ROTANEWS176 E BBC BRASIL.COM 14/06/2017 08h28
Quando o coração deixa de bater, o organismo começa a decomposição até virar uma pilha de ossos; mas, em alguns casos, dependendo de certas condições, o corpo pode ficar dessecado em processo natural.
A mumificação era comum entre os egípcios, persas, algumas culturas andinas e em outras sociedades ao redor do mundo. Mas a natureza também faz seu próprio processo, de forma bem menos trabalhosa.
Reprodução/Foto-RN176 A múmia Juanita é um corpo muito bem preservado de uma menina inca; acredita-se que ela morreu entre 1450 e 1480, quando tinha entre 12 e 13 anos Foto: BBCBrasil.com
Naturalmente, quando o coração deixa de bater, o corpo começa a se decompor, até restarem apenas ossos. No entanto, existem ocasiões, com mais frequência do que se imagina, em que ocorre uma mumificação natural (dessecação) dos tecidos moles – da pele e dos músculos – que são conservados mesmo após a morte.
O fenômeno é tão comum que chegou a ser contemplado pela legislação italiana, explicou à BBC Mundo Dario Piombino-Mascali, antropólogo do mesmo país que atualmente pesquisa segredos médicos guardados pelos corpos mumificados em uma cripta na Lituânia.
“A lei italiana, por exemplo, estabelece que quando se exuma um corpo num cemitério e se descobre que ele não foi mineralizado, ele precisa ser novamente enterrado com substâncias químicas para que restem apenas os ossos”, explica Piombino-Mascali.
Mas embora seja comum, isso apenas ocorre em circunstâncias específicas.
Ambiente extremo
O contexto em cada caso pode ser diferente, mas é preciso, a princípio, um ambiente extremo: muito quente, muito seco ou muito frio.
Depois da morte, nossas células liberam substâncias, incluindo enzimas. Isso cria um ambiente ideal para bactérias e fungos, que se incorporam a esta mistura e começam a decompor o corpo.
Na maioria dos casos, as enzimas precisam de um ambiente aquoso para agir. Mas se a temperatura é muito alta, o corpo se desidrata antes que as enzimas entrem em ação, e aí ocorre a mumificação.
“Isso também pode ocorrer quando a temperatura é muito baixa, porque o frio inibe a atividade das bactérias”, disse Piombino-Mascali.
Especialmente se o corpo permanece coberto de gelo ou neve. Um dos exemplos mais conhecidos é o do corpo mumificado de Ötzi, o homem do gelo que viveu há 5.300 anos nos Alpes suíços, considerado o caso forense mais antigo da história.
Nas criptas
Criptas, como as encontradas sob o solo de muitas igrejas europeias, são lugares apropriados para a ocorrência de mumificação de corpos, porque a temperatura é baixa, em geral há boa ventilação, e as construções por cima as protegem da água.
A umidade, destaca o antropólogo, “é a inimiga número um das múmias”.
Reprodução/Foto-RN176 As criptas são lugares ideais para proteger os cadáveres da água Foto: BBCBrasil.com
Por outro lado, os pântanos, úmidos por natureza, são outro ambiente natural que favorece a mumificação. Isto se deve ao fato de serem ambientes geralmente frios, ácidos e anaeróbicos.
Além disso, muitos têm um tipo de musgo ( Sphagnum , ou esfagno) que cria mudanças químicas capazes de frear a atividade microbiana, o que ajuda na preservação dos tecidos.
Outro fator é a composição do solo: a areia, por exemplo, absorve os fluidos, enquanto a presença de metais pesados no solo pode retardar a ação das enzimas.
Reprodução/Foto-RN176 Múmia do cemitério Chauchilla em Nazca, no Peru. Conservação foi possível graças ao clima árido do deserto onde está o cemitério Foto: BBCBrasil.com
O material do caixão também pode ter influência: a madeira pode ter propriedades que ajudam na preservação, e os tecidos que cobrem o corpo podem absorver os líquidos.
Por último, o processo depende ainda das características corporais de cada indivíduo. É mais difícil que a mumificação ocorra se o morto tiver uma concentração alta de gordura corporal.