O supremo valor da vida

ROTANEWS176 15/03/2025 11:05                                                                                                                              NOVA REVOLUÇÃO HUMANA                                                                                                                                  Por Ho Goku

Capítulo “Juramento Seigan”, volume 30

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustração da matéria – ilustração de  Kenichiro Uchida

PARTE 17

A exposição Ameaça Nuclear no Mundo Atual era dividida em três partes: “Destruição Atômica em Hiroshima e Nagasaki”, “Informação Factual sobre a Capacidade das Armas Nucleares” e “Desarmamento e Desenvolvimento”.

Na primeira parte, “Destruição Atômica em Hiroshima e Nagasaki”, estavam painéis de fotos retratando a destruição das duas cidades após o bombardeio atômico e também uma maquete da Cúpula da Bomba Atômica de Hiroshima [uma das poucas construções que permaneceram de pé no marco zero], além de cerca de trinta artefatos e outros itens resultantes das explosões, como roupas queimadas que tinham sido usadas pelas vítimas e telhas derretidas pelo intenso calor. Havia ainda uma seção mostrando o cenário do que aconteceria caso fosse detonada uma bomba nuclear sobre a cidade de Nova York.

As pessoas só conseguem sentir e tomar profunda consciência da natureza aterrorizante das armas nucleares ao ouvirem diretamente a voz dos sobreviventes da bomba atômica que vivenciaram os dolorosos e terríveis efeitos colaterais e verem com seus olhos as consequências das explosões em imagens de vídeo e de artefatos reais da destruição. Para criar maior solidariedade pela paz e pela oposição a tais armas, é essencial as pessoas sentirem a ameaça na própria pele e no fundo da sua vida, e não apenas pelo reconhecimento e pela compreensão teórica e intelectual.

A exposição da Soka Gakkai na Organização das Nações Unidas (ONU) causou grande repercussão. Foi vista por mais de 200 mil pessoas, incluindo o secretário-geral Javier Pérez de Cuéllar e outras autoridades máximas das Nações Unidas, grande número de embaixadores e diplomatas, e representantes de diversas ONGs.

A dona de uma livraria em New Jersey compartilhou suas impressões após visitar a mostra. Ela disse que não conseguia acreditar que o ser humano tenha perpetrado algo tão horrível; aquilo lhe causava náuseas. Observou que se uma bomba nuclear de um megaton explodisse sobre Nova York, a cidade onde ela mora seria destruída. E declarou que uma guerra nuclear deveria ser evitada a todo custo.

A segunda sessão especial sobre desarmamento na Assembleia Geral das Nações Unidas começou com a Campanha Mundial de Desarmamento. Como parte dessa iniciativa, a exposição Ameaça Nuclear no Mundo Atual foi apresentada no saguão da sede europeia das Nações Unidas em Genebra no ano seguinte, em 1983.

Então, a exposição foi levada subsequentemente para paí-ses como Índia, Canadá, China e União Soviética. E até a realização da terceira sessão especial sobre desarmamento na Assembleia Geral das Nações Unidas, a partir de 31 de maio de 1988, a mostra foi exposta em 25 cidades de dezesseis países, incluindo sete cidades no Japão. Mais de 1,2 milhão de pessoas viram a exposição, cumprindo um papel significativo na conscientização de todas sobre a importância da paz.

A força motriz desse movimento se encontrava nos jovens da SGI e seus dedicados esforços expressavam a consciência como budistas em prol da paz.

PARTE 18

Certa vez, Josei Toda disse a Shin’ichi Yamamoto:

— Para a paz da humanidade, é importante apresentar propostas concretas e agir assumindo a liderança visando à sua realização.

E ele acrescentou:

— Mesmo que tais propostas não sejam aceitas e realizadas de imediato, elas se tornam faíscas pelas quais se espalham as chamas da paz. Teorias abstratas são sempre vazias e fúteis. Mas propostas concretas se tornam “pilares” para sua realização e “telhados” para proteger a humanidade.

Shin’ichi veio pondo em prática essa orientação do seu mestre. Por ocasião da segunda sessão especial sobre desarmamento na Assembleia Geral das Nações Unidas de 1982, ele apresentou a Proposta para Desarmamento e Abolição das Armas Nucleares. No dia 3 de junho, poucos dias antes do início da sessão especial, a delegação da Soka Gakkai entregou a proposta de Shin’ichi ao secretário-geral da ONU, Pérez de Cuéllar.

Na proposta, Shin’ichi expressa sua crença de que as ONGs de caráter e objetivos transnacionais podem ser fundamentais para ajudar a promover o desarmamento. Ele também pediu à Assembleia Geral das Nações Unidas que, com base no consenso dos Estados não possuidores de armas atômicas, aprove uma resolução que exija um firme compromisso das potências nucleares, especialmente dos Estados Unidos e da União Soviética, da não utilização preventiva de armas nucleares. Além disso, propôs que as Nações Unidas criassem um comitê especial para o estabelecimento de organizações que preservam a paz em regiões livres dessas armas com o objetivo de criar uma rede global pela paz.

Na primeira sessão especial sobre desarmamento na Assembleia Geral das Nações Unidas, ocorrida em maio de 1978, Shin’ichi também havia apresentado uma proposta com dez itens para o desarmamento e a abolição das armas nucleares. Ele não podia fechar os olhos para essas armas de destruição em massa que continuavam ameaçando a humanidade com sua aniquilação.

E, em 1983, comemorando o oitavo aniversário do Dia da SGI, em 26 de janeiro, Shin’ichi apresentou sua primeira proposta anual de paz intitulada Nova Proposta para a Paz e o Desarmamento. Nela, ele clamou pela urgente realização de uma reunião de cúpula entre Estados Unidos e União Soviética visando um rápido acordo sobre o congelamento dos arsenais nucleares nos níveis atuais. Também propôs a criação de um “Centro de Prevenção de Guerra Nuclear” e a rea-lização pelos Estados Unidos e pela União Soviética de uma “Conferência Internacional sobre o Congelamento de Gastos Militares”.

Então, todos os anos, no Dia da SGI, Shin’ichi continuou apresentando ao mundo a Proposta de Paz comemorativa com o propósito de provocar uma nova onda de paz. A voz possui
o poder de mover o coração das pessoas e de mudar a sociedade e o mundo. Um novo passo se inicia a partir da nossa fala.

PARTE 19

Em maio de 1983, a SGI foi registrada como uma organização não governamental com status consultivo do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.

No dia 8 de agosto do mesmo ano, o presidente da SGI, Shin’ichi Yamamoto, recebeu o Prêmio da Paz das Nações Unidas. O subsecretário-geral de Informação Pública da ONU,
Yasushi Akashi, entregou o prêmio, constituído por uma carta de recomendação do secretário-geral acompanhada da Medalha da Paz das Nações Unidas, numa cerimônia realizada no Centro Internacional da Amizade da Soka Gakkai, localizado em Shibuya, Tóquio. Participaram também o diretor do Centro de Informações da ONU, David Exley, e outros funcionários das Nações Unidas. Na carta do secretário-geral da ONU, Javier Pérez de Cuéllar, constava a seguinte justificativa de outorga desse prêmio ao líder da SGI:

Vossa Senhoria realizou esforços incessantes para promover a compreensão e a amizade entre as nações, desenvolvendo amplo movimento de apoio aos propósitos e aos princípios da Carta das Nações Unidas. (…) Apresentou propostas construtivas visando ao desarmamento e alívio às tensões internacionais, em especial, o desarmamento nuclear que é a questão de vital importância na atualidade. (…) Além disso, as diversas contribuições da Soka Gakkai e da SGI sob sua liderança para as atividades de informação pública das Nações Unidas tornaram-se uma poderosa ajuda para os nossos esforços em fortalecer ainda mais o apoio popular aos objetivos e ideais da ONU.

O caminho é longo, mas precisamos continuar. Essa ação tenaz e perseverante expande as ondas concretas da paz no mundo. Se no mundo todo levantarem-se vozes pela extinção das armas nucleares, com certeza haverá mudanças na época.

Em 1989, Shin’ichi recebeu o Prêmio Humanitário, concedido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, em reconhecimento pelas suas contribuições por longo tempo na ajuda aos refugiados.

Na ocasião, ele manifestou:

— Esse Prêmio Humanitário não foi concedido a mim, particularmente. É o resultado dos dedicados esforços humanitários realizados como budistas pelos membros da Divisão dos Jovens em conjunto com as atividades do Comitê da Paz da Soka Gakkai. Aceito esse prêmio como sinal de reconhecimento mundial aos nossos esforços coletivos.

A origem do movimento pela paz da Soka Gakkai encontra-se na luta do seu presidente fundador, Tsunesaburo Makiguchi, contra a opressão do governo militarista japonês que adotou o xintoísmo do Estado como seu pilar espiritual para unir a população à guerra. Makiguchi se recusou veementemente a aceitar o talismã xintoísta, que era uma coação ordenada pelas autoridades militaristas visando ao controle ideológico das pessoas. E assim em julho de 1943 foi preso e encarcerado junto com seu discípulo Josei Toda.

PARTE 20

Recusar-se publicamente a aceitar o talismã xintoísta no período de guerra sob controle de pensamento representava um confronto contra as autoridades do país em busca da liberdade de pensamento e de crença. Era literalmente uma luta de vida ou morte pelos direitos humanos. E, de fato, Tsunesaburo Makiguchi encerrou a vida na prisão em meio às geadas de outono no dia 18 de novembro de 1944, ano seguinte à sua detenção.

Todas as pessoas possuem o direito fundamental à liberdade de pensamento e de crença. Proteger esse direito representa a base para a paz.

A visão budista que enxerga o estado de buda em todas as pessoas é a base fundamental dos direitos humanos. Makiguchi, que era praticante desse budismo, não teve outra saída a não ser lutar contra o governo militarista que fazia das pessoas ferramentas para atender ao seu intento. Josei Toda, discípu-lo de Tsunesaburo Makiguchi, anunciou em 8 de setembro de 1957 a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, considerando as armas nucleares um mal absoluto que arrebata do ser humano o direito à vida. Foi também fruto de um inevitável posicionamento como praticante do budismo.

Na verdade, o Budismo Nichiren, a base do movimento da Soka Gakkai, é um ensinamento que atribui o supremo valor à vida humana, sem nunca considerar a nação ou o estado como absolutos. Em seus escritos, Nichiren Daishonin se refe-re à autoridade militar máxima do governo de sua época como “soberano deste pequeno país insular”.1

Daishonin também declara: “Pode parecer que, por ter nascido nos domínios do governante, eu deva segui-lo em minhas ações. Porém, jamais o seguirei em meu coração”.2 Essa frase também está incluída na publicação da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), intitulada Direitos Originais do Homem.3

Essa é uma mensagem de Nichiren Daishonin de que as pessoas não são escravas do Estado ou da estrutura social. Nenhuma autoridade é capaz de acorrentar o espírito humano. É verdadeiramente uma declaração de direitos humanos que afirma o valor universal da vida humana, transcendendo os poderes do Estado.

Obviamente, as nações e os governos possuem papel indispensável, e é importante que as pessoas contribuam da melhor forma possível para o seu país, pois suas condições influenciam fortemente a felicidade ou a infelicidade do povo. O ponto essencial é que o povo não existe em prol da nação ou de uma pequena parcela de líderes; a nação é que existe em prol do povo.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Ilustrações: Kenichiro Uchida

Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai-shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 23, 2020.
  2. Ibidem, v. I, p. 605.
  3. Birthright of Man: A Selection of Texts [Direitos Originais do Homem: Uma Seleção de Textos]. Coletânea de Frases Inspiradoras sobre Direitos Humanos, Comemorativa do 20o Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1968.

FONTE: JORNAL BRASIL SEIKYO