ROTANEWS176 28/06/2024 19:00
Ao desprezar o Ocidente democrático e se jogar de cabeça no Brics, um clube de países que não combina com o nosso, a dupla Lulamorim está fazendo mau negócio
RN176 Da esq. para a dir. Vladimir Vladimirovitch Putin presidente da Rússia desde 2012 e o Luiz Inácio Lula da Silva atual presidente do Brasil Opinião 2806 – (crédito: Caio Gomez)
JOSÉ HORTA MANZANO — Empresário
O R do Brics é a Rússia. No acrônimo, ela aparece coladinha ao Brasil. Na vida real, a distância física, histórica e cultural entre os dois países é imensa. Basta um exemplo: o povo russo jamais viveu sob um regime que não fosse autoritário, enquanto os brasileiros conheceram largos períodos democráticos, inclusive o atual. Os russos vivem atualmente um momento apertado, com o fechamento da porta que dava para o Ocidente. Mesmo com os combates na Ucrânia ainda longe das grandes cidades russas, a vida já não é como antes.
Dirigentes de numerosos países cometeram erros fundamentais que mudaram os rumos da nação. Se arrependimento matasse, cemitérios estariam lotados — é o que se costuma dizer. Mas há erros que deixam mais remorso que outros.Os dirigentes do Japão que participaram da decisão de atacar a frota marítima americana na Pearl Harbour de 1941 hão de ter se arrependido amargamente de ter elaborado o plano que acabou por desgraçar o Império do Sol Levante.
Nosso Jânio Quadros é outro que, depois de renunciar ao mandato de presidente do Brasil, certo de que o povo o traria de volta “carregado nos ombros”, há de ter chorado lágrimas de aflição em seu autoexílio londrino. Além de perder o mandato, abriu as portas para um regime de exceção que castigaria o país por mais de 20 anos, na sequência do golpe de 1964.
Talvez, o exemplo mais eloquente de “post errorem desperandum” (desespero depois do erro) seja a monumental derrapada que Vladimir Putin deu ao mandar suas tropas invadirem a Ucrânia em 2022. O fiasco foi tão grande que ele só continuou no comando da ditadura russa até hoje por obra e graça do sistema mafioso que o sustenta no trono. Não fosse a máquina governamental repressiva e opressiva e o total enquadramento do sistema judiciário, é possível que Putin já tivesse desaparecido num “desafortunado acidente” e deixado o trono para um sucessor.
Estes dias, os discretos serviços secretos britânicos publicaram uma estimativa das perdas sofridas pela Rússia na guerra atual. Meio milhão de humanos (incluindo militares e civis) teriam sido mortos ou feridos! O morticínio continua a um ritmo superior a 1,2 mil pessoas por dia. Quanto às perdas materiais, teriam sido destruídos 10 mil blindados, 3 mil tanques de guerra (número que representa 15 vezes o número total de tanques do exército francês), 109 aviões, 136 helicópteros, 23 navios de guerra. A esses números convém acrescentar cerca de 400 drones e mais de 1,5 mil peças de artilharia.
Essa impressionante quantidade de combatentes e de material perdidos em dois anos seria uma sangria insuportável para qualquer país, mesmo para os mais equipados. Para a Rússia, a situação é dramática, bem pior do que se imagina. A prolongação dos combates obrigou Moscou a reanimar sua indústria bélica. As compras de material bélico no orçamento de 2024 representam entre 30% e 40% das despesas totais do Estado russo. Para juntar essa montanha de dinheiro, cortes profundos têm de ser feitos em outras áreas, enfraquecendo o funcionamento do país como um todo.
Em momentos específicos do século passado, a economia da hoje falecida União Soviética chegou a ter certo vigor. Essa potência perdeu muito de seu antigo brilho. Na verdade, a Rússia de hoje é um país pobre. Para comparar, seu PIB corresponde aos PIBs somados de Holanda e Bélgica. Só que Bélgica e Holanda, adicionadas, têm 30 milhões de habitantes, enquanto a Rússia tem 146 milhões. Moscou tornou-se basicamente exportador de matéria-prima (gás e petróleo).
Do ponto de vista militar, a Rússia, orgulhosa herdeira do laureado Exército Vermelho, perdeu essa guerra logo nos primeiros dias, ao não conseguir tomar Kiev e ser obrigada a retirar-se da Ucrânia. Naqueles dias, o mundo assistiu, pasmo, à débâcle de um temido grande exército diante de tropas menos poderosas. Para a Rússia, o vexame e o desgaste de imagem foram tremendos. Hoje, para a Rússia, o exército perdeu a majestade. Para servir de espantalho, só restou o espectro do arsenal atômico que, aliás, Putin agita dia sim, outro também.
Ao desprezar o Ocidente democrático e se jogar de cabeça no Brics, um clube de países que não combina com o nosso, a dupla Lulamorim está fazendo mau negócio. Fosse eu, refletia duas vezes.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE E RN176