Okinawa – “A vida é o tesouro mais precioso — as cores da paz”

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  15/05/2021  06:21

ENCONTRO COM O MESTRE

Da série“Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”.

Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda e sua esposa, Kaneko, experimentam a pintura em esmalte para louça (Centro de Treinamento de Okinawa, mar. 1995) Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Terceiro Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

[Nota do editor: O dia 15 de maio marca a data em que Okinawa foi rea­nexada ao Japão. Essa terra, que mais sentiu e sofreu as atrocidades da guerra, é também aquela em que o presidente Ikeda solidificou sua decisão pela ausência de guerras e jurou a construção da terra do buda de paz e prosperidade eternas junto com os companheiros. O coração do respeito à dignidade da vida que pulsa em Okinawa se transforma em oração para “estabelecer o ensinamento” e une o mundo em um só espírito com generosa amizade. Ampliando cada vez mais o círculo dos incentivos, isso certamente será um alento a todos os amigos que vivem este momento crítico.]

  1. DAISAKU IKEDA

Castelo Okinawa

que se destaca no mundo

imponentemente

no grande oceano

de azul profundo.

Tudo o que possui vida tem seu tom, sua cor. E todas as cores possuem uma característica insubstituível e única.

Quando cada qual permite que o outro faça brilhar livremente a cor da vida assumida para si, e juntos tingem este mundo de maneira radiante e rica — não poderíamos dizer que esta seria uma das imagens que refletiria verdadeiramente a paz?

Uma bela ilha em que tanto o imenso céu, como o profundo ocea­no, o grande solo e também a vida das pessoas irradiam um brilho particular e estão em perfeita harmonia é a minha amada Okinawa.

Em Okinawa, resplandece o inabalável coração do respeito à dignidade da vida. “A vida é o mais precioso tesouro”, definem. Nessa terra pulsa o espírito de uma generosa amizade em que “ao nos encontrar, já somos todos irmãos”.

“Naturalmente, darem-se bem e, ainda, tomarem a iniciativa para se aproximar fraternalmente das pessoas” — essa é a maneira de viver ampliando o círculo de harmonia, transmitido por meio de um dos contos folclóricos de Ryukyu [referente à ilha que faz parte da história de Okinawa] denominado Mura wo Tsukuru Kyoudai [Os Irmãos que Constroem Vilas].

Desde os tempos antigos, as pessoas do reino de Ryukyu não possuíam a característica de um povo de uma nação insular fechada. Elas mantinham um espírito aberto e expansivo como nação marítima e cruzaram bravamente os mares revoltos para avançar em direção à Ásia e ao mundo. Não há como enumerar a quantidade de histórias que narram o resgate de amigos estrangeiros que naufragaram e com que atenciosa hospitalidade foram acolhidos.

Pessoas que tiveram contato com essa calorosa receptividade deixaram na história registros e depoimentos de gratidão e louvor: “O povo de Ryukyu é amigável e de confiança. Além disso, é um povo extremamente feliz”.

De fato, Okinawa é como uma “ponte que liga o mundo”. Uma cultura variada foi desenvolvida em meio ao intercâmbio aberto com o estrangeiro. É também um “reservatório do tesouro de tingimento e tecelagem”, como o padrão colorido de Ryukyu, deslumbrante com sua arte de cores vivas. A origem do padrão salpicado, chamado kasuri, também é de Okinawa.

O grande conselheiro de Ryukyu, Sai On (1682–1761), escreveu: “Ao criar uma dívida de gratidão com alguém, não deixe passar muito tempo para saldá-la”.

Sem jamais se esquecer de sua gratidão, prezar as pessoas ao redor como se fossem de sua família e entoar alegre e harmoniosamente o hino em louvor à vida — podemos dizer que a fonte de luz que colore Okinawa de maneira tão linda é esse seu coração caloroso como o sol.

Como uma ilha do tesouro da paz

[Nota do Editor: Este ano [2020] marca os sessenta anos da primeira visita de Ikeda sensei a Okinawa. O presidente Ikeda fala a respeito do seu sentimento na época, quando estabeleceu seu firme juramento pela paz. E relembrando os inesquecíveis encontros ocorridos nas diversas localidades, em especial na cidade de Okinawa, onde foi realizado o grande festival cultural de 30 mil pessoas, ele anseia pela prosperidade ainda maior de Okinawa.]

Construa o ponto primordial

do glorioso

alicerce da paz

à frente dessa

trágica história.

Quando visitei Okinawa pela primeira vez, em julho de 1960, uni as palmas das mãos e orei profundamente diante dos monumentos de Himeyuri e Shihan Kenji. Nesse momento, estabeleci um firme juramento.

As pessoas de Okinawa, que mais sentiram o sofrimento e o horror da guerra, mais que ninguém, são as que têm o direito de se tornarem felizes. Ou melhor, elas têm de ser felizes a qualquer custo. Por isso, jurei edificar sem falta nessa terra a ilha do tesouro do ideal da paz junto com os meus estimados amigos.

Três meses após a minha primeira visita a Okinawa, voei para a histórica primeira viagem ao exterior. Mas, mesmo considerando minhas viagens pelo mundo expandindo a rede de diálogos desejando a paz, sempre tive Okinawa como ponto de partida do meu coração.

Além disso, em dezembro de 1964, comecei a redigir o romance Revolução Humana em Naha, capital de Okinawa, e, logo no início, escrevi:

Não existe nada mais cruel do que a guerra!

Não existe nada mais terrível do que a guerra!

Esse era o brado que havia herdado do meu mestre, presidente Josei Toda, que lutou incansavelmente contra as arbitrariedades do governo militarista, e era também a decisão compartilhada com meus amigos de Okinawa de acabar com a guerra no mundo.

Reconfirmei com os companheiros de todos os cantos de Okinawa que prezar a cultura da qual essa ilha e terra natal se orgulha e ampliar os círculos de amizade dentro da localidade contribuem para a paz.

Às vezes, eu amarrava o hachimaki [espécie de bandana] na cabeça, vestia o happi [vestimenta típica festiva] e entrava na roda da dança; outras vezes, liderava o coro gritando Iyasaka! [“Viva!”] Iyasaka!. Como cenas de um filme épico, com saudade e nostalgia, eu me lembro vividamente desses episódios e das conversas.

Durante a minha primeira visita, declarei altivamente: “No futuro, Okinawa sem falta se tornará o ‘Havaí do Oriente’. Será um local admirado e venerado pelas pessoas do mundo inteiro e onde elas se reunirão”.

Nada me deixa mais feliz que o fato de os nobres companheiros de Okinawa, como verdadeiros ganjumun [pessoa firme, saudável e vigorosa] — tal como as árvores de gajumaru [Ficus microcarpa], que conseguem suportar violentos vendavais —, terem superado dificuldades e sofrimentos indescritíveis, e seguem edificando uma prosperidade insuperável.

Construir por toda a vida

[Nota do Editor: Aqui, o presidente Ikeda apresenta a trajetória de uma integrante da Divisão Feminina que se devotou à construção da paz sem ser derrotada pelas tempestades do destino. Ele imaginou o futuro, desejando que esse espírito de Okinawa, de prezar a dignidade da vida, envolva o mundo todo.]

Uma líder da Divisão Feminina de Okinawa, com quem minha esposa e eu viemos registrando uma história juntos, outrora vivia seus dias sem conseguir visualizar qualquer esperança diante do fracasso nos negócios do marido, dificuldades financeiras extremas e problemas de doença. No entanto, o casal decidiu que transformaria Okinawa, que foi palco das atrocidades e dos horrores da guerra, na sociedade mais feliz de se viver.

Existe um ditado em Okinawa que afirma que “o mais importante nas pessoas é o coração”. A paz também se inicia a partir do momento em que cada pessoa supera os sofrimentos e as angústias pessoais, deixa de culpar e de chorar pelo destino e passa a realizar sua revolução humana.

Reprodução/Foto-RN176 Foto tirada pelo presidente Ikeda retrata o Mar de Okinawa, que brilha em azul profundo (Vila de Onna, fev. 1997)

Conduzindo o filho pela mão, essa integrante da Divisão Feminina passou a visitar a casa de cada uma das amigas e conhecidas e a incentivava, após ouvir atentamente seus problemas e suas preocupações. Mesmo após a morte do marido, ela sucedeu o desejo dele e percorreu todas as ilhas de Okinawa para levar incentivo. O lema dela era “construir por toda a vida”; “é preciso levar a vida com firmeza, munida de coragem”. É a coragem que constrói a si e é também a força motriz para edificar a paz.

O local em que está o nosso centro de treinamento na Vila de Onna em outros tempos fora a base militar de mísseis “Mace B” dos Estados Unidos com oito plataformas de lançamento. Durante a Guerra Fria, grandes cidades da China, como Pequim, estavam na linha de alcance. Agora, as ruínas dessa plataforma de lançamento renasceram como um monumento pela paz mundial.

O cientista Dr. Joseph Rotblat, presidente honorário das Conferências Pugwash sobre Ciência e Negócios Mundiais que visa acabar com os armamentos nucleares, é uma das pessoas que recepcionei nesse centro de treinamento. Por ser alguém que veio devotando a vida à luta em prol da paz no mundo, o Dr. Rotblat demonstrou profunda empatia com o coração de Okinawa.

“Nós precisamos, agora, uma vez mais, voltar nossos olhos para a dignidade do ser humano e de toda forma de vida” — essas palavras do Dr. Rotblat ainda ecoam fortemente no fundo do meu peito.

“Nada é mais precioso do que a paz.

Nada traz mais felicidade do que a paz.”

“A vida é o mais precioso tesouro” — sempre imagino um reluzente futuro no qual este espírito de Okinawa envolva o planeta e os sorrisos de mães e filhos do mundo inteiro resplandeçam infinitamente

Observando os senhores,

oro para que

haja felicidade

e haja vitória

para os amigos de Okinawa.

No topo: presidente Ikeda e sua esposa, Kaneko, experimentam a pintura em esmalte para louça (Centro de Treinamento de Okinawa, mar. 1995)

Fonte:

Publicado no Seikyo Shimbun do dia 15 de maio de 2020.