Prezar a dignidade humana

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  17/07/2021 09:03

RELATO

Vânia é uma mulher convicta que, pelo forte senso de missão, decidiu trabalhar pelas pessoas e criar uma história grandiosa

Reprodução/Foto-RN176 Vânia Costa, Vice-resp. pela DF da Comunidade Cesário Ramalho; RM Liberdade, Sub. Centro, CCLP, CGESP – Editora Brasil Seikyo – BSGI

A prática budista sempre me deu força e sabedoria para vencer os desafios sem perder o senso de humanismo, principalmente no trabalho. É o budismo que me proporciona ter uma visão ampla sobre a vida e seguir com a disposição de me aprimorar a cada dia para cumprir minha missão de atuar em prol das pessoas.

Determinação para vencer

Tive o primeiro contato com o budismo na infância e somente reen­contrei essa filosofia em 2005, quando meu filho, Gustavo, estava com 4 anos. Meu amigo, Roney, me convidou para participar de uma reunião budista na Vila Prudente, em São Paulo, cidade em que moro. Eu me senti tão acolhida que passei a frequentar as atividades. Assim, em outubro daquele ano, recebi o Gohonzon.

No ano seguinte, conheci Wagner, que já era membro da Gakkai, e começamos a namorar. Na época, eu não tinha um bom trabalho, mas, a partir dos incentivos que recebia na organização, em especial da família Gutemberg, iniciei um desafio de três horas de recitação de daimoku diária para transformar minha condição.

Em 2007, consegui trabalho numa instituição de ensino, o que me possibilitou cursar terapia ocupacional com bolsa de 100%, e considero esse o primeiro benefício da prática budista. Eu me lembro que saía de casa às 4h30 com meu filho para levá-lo a um programa educacional. Então, ia para a faculdade e depois trabalhava até as 22 horas. Vivi essa maratona por quatro anos, porém sou muito grata, pois foi por meio dessa graduação que fiz uma grande mudança na vida. Após concluir a faculdade, permaneci mais dois anos nesse trabalho e fiz especialização em dependência química, passando a atuar nesse setor. Comecei num hospital psiquiátrico em São Bernardo do Campo, SP. Durante nove meses, atendi pessoas em processo de transição para residência terapêutica e outras em processo de internação por dependência química. De lá, ingressei num programa na região conhecida como Cracolândia, na capital de São Paulo, experiência que me proporcionou grande aprendizado.

Minha tarefa era de acolhimento e intervenção com terapia ocupacional. Realizava um trabalho de escuta, reinserção social e redução de danos. Muitas pes­soas estavam lá por falta de moradia ou em busca de trabalho, de assistência e vários outros motivos. Não fazia ideia do que era estar nesse universo difícil de decifrar, no qual a vulnerabilidade é extrema. No entanto, atentei-me a conhecer as histórias das pessoas com respeito. Às vezes, entramos na rotina e acabamos não percebendo o que acontece ao nosso redor. E a tendência é achar tudo normal. Nesse sentido, a prática budista me auxiliou a respeitar cada vez mais a dignidade do ser humano e a ter sabedoria para lidar com as barreiras do dia a dia. Durante três anos de trabalho, procurei transmitir com sinceridade a grandiosidade do budismo com minha postura.

Em 2015, quando atuava na RM Sapopemba, casei-me com Wagner na Sede Social Josho, numa linda cerimônia.

O apoio da família, somado ao daimoku e às orientações de Ikeda sensei, foi importante, principalmente quando meu pai faleceu, em 2017. Estive com ele em seus últimos momentos e o budismo me ajudou a compreender esse fato da vida. Assimilei que a prática budista nos prepara para não criarmos dúvidas no coração diante dos sofrimentos. Realizamos uma bonita cerimônia para meu pai e isso fez com que minha família tivesse outro olhar para o budismo. Mudei para o bairro do Cambuci, região central de São Paulo, e passei a atuar na Comunidade Cesário Ramalho, RM Liberdade.

Novo avanço

Sempre gostei da área de saúde pública e um dos meus objetivos era atuar no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf). Foi então que, em 2018, fiz uma entrevista e fui contratada! No ano seguinte, nascia minha filha, Catarina. Era o início de uma fase de desafios, mas também de muita felicidade.

Reprodução/Foto-RN176 com a família: o filho Gustavo (à esq.), a filha Catarina (centro) e o marido Wagner (à dir)

Passei a trabalhar numa Unidade Básica de Saúde (UBS), perto de casa, no Cambuci, dando suporte às equipes de atendimento da população nas áreas de saúde da criança, do adolescente e do jovem; de saúde mental e reabilitação. É um trabalho contínuo de acompanhamento muito gratificante.

Em 2020, nossas demandas foram reorganizadas para o enfrentamento da Covid-19 e, no momento, atuo no apoio ao sistema vacinal com acolhimento, orientações na unidade e região, sobre os cuidados preventivos da doença. Além disso, realizo telemonitoramento dos sintomáticos respiratórios e pós-Covid-19 que recebem alta hospitalar, faço teleatendimento e participo de discussões de casos on-line com profissionais dos serviços de referência do território de atendimento.

Eu me sinto muito grata em ajudar neste momento desafiador e sigo me fortalecendo com as orientações do nosso mestre, Daisaku Ikeda, no BS+, nos encontros on-line da querida Comunidade Cesário Ramalho, e com base na recitação do daimoku. Um dos trechos dos escritos de Nichiren Daishonin que diz “O inverno nunca falha em se tornar primavera”1 me inspira a acreditar que venceremos esse desafio.

Vânia Costa, 40 anos. Terapeuta ocupacional. Vice-resp. pela DF da Comunidade Cesário Ramalho; RM Liberdade, Sub. Centro, CCLP, CGESP.

Nota:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo. Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 560.