Na volta para casa, estações de trens e metrô ficaram lotadas.
Rodízio de veículos foi suspenso pela Prefeitura nesta terça-feira (20).
ROTANEWS17 E G1 21/05/2014 08h46
Greve dos ônibus
Reprodução/Foto-RN176 Ponto da Avenida 9 de julho, no sentido centro bairro ficaram lotados de passageiros(Foto: Sttela Vasco/G1)
A paralisação de cobradores e motoristas de ônibus realizada em São Paulo na terça-feira (20) continua tendo reflexos na cidade na manhã desta quarta-feira (21), com algumas garagens fechadas, principalmente nas zonas Oeste e Norte, e coletivos saindo em menor quantidade de terminais. O rodízio municipal de veículos foi mantido, para carros com placas finais 5 e 6. Na tarde e na noite de terça-feira, a paralisação – que contesta o acordo salarial fechado na segunda entre o sindicato da categoria e empresas de ônibus para reajuste de 10% – provocou o maior congestionamento do ano na cidade, fechou 16 terminais e superlotou as estações de trem e metrô.
(Acompanhe em tempo real a situação do trânsito em São Paulo.)
O prefeito Fernando Haddad (PT) e o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, usaram a expressão “sabotagem” para definir a paralisação dos motoristas e cobradores.
O movimento começou às 9h50 com motoristas da Viação Santa Brígida e Sambaiba, no Centro. Ao longo do dia, mais condutores aderiram ao movimento.
No começo da tarde, seis terminais de ônibus estavam parados. Por volta das 16h, eram 12 pontos, que aumentaram para 16 no início da noite.
Reprodução/Foto-RN176 Ônibus parados na Avenida General Olímpio daSilveira, sob o Elevado Costa em Silva. (Foto: Hélvio Romero/Estadão Conteúdo)
Recorde e rodízio suspenso
Por conta da paralisação, o rodízio de veículos foi suspenso na tarde de terça-feira, o que prejudicou ainda mais o tráfego. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o trânsito foi recorde: foram 261 km de filas às 19h. O índice superou o registrado no dia 17 de abril, véspera do feriado de Páscoa, quando 258 km de vias ficaram congestionadas.
Diversas ruas da cidade ficaram com filas de ônibus parados. Na Avenida Brigadeiro Faria Lima, no sentido Largo da Batata, os carros circulavam por apenas uma faixa. Os veículos parados sobre a Ponte Eusébio Matoso, na Zona Oeste, complicaram o trânsito em toda a Marginal Pinheiros.
Na noite de terça, nove dos 16 terminais haviam sido liberados: Varginha, Princesa Isabel, Parque D. Pedro II, Vila Nova Cachoeirinha, Santana, Casa Verde, Sacomã, Grajaú e Amaral Gurgel.
Os terminais Mercado, Bandeira, Pirituba, Lapa, Pinheiros, Butantã e Barra Funda, porém, permaneciam bloqueados. Em entrevista à TV Bandeirantes, o prefeito Fernando Haddad disse que “esse tipo de sabotagem é difícil de resolver, porque botar um ônibus na transversal e jogar a chave fora não é simples de resolver”.
As estações de trem e metrô também foram afetadas. Segundo a Via Quatro, concessionária que administra a Linha 4- Amarela, houve momentos em que os passageiros tiveram dificuldade para entrar e se locomover na estação Pinheiros, na Zona Oeste, por conta do excesso de pessoas. Os trens, entretanto, circulavam com velocidade normal.
Reprodução/Foto-RN176 Avenida bloqueada no Brás, na região central (Foto: Luiz Guarnieri/ Brazil Photo Press/Folhapress)
Motoristas discordam de acordo
Segundo os motoristas ouvidos pelo G1 no Terminal Pinheiros, eles discordam da decisão tomada em assembleia na noite de segunda-feira (19). A categoria decidiu na sede do sindicato aceitar a proposta das empresas de ônibus. Assim, o sindicato decidiu cancelar a paralisação prevista para esta semana.
Segundo a proposta aceita na assembleia, os motoristas receberão 10% de reajuste salarial, tíquete alimentação mensal de R$ 445,50 e participação nos lucros e produtividade de R$ 850, entre outros benefícios.
Inicialmente, as empresas ofereceram 5% de reajuste. Já o sindicato pedia um índice de 13%. Um dos benefícios mais festejados pela categoria nesta campanha salarial foi o reconhecimento à insalubridade, dando direito a aposentadoria especial aos 25 anos de trabalho. A direção do sindicato, que representa ao todo 37 mil trabalhadores, se disse surpreendida com a atitude de alguns motoristas
Reprodução/Foto-RN176 Cobradores e motoristas de ônibus fecharam terminais de ônibus na terça-feira (Foto: Ardilhes Moreira/G1)
Leia a nota do sindicato da categoria
A direção do Sindicato dos Motoristas de São Paulo esclarece que foi surpreendida na manhã de hoje (20/05) com as manifestações realizadas na cidade por alguns trabalhadores (as) que se dizem contrários ao fechamento da Campanha Salarial 2014. Ontem na Assembleia Geral, que ocorreu no final da tarde, mais de 4 mil trabalhadores (as) compareceram e aprovaram a proposta apresentada que foi de: 10% no salário; ticket mensal de R$ 445,50; PLR de R$ 850,00; melhoria dos produtos da cesta básica (o Sindicato irá determinar as marcas); 180 dias de licença maternidade; fim do Genérico e o reconhecimento da insalubridade, dando o direito a Aposentadoria Especial aos 25 anos de trabalho. Além disso, ficou determinado a criação de uma Comissão para discutir outras questões como convênio médico, situação do setor de manutenção, ou seja, dar continuidade na revolução de problemas enfrentados pela categoria. O Sindicato, através do seu presidente Valdevan Noventa e da sua diretoria, irá verificar de onde partir essas manifestações e o motivo real que levou os trabalhadores (as) a tomarem essa atitude, principalmente porque foi logo após terem aceitado e aprovado a proposta em Assembleia.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), Francisco Cristovam, afirmou em entrevista à rádio CBN que fechou acordo com o sindicato da categoria na noite de segunda-feira. “[Os responsáveis pela paralisação] não têm representatividade. Com quem vamos negociar?”, indagou.
Final de noite
Muitos trabalhadores ainda tentavam arrumar uma maneira de chegar em casa no final da noite desta terça-feira. Na Zona Oeste da capital, por exemplo, a Estação Butantã do Metrô era o ponto final para vários moradores de bairros que fazem divisa com munícipios vizinhos da capital, como Taboão da Serra, e próximos de rodovias, como a Raposo Tavares. A partir daí, cada um se virava como podia: valia desde ligar para um familiar, dividir um táxi ou até pedir carona.
Reprodução/Foto-RN176 Elisângela do Nascimento: ‘Não sei o que fazer’
(Foto: Marcelo Mora/G1)
Elisângela do Nascimento, que trabalha em uma empresa de telemarketing na Rua da Consolação, por exemplo, costuma ir até o Terminal Bandeira, no Centro, para pegar uma única condução que a deixa próxima de casa, no Jardim Jacqueline, perto de Taboão. Sem ônibus, ela teve que ir de metrô até o Butantã, onde, por volta das 22h30, ainda não sabia como faria para continuar a viagem.
“Não sei o que fazer. Não tenho ninguém para ligar e estou sem dinheiro, sem nada. Usei para pagar a passagem do metrô”, lamentou. Ela criticou a paralisação dos motoristas e cobradores. “Fiquei em pânico quando eu soube. Como paralisam assim sem avisar no meio do dia?”
Neli Ramos de Aquino, que também trabalha em uma empresa de telemarketing, na região da República, no Centro, precisou contar com a ajuda de uma tia para voltar para casa, no Jardim das Palmas, também perto de Taboão da Serra. “Ela está vindo me buscar de táxi. De ida e volta, vamos gastar uns R$ 100. O pior é que a empresa não paga”, disse.
Reprodução/Foto-RN176 Aglomeração de passageiros na Estação Pinheiros do Metrô (Foto: Dario Oliveira/Estadão Conteúdo)
Sobre a greve, Neli a considerou “um transtorno”. “Tudo bem eles reivindicarem o direito deles, mas não é justo prejudicarem os trabalhadores por isso”, afirmou.