ROTANEWS176 04/07/2024 10:10 Por Dan Baumgardt
Reprodução/Foto-RN176 Colocando a mão em frente à boca e exalando, você pode verificar se sofre ou não de mau hálito
Na mitologia grega, a Hidra (um monstro de muitas cabeças) sofria de forte halitose – tão forte que o seu mau hálito era mortal para quem o sentisse.
Felizmente, o nosso hálito matinal não é tão pungente assim, mesmo que algumas pessoas que comem alho e cebola possam até chegar a competir com a Hidra.
A halitose tem muitas causas, além da má higiene bucal. Ela pode indicar problemas no intestino, nos seios nasais e até na corrente sanguínea.
De fato, amostras de hálito podem até ser examinadas para o diagnóstico formal de certas condições de saúde.
Uma condição que pode afetar o nosso hálito é o diabetes mellitus, um distúrbio no qual o açúcar (a glicose) não consegue ter acesso às células do corpo onde é necessário para fornecer energia. Com isso, o açúcar se acumula na corrente sanguínea.
Em alguns casos, como dosagem de insulina insuficiente ou infecções, a reação do corpo é decompor as gorduras em compostos denominados cetonas, para agir como forma rápida de combustível. Esta condição séria é denominada cetoacidose diabética.
As cetonas têm um odor distinto. A acetona, que também é um ingrediente de alguns removedores de esmalte de unha, é uma dessas cetonas. Seu odor é de pear drops, um tipo de bala existente no Reino Unido (sua tradução literal é “gotas de pera”).
Quando as cetonas se acumulam na corrente sanguínea, elas podem facilmente chegar ao hálito, gerando um odor de frutas.
Reprodução/Foto-RN176 A má higiene bucal não é a única causa da halitose.
Não é apenas o diabetes que pode acionar a produção de cetonas. Existem certas dietas que se baseiam na produção de cetonas pela decomposição de gorduras, para promover a perda de peso. São as chamadas dietas cetogênicas.
Estes métodos, como a dieta Atkins, forçam o corpo a converter gordura em energia, restringindo os carboidratos.
Outras dietas baseadas nos mesmos princípios incluem a dieta do jejum intermitente 5:2. Nela, as pessoas restringem a ingestão de alimentos dois dias por semana, para reduzir significativamente o consumo de calorias e fazer o corpo produzir cetonas.
Estas dietas podem ajudar na perda de peso, mas seus efeitos colaterais podem ser preocupantes.
Um dos efeitos mais conhecidos é o mau hálito, embora também haja relatos isolados de “cetovirilhas” – alguns seguidores das dietas cetogênicas se queixam de forte odor genital.
O hálito e as bactérias
Outra causa do mau hálito é o supercrescimento das bactérias produtoras do mau hálito.
Existem muitos cantos e fendas na boca onde as bactérias podem se esconder, crescer e se deteriorar, especialmente nas áreas difíceis de limpar entre os dentes e em volta da gengiva e da língua. Também há os locais de difícil acesso, como a parte de trás da boca e a garganta.
A garganta age como passagem para os alimentos sólidos, líquidos e o ar. E alguns pacientes podem desenvolver uma condição conhecida como divertículo de Zenker. Trata-se da formação de um bolso na parte de trás da faringe (que é o nome médico da garganta). Nele, os alimentos sólidos e líquidos podem se acumular, fermentar e gerar hálito pungente.
Reprodução/Foto-RN176 Escovar os dentes corretamente é uma medida importante para evitar o mau hálito
As bactérias também podem causar infecções na boca, como amigdalite e abscessos dentários. Nelas, os tecidos ficam inflamados ou desenvolvem purulência (formação de pus).
O pus é um conjunto de diferentes células mortas, incluindo bactérias, e também pode gerar odor pútrido.
Além disso, a sinusite – uma infecção das cavidades cheias de ar do crânio – pode derramar secreções infectadas com mau cheiro na garganta, gerando mau hálito.
Exames de hálito
Os médicos podem examinar o hálito em busca de bactérias para diagnosticar condições de saúde.
A bactéria Helicobacter pylori, por exemplo, pode irritar o intestino e gerar o desenvolvimento de úlceras potencialmente perigosas, transformando o composto ureia em dióxido de carbono.
O exame para determinar a presença de H. pylori é um exame de diagnóstico pelo hálito, realizado antes e depois da administração de ureia ao paciente. Se o paciente exalar níveis mais altos de dióxido de carbono depois de receber ureia, o resultado do exame é positivo.
Reprodução/Foto-RN176 Certos problemas intestinais podem ser detectados com o exame do hálito
O hálito também pode ser examinado para determinar o supercrescimento bacteriano no intestino delgado (Sibo, na sigla em inglês). Seus sintomas podem incluir inchaços e dores abdominais.
O Sibo produz gases como hidrogênio e metano, que também podem ser detectados por um exame do hálito.
Se você estiver sofrendo de mau hálito e não tiver nenhum problema médico, você mesmo pode examinar seu hálito.
O método é antigo e consiste em lamber a parte de trás do pulso, deixar secar e cheirar em seguida. Você pode fazer o mesmo com um raspador de língua, fio dental ou uma amostra de hálito exalado em uma das mãos em forma de concha.
Muitas vezes, nós nos acostumamos com o odor do nosso próprio hálito. Podemos notar apenas quando ele fica muito ruim ou quando há outros sintomas, como boca amarga. Ou quando alguém tem coragem de, finalmente, dizer que você sofre de mau hálito.
Suponha que alguém tenha dado a você esta notícia – o que fazer, agora?
Algumas medidas simples podem funcionar bem, como a ingestão regular de líquidos, já que a boca seca pode gerar mau hálito. Por isso, assegure-se de beber água em quantidade suficiente e de manter boa higiene oral.
Para isso, escove os dentes e a língua, passe fio dental entre os dentes para eliminar eventuais colônias de bactérias e visite seu dentista regularmente.
Os enxaguantes bucais podem ser eficazes como solução temporária, mas há evidências de que a alimentação rica em verduras pode ser ainda melhor para combater o mau hálito. E fumar é outra possível causa subjacente de halitose.
Por isso, se você quiser ter hálito mais fresco, aqui está mais uma boa razão para abandonar o cigarro.
*Dan Baumgardt é professor da Escola de Fisiologia, Farmacologia e Neurociência da Universidade de Bristol, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
FONTE: BBC NEWS MUNDO