Raios do sol

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 10/10/2020  11:17

CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA

Capítulo “Origem”, volume 29

 

PARTE 31

Nova Délhi estava coberta por um céu azul, e o verde das árvores bodhi, plantadas nas ruas, estava iluminado pelos raios solares.

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da Editora Brasil Seikyo – BSGI

Na manhã do dia 8 de fevereiro, Shin’ichi Yamamoto realizou uma visita de cortesia ao ministro Atal Bihari Vajpayee, no Ministério das Relações Exteriores da Índia. O ministro era presidente do Conselho Indiano de Relações Culturais (ICCR), que havia feito o convite oficial à comitiva de Shin’ichi nessa ocasião. Ele era também poeta e compositor.

Com um pouco mais de 50 anos, os cabelos grisalhos, as sobrancelhas espessas e os olhos aguçados denotavam um rosto marcante e varonil. Dizia que no dia anterior havia acabado de retornar de uma viagem à África. Seus olhos aparentavam algum cansaço.

Expressando sua gratidão, Shin’ichi lhe disse:

— Sua saúde é importante, não só para si, mas para o bem da nação indiana. Por favor, cuide bem dela.

Com suave sorriso, o ministro respondeu:

— Na Índia, diz-se que a mãe, o visitante e o professor são deuses. Por isso, valorizar ao máximo a opinião do visitante é obrigação do anfitrião. Aí se encontra um importante caminho como ser humano.

— São palavras de um educador. Parece até ministro da Educação.

A esse humor, o ministro das Relações Exteriores correspondeu também com humor:

— O senhor que se preocupou com minha saúde parece ministro da Saúde e do Bem-estar.

Os dois caíram na gargalhada e o ambiente se amenizou.

Shin’ichi o consultou sobre as relações entre Índia e China cujos conflitos de fronteira ainda persistiam. Era a pergunta que ele havia feito também ao primeiro-ministro Desai, pois a paz e a amizade entre os dois países seriam a chave para definir a segurança da Ásia. Na verdade, dali a alguns dias estava prevista uma visita do ministro a Pequim, China. Essa seria a visita de um ministro indiano à China depois de dezessete anos. Diante da pergunta de Shin’ichi, parecia que o ministro procurava palavras para responder, sentado no sofá com as mãos juntas. Mas, ele levantou a cabeça e começou a falar:

— A Índia e a China são ambos países da Ásia e, ainda, vizinhos. Pode-se esquecer a história, mas não a geografia.

É provável que ele dissesse no sentido de que os dois países precisavam enxergar diretamente a realidade de que eles são vizinhos. A política existe no ato de continuar caminhando persistentemente por um ideal, a partir de uma posição realista.

PARTE 32

Então, o ministro Vajpayee afirmou com uma voz alta, repleta de convicção e paixão:

— Se a Índia e a China respeitarem os Cinco Princípios de Coexistência Pacífica, qualquer problema pode ser resolvido.

Os Cinco Princípios de Coexistência Pacífica foram firmados em uma declaração conjunta entre os primeiros-ministros Jawaharlal Nehru, da Índia, e Zhou Enlai, da China, em 1954. São eles: mútuo respeito pela integridade e soberania dos respectivos territórios; mútua não agressão; mútua não interferência nos assuntos internos de cada país; igualdade e mútuo benefício; e coexistência pacífica.

O ministro deixou clara a intenção de solucionar o problema sem uso de armas, voltando a esses Cinco Princípios de Coexistência Pacífica. Ele enfatizou que o pensamento da Índia é de estabelecer a relação de amizade com todos os países.

Em seguida, Shin’ichi o consultou sobre a expectativa dele em relação ao Japão.

— O Japão é um país no leste onde nasce o sol. Os raios do sol que brilham nos céus do leste iluminam igualmente a todos. Eles concedem uma luz mais calorosa para as terras próximas do que a locais distantes.

Eram palavras com senso literário, e ricas de profundo significado. Shin’ichi entendeu que era um apelo para que o Japão não voltasse os olhos somente para a Europa e os Estados Unidos longínquos, mas para a Ásia, que era mais próxima.

Então, o ministro manifestou ainda o desejo de que o Japão, que alcançou um grande progresso econômico e possui um poderio produtivo industrial de excelência, um dos melhores do mundo, se tornasse a força para eliminar a distância entre os países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento.

O ministro, que dizia respeitar de coração o rei Ashoka, referiu-se ao reinado desse soberano que tinha como base o espírito do budismo. Ele citou que, na época desse rei, houve prosperidade cultural, comércio intenso, nem sequer foi aplicada a pena de morte, e as pessoas levavam uma vida feliz. Disse ainda que o emblema nacional da Índia, que contém as figuras de leão e de roda da Lei, origina-se da coluna arquitetônica com o leão no topo erguida por Ashoka. Então, discorreu sobre a concepção religiosa da Índia:

— Na Índia, considera-se a religião como o Darma (Lei). Aqui, o sentido é de Lei ou de ensinamento para a vida diária, isto é, o alicerce para a existência da pessoa. Na sociedade indiana, a religião está profundamente enraizada na vida diária.

O filósofo Kitaro Nishida apresenta sua visão clara: “A religião está na posição fundamental de realizar a tudo”.1 Somente quando se estabelece a base de uma religião, a vida se torna plena.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Nota:

  1. Obras Completas de Kitaro Nishida. v. 9, Editora Iwanami Shoten.