sua relação com os sintomas do distúrbio.1 Para isso, 83 amostras de matéria fecal foram coletadas e analisadas, e o resultado da pesquisa indicou que há alterações da microbiota em casos de doenças psiquiátricas. Além disso, chegou-se à conclusão de que a preservação da diversidade microbiana intestinal na infância é essencial para um bom desenvolvimento do sistema nervoso central. Consequentemente, também é uma forma de prevenir doenças que estão relacionadas com o desenvolvimento neural.

Alimentos ultraprocessados

É importante observar ainda que mudanças na saúde intestinal acontecem em longo prazo. E para termos seus inúmeros benefícios, é preciso cuidar constantemente desse órgão incrível chamado intestino, inclusive com o que ingerimos. Um dos grandes vilões são os alimentos ultraprocessados, produtos fabricados com pouco ou nenhum alimento in natura, mas que levam muitos ingredientes de cunho industrial. Biscoitos recheados, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo e refrigerantes são exemplos desse tipo de alimento.

Uma boa dica é dar preferência aos alimentos in natura, aqueles obtidos diretamente da natureza, provenientes de plantas ou de animais, tais como grãos (castanha-do-pará, caju, amendoim [sem sal], semente de girassol e de abóbora torrada), tubérculos, todo tipo de frutas e de hortaliças. São considerados in natura também leite fresco, carne e ovos cozidos. Quando os alimentos sofrem alterações mínimas, como limpeza, empacotamento, secagem, moagem, congelamento, passam a ser considerados como minimamente processados.

Não podemos ignorar outros alimentos prejudiciais, como as gorduras saturadas e o açúcar. Quando consumidos em grande quantidade, intervêm nos processos inflamatórios no hipocampo e prejudicam a memória, a concentração e a velocidade na captação de informações.

Fast-food

Já sabemos que uma alimentação equilibrada está diretamente relacionada à saúde, certo? Mas você sabe exatamente o que acontece no seu corpo quando consome excessivamente fast-food, aquela refeição rápida de grandes lanchonetes? O intestino é o primeiro a sofrer. Aos poucos, o epitélio (tecido que reveste o intestino) vai afrouxando e permitindo a passagem de substâncias inflamatórias. A microbiota também é alterada, passando a produzir mediadores inflamatórios, causando uma inflamação sistêmica de baixo grau, aquela que favorece doenças degenerativas. E no cérebro pode gerar a chamada “neuroinflamação”, inflamação crônica, geralmente associada ao envelhecimento. Proporciona também déficit de concentração e alterações de humor (sintoma mais fácil de notar).

Reprodução/Foto-RN176 Ana Paula Cony nuricinista; funcional, espotiva, mestre em ciência da saúde

O corpo é uma máquina que realiza funções complexas o tempo todo. Para que ele funcione corretamente, é preciso abastecê-lo com combustível de qualidade. Tudo bem sair da dieta uma vez ou outra, o problema é quando a má alimentação vira rotina.

Bom combustível

Por outro lado, existem alimentos que podem potencializar nossa capacidade cognitiva, como concentração e aprendizagem. Exemplo é consumo de frutas como morango, açaí, jabuticaba, frutas vermelhas e jambolão, ricas em substâncias que ajudam a retardar doenças cardiovasculares e na melhora da memória e da concentração. Já o consumo de gorduras mono e poli-insaturadas, presentes no azeite extravirgem e nas castanhas, contribuem para a transmissão de impulsos nervosos e para a integridade da membrana da célula. Outros agentes importantes, que possuem atividade antioxidantes, são luteína, zeaxantina, selênio, zinco e vitamina E. Como sempre alertamos aqui, o ideal é montar sua dieta com profissionais de confiança, pois bons hábitos alimentares só trazem vantagens.

Numa mensagem enviada para a Divisão Feminina, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, orienta: “Por maiores que sejam as dificuldades neste momento, é possível ‘transformar o veneno em remédio’ infalivelmente”.2 Portanto, é necessário refletir sobre como podemos melhorar nossa saúde, agindo efetivamente e tendo como base a prática budista. Grandes transformações serão concretizadas e a própria revolução humana decorrerá desse esforço, pois, com coragem, esperança e convicção, tudo é possível; sempre é possível.

Notas:

  1. JIANG, H. Y.; ZHOU, Y. Y.; ZHOU, G. L. et al. Gut Microbiota Profiles in Treatment-naïve Children with Attention Deficit Hyperactivity Disorder. Behav Brain Res. v. 347, p. 408-413, 2018.
  2. Brasil Seikyo, ed. 2.518, 6 jun. 2020.