ROTANEWS176 E POR OLHAR DIGITAL 18/05/2023 18h02 Por Flavia Correia
Além de um comportamento social e sexual, a prática do beijo pode ter desempenhado um papel não intencional na transmissão de doenças.
Reprodução/Foto-RN176 A prática de beijar na boca teria começado há 4.500 anos, na Mesopotâmia, segundo novo estudo. Crédito: Puppy 9 – Shutterstock
Um artigo publicado nesta quinta-feira (18) na revista Science revela que o primeiro beijo na boca documentado pela humanidade aconteceu na Mesopotâmia, há 4.500 anos. Isso leva a prática há um milênio antes do que a comunidade científica tinha conhecimento.
Segundo o site Phys, estudos anteriores diziam que as primeiras evidências de beijo entre seres humanos se originaram no sul da Ásia, há 3.500 anos, de onde podem ter se espalhado para outras regiões, acelerando simultaneamente a disseminação do vírus herpes simplex 1.
No entanto, de acordo com os pesquisadores Troels Pank Arbøll e Sophie Lund Rasmussen, da Universidade de Copenhagen, uma série de fontes escritas das primeiras sociedades mesopotâmicas aponta que essa prática já era bem estabelecida há pelo menos mil anos antes no Oriente Médio.
“Na antiga Mesopotâmia, que é o nome das primeiras culturas humanas que existiam entre os rios Eufrates e Tigre, no atual Iraque e Síria, as pessoas escreviam em escrita cuneiforme em tábuas de argila. Milhares dessas tábuas sobreviveram até hoje, e contêm exemplos claros de que o beijo era considerado parte da intimidade romântica nos tempos antigos, assim como poderia fazer parte das amizades e das relações dos familiares”, explica Arbøll, que é assiriologista (especialista em história da medicina na Mesopotâmia).
“Pesquisas com bonobos e chimpanzés, os parentes vivos mais próximos dos humanos, mostraram que ambas as espécies se envolvem no beijo, o que pode sugerir que a prática do beijo é um comportamento fundamental em humanos, explicando por que ele pode ser encontrado em todas as culturas”, acrescenta Rasmussen.
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Beijo como impulsionador de doença
Além da importância para o comportamento social e sexual, a prática do beijo pode ter desempenhado um papel não intencional na transmissão de microrganismos, potencialmente causando a disseminação de vírus entre humanos.
No entanto, a ideia de que o beijo tenha sido um gatilho biológico súbito por trás da disseminação de patógenos específicos é questionável. Isso porque, embora existam diversos textos médicos mesopotâmicos que mencionam uma doença com sintomas que lembram o vírus herpes simplex 1, esses registros podem ter sido influenciados por uma variedade de conceitos culturais e religiosos da época.
Reprodução/Foto-RN176 Um modelo de argila da Mesopotâmia, datado quase 4.500 anos, mostra um casal se beijando. O original está guardado no Museu Britânico. Crédito: Museu Britânico/CC BY-SA 4.0
“Se a prática do beijo era generalizada e bem estabelecida em uma série de sociedades antigas, os efeitos do beijo em termos de transmissão de patógenos provavelmente devem ter sido mais ou menos constantes”, ressalta Rasmussen.
Os pesquisadores concluem que os resultados futuros que emergem da pesquisa, inevitavelmente levando a discussões sobre desenvolvimentos históricos complexos e interações sociais – como o beijo sendo um impulsionador da transmissão precoce da doença – poderão ser aprimorados por uma abordagem interdisciplinar.