ROTANEWS176 E POR ISTOÉ 02/10/20 09h30 Por Brian Alan
Pesquisadora acredita que uma Aurora Boreal afetou os equipamentos de navegação do barco, causando o acidente
Reprodução/Foto-RN176 COLISÃO Após bater em um iceberg submerso a embarcação naufragou: tragédia histórica (Crédito: Divulgação)
Objeto de estudo há mais de um século, o Titanic, considerado um dos navios mais icônicos da história da navegação, está de novo nos holofotes. Por meio de um estudo publicado na Royal Meteorological Society, Mila Zinkova, pesquisadora da Universidade da Califórnia, afirma que uma Aurora Boreal pode ter causado o acidente da famosa embarcação. De acordo com a teoria, em 15 de abril de 1912, data do naufrágio, a região do Atlântico Norte foi atingida por uma tempestade geomagnética causada por uma Aurora Boreal. No caso, o impacto teria sido tão intenso que desconfigurou os aparelhos de navegação, como bússolas e rádios comunicadores.
“A tempestade geomagnética pode ter sido tão grande que influenciou a navegação de maneira significativa. Mesmo que a bússola tenha se movido apenas um grau, pode ter feito toda a diferença”, afirma Mila.
A embarcação tinha quase 270 metros de comprimento, 53 metros de altura, 46 mil toneladas e capacidade para mais de 3500 passageiros, considerada o primor tecnológico dos mares no início do século passado. Estima-se que o custo da sua fabricação ultrapassou os US$ 7,5 milhões, valor altíssimo para o período. Embora tivesse conforto e os mais modernos recursos, a navegação era limitada e contava principalmente com a bússola para se guiar nas viagens.
Reprodução/Foto-RN176 No fundo no céu as listas largas verdes é a chamada A Aurora Boreal brilhava
Para chegar a uma constatação fundamentada, a meteorologista voltou no tempo e analisou a condição climática estimada no Atlântico Norte e documentos da viagem. Mesmo com os esforços de equipes de resgate, o acidente vitimou mais de 1400 pessoas. “A Aurora Boreal brilhava intensamente disparando raios do horizonte norte”, disse um dos oficiais da RMS Carpathia, companhia que atuou nos resgates pós-colisão, de acordo com a meteorologista. “A maioria das pessoas que relataram osdesdobramentos do acidente não sabem que tipos de luzes foram vistas naquela noite”, explicou.
Para profissionais da engenharia, os fatores que resultaram no desastre são diversos e estão relacionados a falhas técnicas e mecânicas, não fenômenos naturais. “Eu não concordo com essa teoria da Aurora Boreal. De fato há casos de campos magnéticos, porém, em 1912, época do acidente, ainda não existia radar, era só bússola. Não tinha como saber do iceberg”, afirma Claudio Ruggieri, professor do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da USP.
Tempestade fatal
Reprodução/Foto-RN176 “Discordo dessa teoria da aurora. Na época do acidente ainda não existia radar, era só bússola. Não tinha como saber que um iceberg estava no caminho”, Claudio Ruggieri, engenheiro da USP (Crédito:Divulgação)
Para Fabio Gonçalves, professor associado do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP, tempestades magnéticas realmente podem ser catastróficas, porém, não é o caso da tragédia com o Titanic. “Naquela época, os barcos tinham vigias que observavam o que vinha pela frente. Acho que realmente foi um acidente, os condutores não tinham como ver o iceberg”, afirma o estudioso. Em um trecho de sua teoria, Mila reconhece que a falta de recursos foi preponderante no acidente. Com um radar, talvez, os condutores pudessem ter mudado sua rota, mas a tecnologia ainda não fora descoberta.
Fabio cita que no século 20, em meados de 1859, uma enorme tempestade geomagnética afetou todas as partes do mundo. Seu poder teria sido tão intenso que os sistemas de telégrafos da Europa e America do Norte entraram em pane, postes ficaram sem luz e diversas cidades foram impactadas. Segundo estudiosos do centro de Pesquisas Atmosféricas e Ambientais (AER), nos Estados Unidos, não há perspectiva de que algo parecido ocorra nos próximos anos, mesmo assim, alertam que se acontecesse os prejuízos seriam catastróficos. “Se tivéssemos uma tempestade magnética intensa nos dias de hoje, seria um desastre extremo. Afetaria carros, aviões, celulares. Impactaria em quase tudo que utilizamos, pois somos reféns da tecnologia digital e elétrica”, diz Gonçalves.