Por que os humanos que migraram da África para a Europa ficaram brancos há milhares de anos

Uma análise genética do esqueleto de 10 mil anos revelou que a pigmentação de sua pele era de ‘escura a negra’.

ROTANEWS176 E BBC BRASIL.COM 09/02/2018 18:21

O estudo do esqueleto humano mais antigo encontrado no Reino Unido contradiz a crença popular de que a maioria dos europeus sempre teve a cor da pele branca.

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DNA de esqueleto indica existência de britânicos negros e de olhos azuis há 10 mil anos

Reprodução/Foto-RN176 Pele negra e olhos azuis: assim era o primeiro britânico 10 mil anos atrás. Foto: BBCBrasil.com

Uma análise genética do esqueleto de 10 mil anos revelou que a pigmentação de sua pele era de “escura a negra”. O fóssil ficou conhecido como “homem de Cheddar” em virtude do local onde ele foi encontrado, em Cheddar, no Reino Unido.

Seu rosto foi reconstruído graças a um scanner de alta tecnologia e mostra um fenótipo totalmente oposto à pele branca que caracteriza muitos dos britânicos.

“A combinação de uma pele muito escura com olhos azuis não é o que normalmente imaginamos, mas essa era a aparência real dessas pessoas”, diz Chris Stringer, do Museu de Ciências Naturais de Londres, onde a imagem do “homem de Cheddar” foi exposta, na quarta-feira.

Segundo Yoan Dieckmann, da equipe da Universidade College, de Londres, responsável pelo estudo, a pele clara que associamos aos europeus modernos, principalmente do norte, seria um fenômeno relativamente recente.

Então em que momento a pele desses ancestrais começaram a mudar de cor e por que isso aconteceu?

Migração da África

Segundo especialistas, existem dois fatores principais que explicam essa transformação.

Reprodução/Foto-RN176  Chris Stringer, do Museu de Ciências Naturais de Londres, estudou o “homem de Cheddar” por mais de 40 anos. Foto: BBCBrasil.com

O primeiro deles é a mobilidade geográfica das populações modernas, que estavam na África há 150 mil anos e tinham pele escura.

“Aquelas populações, que seriam nossos ancestrais diretos, começaram a migrar. Elas chegaram na Europa, por exemplo, há cerca de 45 mil anos”, explica Víctor Acuña, professor da Escola Nacional de Antropologia e História do México.

Alguns estudos genéticos concluíram que a pigmentação da pele mais clara começou a ficar mais comum em algumas regiões europeias por volta de 25 mil anos atrás.

A descoberta do “homem de Cheddar”, que viveu há 10 mil anos, indica que esse embranquecimento só ocorreu muito tempo depois em locais como as ilhas britânicas.

Reprodução/Foto-RN176  Mapa da Inglaterra Foto: BBCBrasil.com

Em 2014, análises de outros fósseis humanos de 7 mil anos encontrados em León, na Espanha, concluíram que os restos também pertenciam a um homem de pele negra e olhos azuis.

Proteção contra o sol

O segundo fator, e o mais importante, é aquele que explica por que ao atingir essas áreas do planeta a pele dos humanos tende a clarear.

“Os seres humanos, diferente de outros primatas, têm muito pouco pelo no corpo. Por isso pensamos que a pigmentação da pele era uma barreira aos efeitos negativos dos raios ultravioletas que é tão intensa na África”, diz Acuña.

Reprodução/Foto-RN176  A cor escura da pele protegia o “homem de Cheddar” aos efeitos nocivos do sol. | Foto: PA Foto: BBCBrasil.com

Quando migraram para regiões no norte do planeta, onde os raios solares são muito mais escassos, elas não precisavam mais da pigmentação, uma proteção natural contra possíveis queimaduras e doenças como o câncer de pele.

Como explica Acuña, “em zonas com pouco sol, ter cor da pele mais clara permitia uma melhor absorção da luz ultravioleta, que é vital para a obtenção de vitamina D”.

Isso explica por que, na própria Europa, as diferenças na cor da pele começaram a ocorrer. As peles mais claras tornaram-se mais frequentes no norte, enquanto no sul a população apresentava tons mais variados.

Em suma, a cor da pele desempenhou um papel fundamental na época em que essas gerações poderiam se adaptar ao meio ambiente de forma natural.

10% de antepassados

Com essa explicação, é óbvio que essa característica da evolução humana não se reduz somente aos ancestrais dos britânicos.

De fato, como destaca Acuña, essa tendência a uma pigmentação cada vez mais clara não foi registrada apenas entre aqueles que chegaram ao norte da Europa.

Reprodução/Foto-RN176  O esqueleto do “homem de Cheddar” foi encontrado há mais de um século. Foto: EPA / BBCBrasil.com

“Os estudos indicam que processos evolutivos similares ocorreram também em populações que chegaram ao leste da Ásia e da África. Nesses locais também houve notáveis mudanças na pigmentação da pele das pessoas”, diz o professor Acuña.

O especialista confirma que a atual população da Europa poderia ser portadora de não mais de 10% dos genes dos antepassados do grupo ao qual pertence o “homem de Cheddar”.

“Aquela primeira população teve contato com outras, que migraram posteriormente. Essas ‘desapareceram’ como cultura arqueológica ao ser assimilada por outros grupos”, disse Acuña à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.

Estima-se que o “homem de Cheddar” migrou da Europa continental para as ilhas britânicas ao final da Era de Gelo.

Seus restos foram encontrados em uma caverna próxima a Cheddar, na Inglaterra, em 1903, mas apenas com os avanços tecnológicos do século 21 que os cientistas conseguiram conhecer os primeiros ingleses.

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