ROTANEWS176 E POR ISTOÉ 09/10/20 09h30 Por Brian Alan
Estudo inédito de um cientista francês revela os esboços por baixo da icônica pintura do século 16. As teorias mais recentes questionam a origem oficial da obra mais famosa de Leonardo da Vinci
Reprodução/Foto-RN176 POLÊMICA O quadro ainda gera curiosidade cinco séculos após a sua criação: teorias conflitantes colocam em risco a versão de que ele retrata a esposa de um comerciante italiano (Crédito: Divulgação)
Por meio de um extenso processo de pesquisa divulgado no jornal cientifico Cultural Heritage, o pesquisador Pascal Cotte descobriu esboços inéditos por baixo da pintura da Mona Lisa, uma das obras de arte mais icônicas da história. Cotte foi o primeiro cientista a identificar os traços originais na pintura de Leonardo da Vinci, fato que abre precedentes para novas teorias sobre a origem do quadro.
Reprodução/Foto-RN176 “As incertezas na história da Mona Lisa ajudaram a tornar a obra icônica, um símbolo da cultura pop até hoje. A verdade é que ninguém sabe muito sobre ela” – Mirtes Moraes, historiadora da PUC-SP (Crédito:Divulgação)
Apoiado por sua câmera multiespectral, aparelho desenvolvido por ele ao longo de 15 anos, o francês recebeu autorização exclusiva do Museu do Louvre e coletou do quadro cerca de 1.650 imagens digitais de alta definição. A câmera funciona de acordo com a teoria da fotografia infravermelha, técnica que amplifica as camadas dos objetos analisados e permite a leitura de desenhos subjacentes, ou seja, os primeiros traços feitos pelos artistas antes mesmo da inserção de tintas na tela. São detalhes praticamente invisíveis aos olhos humanos. “O Louvre me convidou para analisar Mona Lisa justamente porque inventei essa câmera multiespectral de alta resolução e sensibilidade”, declarou o cientista ao jornal Artnet News.
Ao analisar os traços iniciais na obra, Cotte identificou linhas de carvão em partes mais claras da tela, o que comprova o uso da técnica conhecida como “Spolvero”, prática comum na estética renascentista do início do século 16 (a pintura é datada de 1503). No caso, Leonardo da Vinci teria feito pequenos furos nos contornos do desenho e utilizou carvão para transferi-lo para a tela com o máximo de exatidão – procedimento semelhante ao utilizado na pintura com papel vegetal. O cientista conseguiu identificar um grampo presente no canto superior direito da cabeça de Mona Lisa, fato que reforça a possibilidade de a obra ser uma ficção criada por Da Vinci, já que na época da concepção do quadro o acessório não era usado entre as mulheres. “Não é possível que Mona Lisa tivesse um cabelo assim. Na época isso seria impossível, uma vez que não era moda na cidade de Florença”, disse Cotte.
Para especialistas em história da arte, a novidade é apenas mais um dos vários mistérios que cercam a pintura. “Ela tem uma aura mágica e repleta de dúvidas, e isso ajudou a torná-la uma das obras mais icônicas da história da arte. Até hoje ninguém sabe com certeza se ela existiu ou se é a representação feminina de Leonardo da Vinci”, afirma Mirtes de Moraes, doutora em História pela Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Teorias
Há teses de todos os tipos sobre a origem Mona Lisa. A mais popular garante que ela é a representação de Lisa Gherardini, esposa do comerciante florentino de tecidos Francesco del Giocondo – daí o apelido “La Gioconda”. Os novos teóricos se dividem em três possíveis caminhos: a obra pode mostrar uma versão feminina de Leonardo da Vinci; trata-se de um retrato de Salai, possível amante do pintor; ou o artista criou a pintura do zero, a partir de uma personagem de ficção inspirada em uma deusa. Até hoje não há um veredito definitivo sobre sua origem.
Em 1911, a obra foi furtada do Museu do Louvre e passou cerca de dois anos desaparecida. Com ampla repercussão na mídia, o caso fez com que a aura em torno de Mona Lisa ganhasse força, o que tornou o quadro ainda mais conhecido. “Ela virou um símbolo da cultura pop, todo mundo quer sempre saber mais sobre ela. As polêmicas e mistérios, por vezes, chamam mais a atenção do que seu valor artístico”, afirma Mirtes de Moraes.
Em 2018, o Museu do Louvre recebeu mais de 10 milhões de visitantes, muitos deles interessados em ver Mona Lisa pessoalmente. O cuidado em torno da pintura é tanto que o museu criou uma barreira de cerca de quatro metros entre o visitante e o quadro, como medida de proteção. Apesar da distância física entre o público e o quadro ter aumentado, pelo jeito estamos cada vez mais perto de descobrir os segredos por trás da origem do quadro mais
famoso do mundo.