ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 04/04/2020 11:00
CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA
Capítulo “Frescor”, volume 29
PARTE 47
Shin’ichi sentiu que o diálogo com o Dr. Wilson foi extremamente significativo, concordando com muitas de suas opiniões. Em especial, sentiu enorme simpatia pela preocupação e pela atenção manifestadas pelo Dr. Wilson em relação à tendência de as religiões caírem no fundamentalismo e no dogmatismo.
Tanto o ser humano como a religião vivem na sociedade acompanhando a época. O fundador de uma religião também a propaga na sociedade do seu tempo. Portanto, em um ensinamento há princípios imutáveis e, ao mesmo tempo, aspectos que devem ser analisados com flexibilidade em função das diferenças de cultura e de costumes do país e da localidade, como também das mudanças de época.
O pensamento do budismo é o de “adaptação aos costumes locais” (jap. zuiho bini). É respeitar a cultura, os hábitos e os costumes de cada localidade, desde que não se infrinja o verdadeiro significado do budismo. Ensina a importância de se adaptar às mudanças da sociedade e da época, bem como a postura proativa de respeitar as diferenças culturais.
A perda desta visão de “adaptação aos costumes locais” são o fundamentalismo e o dogmatismo, pois levam à atitude de não aceitar a diversidade nem as mudanças, considerando que não só o ensinamento de sua religião, mas também sua cultura, seus costumes e tradições são todos um bem absoluto. No final, acabam discriminando e rejeitando unilateralmente tudo aquilo que difere de si próprios, acreditando que são um mal.
Há uma aguçada percepção do filósofo, matemático e físico francês Blaise Pascal: “Não há outro momento em que o homem provoca maior mal, de forma completa e ainda com alegria, do que quando possui uma forte consciência religiosa”.1 Não se deve esquecer que a religião possui o lado bom e o lado mau.
Originalmente, a religião existe para o bem das pessoas, a prosperidade social e a paz do mundo. A restauração de uma religião se encontra no ato de cumprir sua missão original. Para tanto, é necessária a tarefa de constante questionamento do modo de ser da religião. Ela só se torna uma força para a reforma social se houver seu próprio desenvolvimento e uma reforma ininterrupta de si mesma.
Parte 48
É natural que um religioso tenha forte convicção nos ensinamentos, pois sem ela não conseguiria divulgar a religião nem fazer dela o inabalável pilar espiritual. O importante é se suas afirmações possuem um sólido embasamento que resistam à verificação de sua validade. Uma convicção sem embasamento não passa de fé cega autojustificada.
Nichiren Daishonin considerou o Sutra do Lótus como o supremo ensinamento e declarou que sua essência é o Nam-myoho-renge-kyo. Ele apontou, de modo aguçado, os erros das diversas escolas religiosas que negavam o Sutra do Lótus sem fundamentação concreta. Por causa disso, Daishonin foi criticado e acusado de hipócrita, intolerante e exclusivista. Mas essa era uma visão totalmente equivocada. Ele chegou à conclusão, depois de se dedicar ao estudo de diferentes religiões em várias localidades, tais como no Monte Hiei, e de investigar criteriosamente os ensinamentos em uma pesquisa comparativa objetiva, do aspecto das provas documentais, teóricas e reais. Portanto, era uma convicção embasada em uma minuciosa verificação.
Além disso, conclamou os sacerdotes de diversas religiões para diálogos e amplos debates sobre temas relacionados a quais ensinamentos budistas representavam a verdade. Como consta em seus escritos, “Enquanto as pessoas de sabedoria não provarem que meus ensinamentos são falsos, jamais desistirei!”,2Daishonin afirma claramente que se outra pessoa de maior sabedoria lhe indicar um ensinamento mais profundo e correto, ele o seguirá. Isso demonstra sua atitude sincera de busca e pesquisa, deixando clara a necessidade de tornar pública a investigação sobre a verdade rejeitando de maneira categórica a hipocrisia, justamente porque a religião é a base para definir o modo de viver das pessoas, e sua felicidade ou infelicidade. Desnecessário dizer que, ao mesmo tempo, é uma afirmação de Nichiren Daishonin embasada em sua absoluta convicção nos seus ensinamentos.
Promover uma discussão aberta a partir de sólida convicção religiosa nada tem a ver com a natureza exclusivista ou a intolerância. Pode-se dizer que uma crítica racional à religião é uma importante condição para a verificação e o aprimoramento dos seus ensinamentos.
Nichiren Daishonin clamava pelos debates sobre as doutrinas em local público. Porém, os sacerdotes das demais religiões rejeitavam essa proposta e se associavam às autoridades governamentais da época, conspirando para oprimi-lo e persegui-lo.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Notas:
- MORISHIMA,Tsuneo. Majo kari[Caça às Bruxas]. Livraria Iwanami.