ROTANEWS176 E ISTOÉ 24/01/2016 22:11 Gallo Mel Bleil
Em entrevista a blogueiros pró-PT, ex-presidente tenta animar militância e orientar Dilma, mas repertório, além de batido, não emociona, não traz novidades e ele ainda vira chacota nas redes sociais
Durante anos o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de afirmar que, fora do poder, manter-se-ia em silêncio para transmitir a impressão de desapego à Presidência. Na prática, Lula não tem seguido o que pregou lá atrás. No ano passado, disse durante reunião fechada do PT que Dilma e o seu partido estavam “abaixo do volume morto”, numa alusão aos níveis baixos do reservatório da Cantareira. Não seria o primeiro desabafo nem o último sobre a condução do País por Dilma. Sem meias palavras, o petista aproveitou a entrevista concedida a blogueiros amigos do PT na última quarta-feira (20), no Instituto Lula, para disparar novos recados sobre como a presidente deveria atuar para sobreviver ao segundo mandato.
Reprodução/Foto-RN176 O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reúnem os blogueiros pró PT e dar uma entrevista exclusiva
FORA DE FORMA
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Ao traçar um diagnóstico dos principais equívocos de Dilma, em sua avaliação, Lula focou na política de subsídios, que segundo ele levou a uma isenção fiscal de quase R$ 500 bilhões nos últimos anos, e no discurso oportunista adotado durante a campanha eleitoral. “Houve um equívoco político já reconhecido pela presidenta. Foi a gente ganhar as eleições com um discurso (…) e a Dilma dizia que ajuste era coisa de tucano, não coisa dela, mas depois foi obrigada a fazer. Criou um mal estar, ela sabe disso”, desabafou. O petista alfinetou ainda, mais uma vez, a indicação de Joaquim Levy para a Fazenda. “Nem o Levy, que era representante do mercado no ministério da Fazenda, virou governo. Não ganhamos ninguém e perdemos a nossa gente.”
Ao projetar possíveis saídas para a crise, o ex-sindicalista pediu mudanças e agilidade no anúncio da política econômica elaborada pelo novo ministro da pasta, Nelson Barbosa. Em sua fala, Lula deu a entender que a tentativa de aumentar impostos para ampliar a arrecadação deveria ficar em segundo plano, pois “está difícil no Congresso”, e afirmou que “Dilma tem de ter como obsessão a retomada do crescimento e do emprego”. Para isso, ele defendeu “uma forte política de financiamento” voltada para a conclusão de obras inacabadas. “Se o governo não está pondo dinheiro, por que o empresário vai por? O governo precisa tomar a iniciativa”, cobrou.
Embora tenha dito que “o cidadão não pode gastar mais do que ganha”, Lula também voltou a defender uma política de incentivo ao consumo por meio da oferta de financiamentos e créditos consignados. “O que a gente percebe é que está faltando crédito, financiamento. Penso que a presidenta e o Barbosa precisam pensar, não sei pra quando, uma forte política de crédito para investimento e para consumo.”
Como solução para arrecadar os recursos necessários para realizar os investimentos propostos, Lula recorreu ao exemplo da Rússia. “Se fosse a Dilma, fazia como os russos: chamava a China e pactuava um grande projeto de investimentos e dava como garantia o petróleo. Eles precisam e nós temos. Uma crise cria a oportunidade que você faça tudo que não dá para fazer na normalidade”. Outra fonte de renda sugerida está na política de concessões de estabelecimentos públicos para administrações privadas. “Você não está fazendo as concessões de portos e aeroportos, e é importante fazer”, ressaltou.
Ao comentar a atuação política de sua sucessora, Lula apontou a necessidade de mais abertura ao diálogo. “Dilma precisa conversar mais com a sociedade, organizar os partidos, assumir compromissos de seus aliados, porque… política é assim”, defendeu o petista. Mas a pérola para a platéia de convertidos, todos ali integrantes de blogs pró-PT e governo, e por isso destinatários de polpudas verbas publicitárias, veio já quase no final, quando Lula lançou o desafio, que depois virou chacota nas redes sociais: “Não tem uma viva alma mais honesta do que eu neste País”. Obviamente, não foi contraditado.