ROTANEWS176 E POR FOOD CONTROL E AGÊNCIA FAPESP 12/01/2023 13:45 Por Fidel Forato
Estudo analisou 50 papinhas para bebês vendidas em supermercados brasileiros. A análise confirmou a presença de 10 tipos de agrotóxicos e um metabólito
Equipe de cientistas brasileiros e europeus investigou a composição de 50 papinhas de bebê processadas, comercializadas no estado de São Paulo. A ideia da análise era identificar a possível presença de agrotóxicos, toxinas produzidas por fungos, hormônios e medicamentos. Entre as descobertas, foi possível identificar 10 agrotóxicos e um metabólito do aldicarbe, um praguicida proibido no país desde 2012.
Publicado na revista científica Food Control, o estudo que analisou a presença de agrotóxicos em alimentos para bebês foi liderado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de contar com a atuação de institutos de pesquisa na Espanha e em Portugal.
“Até onde sabemos, foi a primeira análise feita com uma metodologia desenvolvida para identificar pesticidas de classes diferentes e micotoxinas em alimentos infantis à base de carnes e vegetais”, afirma Rafaela Prata, engenheira de alimentos e uma das autoras do estudo, para a Agência Fapesp.
O que encontraram nas papinhas de bebês comercializadas em São Paulo?
Reprodução/Foto-RN176 Foto: Zamrznutitonovi/Envato / Canaltech
Após realizarem análises para rastrear a presença de diferentes tipos de produtos potencialmente tóxicos para o consumo humano, os autores identificaram 10 pesticidas e um metabólito — substância derivada de medicamentos, após ser metabolizada — nas amostras analisadas.
“Cerca de 68% das amostras apresentaram resíduos de agrotóxicos, mas em baixas concentrações”, afirmam os cientistas no artigo. Desse total, 47% das papinhas com frutas apresentaram pelo menos um resíduo de agrotóxico. Enquanto isso, a porcentagem chegou a 85% para as comidas à base de carne e vegetais.
Além disso, os pesquisadores afirmam que “outros pesticidas (10) e um metabólito foram detectados”. “Apesar de estarem em baixa concentração, esses dados podem ser úteis para as autoridades reguladoras brasileiras, podendo ser proposta regulamentação específica para resíduos de agrotóxicos em alimentos para bebês”, pontuam.
Entre as descobertas, o estudo destaca a presença do inseticida cipermetrina em um nível que excedeu um pouco o nível máximo de resíduo (LMR) estabelecido pela União Europeia. Como o Brasil não possui, até o momento, legislação sobre o tema, este tipo de alimento pode ser comercializado nos supermercados.
Agrotóxico proibido no Brasil também foi encontrado
Sinal de alerta na pesquisa foi a identificação do metabólito sulfóxido de aldicarbe, proveniente do agrotóxico aldicarbe. Neste casos, não foi medida a quantidade de resíduos identificada. No entanto, sabe-se que a substância foi associada com papinhas dos seguintes sabores:
- Caldo de feijão, arroz e carne;
- Legumes e carne;
- Abóbora, feijão-preto e peito de frango.
Vale explicar que o aldicarbe é um pesticida proibido no Brasil desde 2012. Isso porque apresenta alta toxidade e era usado ilegalmente como raticida — também conhecido pelo nome popular de “chumbinho”. A descoberta pode indicar que o composto é usado, de forma irregular, em plantações no Brasil. Neste ponto, mais estudos são necessários para confirmar a suspeita.
“O efeito pior do aldicarbe é agudo, por concentração mais alta”, explica o toxicologista Daniel Junqueira Dorta, professor de química forense na USP de Ribeirão Preto. “De todo modo, não deveria haver resíduo desse tipo de jeito nenhum”, completa,
Fonte: Food Control e Agência Fapesp
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