BBC BRASIL.COM E ROTANEWS176 26/04/2017 13h24
AMÉRICA DO SUL
Em conversas informais, muitos venezuelanos estão certos de que o país passará por um golpe de Estado, uma intervenção estrangeira, ou um massacre.
Reprodução/Foto-RN176 Os protestos na Venezuela já duram três semanas Foto: EFE
No entanto, eles também sabem que prever o futuro, por mais que lhes apeteça, é mais difícil neste país do que em quase todas as outras partes do mundo.
Em meio a uma onda de protestos que, segundo as autoridades, deixaram 26 mortos e centenas de feridos, traçar cenários é extremamente complicado.
“Há mais ruído que sinais”, diz Luis Vicente León, consultor e pesquisador especializado em assuntos venezuelanos.
Mas apesar da dificuldade, especialistas acreditam em quatro possíveis desdobramentos.
Reprodução/Foto-RN176 Grupos opositores mais violentos e radicais poderão ter papel decisivo nos desdobramentos da crise Foto: EFE
- Mais confrontos
Violência e ebulição social já vêm crescendo na Venezuela. De acordo com o grupo de estudos Observatório de Conflitos Sociais, são em média de 60 homicídios e 18 protestos a cada dia.
Mas a violência ainda pode crescer.
“O cenário mais provável é que tenhamos mais repressão e autoritarismo”, diz Nicmer Evans, cientista político e ativista de esquerda.
Evans está convencido de que, nessa nova onda de protestos, há grupos “armados, estruturados e financiados” por opositores do governo socialista de Nicolás Maduro – de quem o cientista político se afastou em tempos recentes.
“É pouco provável que os grupos mais radicais de ambos os lados se tranquilizem facilmente”, completa Luis Vicente León.
A grande pergunta é se o enfrentamento será generalizado ou localizado.
“A pressão popular, se for massiva ou organizada, pode traduzir-se em ingovernabilidade e mudanças políticas, mas também resultar em um cenário de guerra de guerrilhas”, diz León.
- Nada acontece
Um cenário “sem solução” não é descartável na Venezuela.
“Em países como Colômbia, Peru e Síria, os problemas (conflitos civis) persistiram sem que houvesse uma solução”, exemplifica Leon.
Assim como a escassez de produtos básicos e remédios na Venezuela já se tornou uma coisa comum, ao ponto de muitas pessoas viverem uma rotina diária de longas filas, também se pode projetar um cenário em que a violência política fique mais localizada e um certo tipo de normalidade volte a vigorar no país.
- Restabelecimento de diálogo
Líderes da oposição exigem algum tipo de gesto de boa vontade do governo para dialogar ou pedir que seus partidários saiam das ruas.
Isso pode ser a liberação de pessoas consideradas presos políticos ou o restabelecimento de poderes reais ao Legislativo, bem como uma reforma eleitoral e judicial.
Outra questão é que, em ocasiões anteriores de diálogo com o governo, partidários da oposição viram os resultados como fracassos e tentativas da administração Maduro de ganhar tempo.
“É provável que neste momento haja algum tipo de negociação”, diz Evans.
“Não se pode descartar que o governo tente acalmar as ruas e a oposição com a convocação de eleições presidenciais para 2018.”
- Golpe de Estado ou renúncia de Maduro
Há duas possibilidades mais extremas, porém consideradas menos prováveis por analistas.
Uma delas é um golpe de Estado levado a cabo por militares, em que o Exército colocaria pressão sobre o governo para coibir a violência e dar à oposição algum tipo de espaço.
Recentemente, a procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, pediu que o governo respeitasse a ordem constitucional, um pronunciamento que deu margem à especulação de que os poderes podem entrar em consenso para evitar que o país caia no autoritarismo.
No entanto, Maduro se mantém no poder em parte graças a uma aliança com os militares, em que dezenas de cargos ministeriais foram distribuídas pelas Forças Armadas.
Por isso, especialistas acreditam que seja pouco provável que o Exército se organize para derrubar o presidente.
Outra possibilidade é Maduro renunciar.
“Há, claro, a possibilidade de que o governo, sem o apoio dos militares e com um grande acordo internacional, renuncie. Mas não creio que isso vá acontecer”, diz León
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