ROTANEWS176 E POR HOSPITALDOCORAÇÃO 30/10/18 13:41 Por: Dr. Lauro Arruda Câmara Filho
Reprodução/Foto-RN176 Quem foi Geórgios Nicholas Papanicolau Você está aqui:Home/Mídia e Artigos: Nomes e Histórias da Medicina/Quem foi GEÓRGIOS NICHOLAS PAPANICOLAU – O médico Grego Dr.Geórgios Nicholas Papanicolau fazendo pesquisa no labolatório
Geórgios Nicholas Papanicolau nasceu na cidade portuária de Kymi, na costa da ilha de Eubeia, Grécia, em 13 de maio de 1883. Foi o terceiro dos quatro filhos de Maria e Nicholas Papanicolaou. Em 1898, ingressou na Universidade de Atenas para estudar música e humanidades. Depois, por influência de seu pai, que era médico clínico geral, passou a estudar medicina. O pai Nicholas foi também político, tendo sido senador e prefeito de Kymi. Geórgios se formou em 1904, sendo o laureado da turma.
Em janeiro de 1904, foi convocado para o serviço militar no Terceiro Regimento de Infantaria. Em janeiro de 1906, foi promovido a cirurgião assistente, permanecendo no Exército até o fim do tempo obrigatório, em 15 de agosto de 1906. Após dar baixa, Geórgios retornou à Kymi, praticando medicina ao lado do pai. Passou dois anos atuando na periferia de sua cidade natal, assistindo pacientes leprosos. Interessado em seguir carreira de pesquisador, foi para a Alemanha, e no ano de 1910 concluiu formação como PhD em Zoologia na Universidade de Munique, onde foi orientado por Ernst Haeckel, um dos primeiros apoiadores da teoria evolucionista do Darwinismo.
No mesmo ano, retornou à Grécia, onde se casou com Andromache Mavroyene (Mary). Em 1911, o casal se mudou para Mônaco, onde Geórgios começou a trabalhar no Instituto Oceanográfico do principado, participando do time de exploração oceânica do Príncipe Albert I. Com a morte da mãe, em 1912, retornou à Grécia e foi reeincorporado ao Exército como tenente-médico na Primeira Guerra Balcânica. Ainda no Exército, conheceu vários voluntários norte-americanos que lhe disseram que havia muitas oportunidades de emprego e carreira na pesquisa nos Estados Unidos. O casal tomou a corajosa decisão de seguir para Nova York , onde aportou em 19 de outubro de 1913, sem falarem inglês e dispondo de apenas 250 dólares, quantia exigida na época para os imigrantes que entravam no país. Os primeiros dias na América não foram fáceis: Mary trabalhou como costureira em uma loja de departamentos, onde Geórgios foi vendedor de tapetes. Ele trabalhou ainda em um restaurante, onde tocava violino, e como recepcionista no jornal Atlantis, da comunidade grega.
Só em 1914 conseguiu ser contratado para trabalhar no departamento de patologia do Hospital Central de Nova York e no departamento de anatomia da faculdade de medicina da Universidade Cornell, com o pesquisador Charles Stockard, onde sua esposa Mary foi contratada como técnica.
Lá, Geórgios desenvolveu um método de estudo de esfoliação de células epiteliais relacionadas ao ciclo menstrual. Ele era capaz de catalogar o ciclo ovariano e uterino dia a dia em cobaias de laboratório, permitindo-o prever a condição dos ovários, podendo coletar os oócitos no momento adequado. Sua pesquisa foi publicada em 1917, no American Journal of Anatomy. Com o tempo, ele começou a fazer coletas em mulheres, notando que apareciam células malignas no esfregaço de mulheres com câncer cervical. Em 1928, coletou dados suficientes sobre células de carcinoma cervical e sua identificação para apresentar as descobertas em uma conferência em Battle Creek, Michigan. Mas a comunidade científica recebeu essa notícia com ceticismo: muitos médicos e pesquisadores acreditavam que examinar esfregaço de células era inútil. A teoria corrente da época era que biópsia e exame de tecidos era a única maneira de detectar a doença.
Apesar da rejeição inicial, Geórgios persistiu e, em 1939, colaborou com um estudo clínico em Cornell, feito em parceria com o ginecologista Herbert Frederick Traut (1894–1963), para validar o potencial do esfregaço de células cervicais. Eles usaram voluntárias do departamento de ginecologia do hospital central de Nova York, todas passando pela coleta de Papanicolau. Os exames mostraram vários casos assintomáticos de câncer. Alguns estavam em seu estágio inicial, e eram indetectáveis no exame de biópsia. Papanicolau e Traut publicaram suas descobertas em 1943, no estudo chamado Diagnosis of uterine cancer by the vaginal smear, onde discutiram a preparação para o esfregaço cervical e vaginal, as mudanças citológicas durante o período menstrual, os efeitos de várias condições patológicas e as mudanças observadas com a presença de câncer no cérvix, no endométrio e no útero.
A técnica do esfregaço de células cervicais logo se tornaria o conhecido Teste de Papanicolau. Como o teste era capaz de detectar o câncer antes de qualquer sintoma, os médicos agora podiam tratar a doença antes que ela se espalhasse. Como resultado, a mortalidade causada pelo câncer cervical despencou em 70% nos países onde ele passou a ser aplicado. O exame não é infalível, mas detecta o câncer de colo do útero em 95% dos casos ainda numa fase em que pode se obter a cura. Em 1954, Geórgios publicou o “Atlas of Exfoliative Cytology”, um grande trabalho com suas observações e estudos em citologia, incluindo descobertas de doenças em vários órgãos.
Por suas contribuições para a ciência médica, foi laureado com o Prêmio Lasker-DeBakey de Pesquisa Médico-Clínica, em 1950.
Mesmo aposentado da Universidade Cornell, Geórgios não parou de trabalhar. Em 1961, se mudou para a Flórida, onde realizou um sonho antigo: criou o primeiro centro de pesquisa citológica, o Instituto de Pesquisa do Câncer de Miami, tendo sido seu diretor. Ele escreveu mais de 150 artigos, recebendo diversos prêmios e honrarias. Foi eleito membro honorário da Academia de Atenas. Em 1960, foi indicado ao Nobel de Fisiologia e Medicina. Em 1962, ganhou o Prêmio das Nações Unidas.
Geórgios Papanicolau morreu em 19 de fevereiro de 1962, aos 78 anos, de um infarto. Seu instituto continuou seu trabalho em sua homenagem.