Por que magreza não é sinônimo de ser saudável e aumento de peso nem sempre é falta de saúde ROTANEWS176 E POR CNN 18/01/2023 16:24

ROTANEWS176 E POR CNN 19/01/2023 16:24                                                                                                              Por Lucas Rocha

Internautas comentam aparência física da atriz Bruna Griphao, participante do Big Brother Brasil, que apesar de fumar tem sido associada a um suposto estilo de vida saudável por ser magra

 

Reprodução/Foto-RN176 Silhueta da artista, que é magra, tem sido associada a um suposto estilo de vida saudável, apesar do tabagismoReprodução/Globo

A atriz Bruna Griphao, participante do Big Brother Brasil (BBB 23), da TV Globo, tem ganhado espaço nas redes sociais com comentários sobre sua aparência física e o hábito de fumar.

A silhueta da artista, que é magra, tem sido associada a um suposto estilo de vida saudável, apesar do tabagismo. Comentários irônicos sugerem até mesmo que o uso de cigarros poderia contribuir para a manutenção da forma física.

Um corpo magro pode esconder problemas de saúde? O cigarro pode oferecer riscos mesmo quando o fumo é ocasional? Ser gordo é sinônimo de falta de saúde?

Para responder às questões, que são um tanto quanto sensíveis, a CNN consultou especialistas de diversas áreas médicas.

Fatores de risco

O desenvolvimento de diversas doenças está relacionado a fatores de risco que podem ser comportamentais, quando estão associados as hábitos de vida do indivíduo, hereditários, como aqueles vinculados aos componentes genéticos, ou ambientais, que envolvem o contexto geográfico e social de cada pessoa.

Um indivíduo que está no peso ideal para sua idade e altura pode eliminar um fator de risco para o surgimento de doenças, mas não todos, como explica a médica endocrinologista Tarissa Petry, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

“O que sabemos é que temos fatores de risco para desenvolvimento de doenças. Ser magro é menos um fator de risco, vamos dizer assim. A pessoa não está acima do peso, ela não tem esse fator de risco”, afirma. “É uma questão bastante complexa, por que cada indivíduo é diferente do outro. A gente nunca vai poder generalizar em relação a isso”, pontua.

A endocrinologista acrescenta que uma pessoa magra pode somar pontos relacionados a fatores de risco dependendo de uma série de comportamentos.

“Se ela tiver, por exemplo, uma alimentação que consideramos inflamatória, rica em embutidos, em alimentos industrializados. Se ela fuma ou consome álcool em excesso, está somando fatores de risco para o desenvolvimento de doenças. Não podemos esquecer que não estamos falando somente de doenças cardiovasculares, podemos ter risco de câncer também”, destaca.

Excesso de peso e obesidade

O sobrepeso e a obesidade são definidos como acúmulo anormal ou excessivo de gordura que pode prejudicar a saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O índice de massa corporal (IMC) é um índice simples de peso para altura que é comumente usado para classificar sobrepeso e obesidade em adultos. Ele é definido como o peso de uma pessoa em quilogramas dividido pelo quadrado de sua altura em metros (kg/m2).

O médico endocrinologista Filippo Pedrinola ressalta que, além do IMC, é preciso observar a composição corporal para dizer se alguém está em forma ou não.

“Uma pessoa magra pode ter o peso considerado adequado para sua altura, mas o índice de massa corporal ideal não quer dizer que ela esteja saudável. Importa mesmo ver como está a composição corporal”, afirma o endocrinologista.

Segundo o especialista, a avaliação da condição física deve considerar o percentual de gordura e de massa muscular (ou massa magra) de cada indivíduo. “Uma pessoa que está magra, mas tem um percentual de massa magra muito baixo, não está saudável. É preciso trabalhar um programa de alimentação, eventualmente suplementação, além de musculação e atividade física regular”, diz.

Para adultos, a OMS define sobrepeso e obesidade da seguinte forma:

O IMC fornece a medida populacional mais útil de sobrepeso e obesidade, pois é o mesmo para ambos os sexos e para todas as idades dos adultos. No entanto, deve ser considerado um guia aproximado, pois pode não corresponder ao mesmo grau de gordura em diferentes indivíduos, de acordo com a OMS. Para crianças, a idade precisa ser considerada ao definir sobrepeso e obesidade.

“Não é em 100% dos casos que o aumento de peso vai significar doença. A obesidade é definida quando doença quando o aumento de peso traz algum prejuízo à saúde da pessoa”, afirma Tarissa. “Por outro lado, o aumento de peso progressivamente aumenta a mortalidade da pessoa, que é a chance dela morrer precocemente”, alerta.

O sobrepeso e a obesidade são os principais fatores de risco para uma série de doenças crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, como doenças cardíacas e derrames, que são as principais causas de morte em todo o mundo, segundo a OMS.

Estar acima do peso também pode levar ao diabetes e suas condições associadas, incluindo cegueira, amputações de membros e necessidade de diálise. O excesso de peso pode levar a distúrbios musculoesqueléticos, incluindo osteoartrite. A obesidade também está associada a alguns tipos de câncer, incluindo endométrio, mama, ovário, próstata, fígado, vesícula biliar, rim e cólon. O risco dessas doenças aumenta mesmo quando a pessoa está apenas ligeiramente acima do peso e fica mais grave à medida que o IMC sobe.

“O aumento de peso dificilmente vai ser saudável. Dificilmente, essa pessoa não vai ter alguma consequência, por que ou essa pessoa tem consequências metabólicas, como diabetes, hipertensão e colesterol alto ou pode ter também algumas alterações que ela não está vendo nos exames, como um aumento de resistência insulínica”, pontua.

A OMS aponta que o combate ao sobrepeso e à obesidade envolve o apoio do ambiente e da comunidade para moldar as escolhas das pessoas, incluindo facilitar o acesso a alimentos mais saudáveis e à atividade física regular.

Estética x vida saudável

Quando se trata de obesidade e excesso de peso, as discussões sobre o tema nas redes sociais ganham tons de preconceito, discriminação e desinformação. Especialistas apontam que a simples associação entre obesidade e doença não é uma equação simples e não contribui efetivamente para se combater o problema de saúde pública.

Embora a obesidade seja tratada erroneamente como falta de esforço ou desleixo do indivíduo, a ciência explica que o aumento de peso está relacionado a causas multifatoriais que vão além do que se coloca no prato. O contexto social em que as pessoas estão inseridas, a disponibilidade e preço de alimentos naturais e fatores genéticos também contribuem para o excesso de peso.

A causa fundamental da obesidade e do sobrepeso é um desequilíbrio energético entre as calorias consumidas e as calorias gastas, de acordo com a OMS.

A OMS alerta que globalmente houve uma maior ingestão de alimentos ricos em energia que são ricos em gordura e açúcares, um aumento na inatividade física devido à natureza cada vez mais sedentária de muitas formas de trabalho, mudanças nos modos de transporte e aumento da urbanização que também contribuíram para o problema.

Além disso, as mudanças nos padrões alimentares e de atividade física são, muitas vezes, o resultado de mudanças ambientais e sociais associadas ao desenvolvimento e à falta de políticas de apoio em setores como saúde, agricultura, transporte, planejamento urbano, meio ambiente, processamento de alimentos, distribuição, marketing e educação.

“O grande problema é que se definiu o padrão de magreza como sendo saudável. Muitas vezes, isso não é verdade. Podemos ter pessoas magras com alguma doença e até um transtorno alimentar por causa dessa questão de ser magro, como uma anorexia, por exemplo. É importante explicar que as pessoas precisam buscar saúde. Uma pessoa que tem um peso muito alto, se ela perder 10% do peso já vai ganhar bastante saúde. Temos que incentivar não a perda de tantos quilos, mas a busca de um objetivo de saúde”, afirma Tarissa.

Cigarro e peso

Segundo Juliana Carmozina Herculano, nutricionista da Atenção Primária à Saúde, que atuou como facilitadora de grupos do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT), a nicotina pode aumentar a termogênese e a taxa de metabolismo basal.

Uma das possibilidades para relacioná-la ao emagrecimento é que ela induz o aumento de leptina circulante no sangues, uma substância produzida nas nossas células de gordura e também chamada de hormônio da saciedade. A leptina libera mensagens ao cérebro que controlam o apetite.

O apetite recebe grande interferência não só por questões hormonais, mas também porque a percepção dos sabores – que ocorre na língua – é prejudicada pelo hábito de fumar. Por esse motivo, não é difícil que os fumantes tenham menos vontade de comer, o que também pode provocar uma perda de peso.

O cigarro diminui a capacidade de sentir o verdadeiro sabor dos alimentos, já que as suas toxinas provocam uma perda significativa de sensibilidade nas papilas gustativas, prejudicando o paladar e o olfato.

Acontece que, ao interromper o vício, todo esse processo descrito acima também é interrompido e ocorre uma melhora no estado geral de quem abandona o cigarro. O retorno dessas funções pode, então, vir a provocar um ganho de peso se a adoção de hábitos saudáveis não acontecer de maneira conjunta. No entanto, esse efeito não acontece com todo mundo e, quando ocorre, não é expressivo para a grande maioria de ex-fumantes, pondera a nutricionista.

Os riscos do tabagismo

O hábito de fumar afeta diretamente a saúde individual e coletiva, sendo os produtos derivados do tabaco associados a diversos problemas de saúde, incluindo as doenças cardiovasculares e o câncer. Todos os anos a indústria do tabaco custa ao mundo mais 8 milhões de vidas, de acordo com estimativas da OMS.

O Ministério da Saúde alerta que fumar é uma prática que oferece riscos mesmo quando ocasionalmente, uma vez que não existe nível seguro para o consumo da nicotina. Quem fuma de vez em quando pode se tornar um fumante regular, devido ao risco do vício. Além disso, existem outras três variáveis que podem agravar o vício: a quantidade, a regularidade e as associações.

A médica pneumologista Nancilene Melo explica que se define como fumante regular aquela pessoa que fumou mais de cem cigarros durante toda a sua vida. Nesse sentido, “fumante social” é alguém que fuma uma quantidade inferior a essa enquanto vive.

Se um indivíduo fuma todo final de semana, em alguns meses ele terá atingido o valor equivalente ao que caracteriza um fumante regular, justamente pelo aumento da regularidade, a segunda consequência do fumo de final de semana. Sendo assim, a cada final de semana a exposição ao tabaco aumenta. E quanto maior a exposição, maior o risco de contrair qualquer doença relacionada ao cigarro.

Segundo a especialista, para explicar se existe abstinência para quem fuma ocasionalmente, é preciso avaliar o contexto no qual o fumante está inserido. Analisar o que está levando essa pessoa a manter esse hábito, como o estado emocional, por exemplo.

“A nicotina atua na região de recompensa e tem a capacidade de fazer associações para liberar essa recompensa. Ela alivia temporariamente estresse, ansiedade e, muitas vezes, a pessoa termina se habituando a encontrar os amigos no final de semana em uma situação agradável onde vai existir uma associação muito frequente do cigarro com a bebida”, explica Nancilene.

Para ela, compreender até que ponto a pessoa está tendo uma dependência da nicotina, ou está sentindo falta do contexto que levou ao consumo do tabaco com os amigos em um evento específico, é essencial.

Acompanhamento médico

A realização de consultas médicas ajuda na prevenção do desenvolvimento de doenças e no diagnóstico precoce de problemas de saúde. A medida é recomendada para pessoas com qualquer tipo de peso como estratégia de saúde pública. O hábito de buscar atendimento médico somente diante de algum sintoma pode ser prejudicial para a detecção oportuna de doenças.

Em uma primeira consulta, são avaliados além do estado de saúde atual, o histórico familiar do paciente e os hábitos de vida do indivíduo, explica a especialista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

“Quando atendemos o paciente, realizados toda essa anamnese, que consiste em buscar todo o histórico, tanto da pessoa quanto familiar, e em avaliar quais exames poderiam ser benéficos em um check-up, mesmo que a pessoa não tenha nenhuma queixa no momento”, afirma Tarissa.

Segundo a especialista, a escolha pelos exames que serão pedidos considera o relato do paciente, histórico familiar e fatores como a idade e o gênero.

“O hemograma acaba sendo importante por que alterações das células vermelhas, como a anemia, é um indicativo de algumas doenças ou de que tem alguma coisa errada no corpo. Pede-se glicemia e colesterol se a pessoa tem algum antecedente de doença metabólica e dosagem de vitaminas, principalmente vitamina D, por que há uma deficiência endêmica, devido à falta de exposição ao sol”, explica.

(Com informações do Ministério da Saúde)