Para presidente do Conpresp, Silvio Santos deve vencer guerra com Oficina

Cyro Laurenza diz não poder antecipar votação do órgão, última aguardada pela Sisan para construir junto ao teatro, mas vê probabilidade de seguir Iphan

ROTANEWS176 E POR VEJA 15/06/2018 11:39                                                                                                  Por Maria Carolina Maia

Reprodução/Foto-RN176 Zé Celso e Silvio Santos (Ivan Pacheco/VEJA.com/Reprodução)

Depois que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) autorizou a Sisan, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos, a erguer torres residenciais em volta do Teatro Oficina, prédio reformado pela arquiteta Lina Bo Bardi que havia sido tombado, provavelmente o desfecho da história será favorável ao Homem do Baú.

Essa é a avaliação do engenheiro civil Cyro Laurenza, atual presidente do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), que será o último órgão de proteção ao patrimônio histórico e cultural a dar sua decisão sobre o caso. No ano passado, o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), que é estadual, foi o primeiro a liberar o empreendimento imobiliário de Silvio Santos, revertendo a tendência em uma luta de cerca mais de trinta anos do apresentador e empresário com o diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso.

Laurenza diz não poder antecipar votação do órgão, que deve ocorrer a partir de agosto, por causa do recesso em julho. E reconhece que, independente, o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) pode tomar uma decisão distinta da adotada pelo Iphan, mas acha difícil que o fim da história seja outro. “A decisão pode até ser diferente, mas seria inócua, pois apenas demonstraria a vontade política do conselheiro, tratando-se de uma irresponsabilidade. O Ministério Público não permitiria”, diz o engenheiro, que entende não ser “da alçada” do Conpresp “desapropriar propriedades públicas e privadas como também o de tombar um terreno vazio sem nenhum valor relativo ao Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo”.

 

Reprodução/Foto-RN176 Cyro Laurenza, presidente do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) (Adriano Vizoni/Folhapress)

Ele também acha que deve pesar na decisão do órgão o fato de o bairro do Bexiga ou Bela Vista, onde está localizado o teatro, ter outros empreendimentos imobiliários aprovados, à espera de uma melhora na economia para acontecer. “(O projeto da Sisan) não é o único conjunto de torres na região, há empreendimentos assemelhados aguardando dias melhores da economia”, afirma. “Mas os conselheiros e o DPH têm total liberdade de expressão”, ressalta.

A companhia teatral liderada por Zé Celso pleiteia os três terrenos em volta do Oficina – aos lados e ao fundo, a fachada dá para a rua – para a criação de um parque público, que já estava nos planos de Lina Bo Bardi. A arquiteta ítalo-brasileira, a mesma que criou o Masp, a Casa de Vidro e o Sesc Pompeia, morreu antes da inauguração de sua obra, que reformou completamente e deu novas feição e dinâmica ao Teatro Oficina.

Além disso, o Oficina, bem como os arquitetos, artistas e intelectuais que defendem o teatro nesse caso, alega que uma torre ao lado do janelão aberto por Lina em uma das laterais do prédio interromperia o seu diálogo com o entorno, o bairro e a cidade, o que a companhia chama, usando um termo teatral, de “contracenação”.