Raízes da comprovação

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  27/05/2022 15:08

RELATO                                                                                                                                                                          Por CLARINDA DE VILA

Na profissão e na vida, Clarinda colhe os frutos da constante prática da fé

Reprodução/Foto-RN176 Clarinda de Vila, 49 anos. Psicopedagoga. Vice-responsável pela Divisão Feminina da RM Sul-Catarinense, Sub. Santa Catarina, CRE Sul. Foto: Arquivo pessoal

Enfim, respostas para meu coração. Esse é o sentimento que preenche minha vida a partir do momento em que entrei para a família Soka, como praticante do Budismo Nichiren. Eu me chamo Clarinda de Vila, nascida no Paraná e residindo desde criança em Araranguá, município do litoral sul de Santa Catarina.

Aos 23 anos, prestes a me formar em pedagogia, não estava procurando religião, pois vim de família católica praticante (inclusive, na época, minha mãe era ministra da eucaristia) e uma irmã espírita. Sempre fui muito tranquila, embora algumas questões me incomodassem bastante quanto às desigualdades sociais. Tinha interesse por leituras diversas e conhecimento, mas religião mesmo, não. Até que recebi um convite de uma amiga, que me apresentou conceitos e princípios budistas e me trouxe os periódicos Brasil Seikyo e Terceira Civilização. Eu lia essas publicações, sem ainda ter muita compreensão, porém, aos poucos vem a identificação com tão maravilhosa filosofia.

Reprodução/Foto-RN176 Com a família: o filho, Eduardo: o pai, Otávio: e a mãe, Alaíde Foto: Arquivo pessoal

Começo a participar das atividades na organização e meu envolvimento aumenta. Desejo então me tornar simpatizante em 1996, mais precisamente no dia 21 de setembro, Dia da Árvore, e recordo-me de que, em meu relato, determinei que minha prática seria como uma maravilhosa árvore: com raízes fortes e profundas; a qual daria muitos frutos propagando a Lei.

Desde o início tive o apoio da minha família, inclusive levei minha mãe a uma reunião para que conhecesse a organização. Ela gostou e aprovou minha prática. Poucos meses depois, eu estava em visita a São Paulo, para conhecer o Centro Cultural Campestre (CCCamp) da BSGI, em Itapevi, SP, ocasião em que minha amiga, a qual me ensinara sobre o budismo, recebe seu objeto de devoção budista, o Gohonzon. Nesse momento, aprendi que a emoção passa, mas a decisão é para toda a vida. Ali, naquele local, determino: da próxima vez que vier a São Paulo, será a minha vez. E assim aconteceu. Em 30 de novembro de 1997, retorno a São Paulo e recebo meu Gohonzon. Em casa já estava com o oratório pronto e a família oferecendo um espaço para a realização de reuniões, embora somente eu praticasse.

Transformar cada desafio imposto pela vida como uma chance de desenvolvimento. Esse tem sido o aprendizado constante da prática do budismo para mim. Parte dentro da Divisão Feminina de Jovens (DFJ), que me proporcionou precioso treinamento. E depois na Divisão Feminina (DF), aprendendo a força do “muito mais daimoku”. Seguindo as orientações de maravilhosos(as) veteranos(as), sempre pondo o “budismo em primeiro lugar, a família em primeiro lugar e o trabalho e amigos em primeiro lugar”, avanço com o sentimento de que tudo se inicia com a prática de um vigoroso gongyo e daimoku.

Reprodução/Foto-RN176 Clarinda em passeio com uma amiga a uma localidade chamada Ilhas Foto: Arquivo pessoal

Estou convicta de que, por ter encontrado essa filosofia transformadora, tenho condições de enca­rar vários desafios. Um deles é o fato de ser mãe solteira, criar e educar meu filho, Eduardo, sendo ele muito bem acolhido na organização, recebendo o certificado de conversão ainda criança em uma visitação ao CCCamp. Aos 22 anos, ele é minha razão de existir, companheiro de todas as horas. Há uma frase do livro Kaneko — Seu Sorriso, sua Felicidade, que me inspira como mãe: “Seu coração generoso e radiante, que transforma qualquer dificuldade numa experiência positiva, proporcionou certamente conforto e muita coragem a sua família”.1

Trabalho é missão

Uma comprovação muito importante tem a ver com minha vida profissional. Três anos depois de iniciar a prática budista, tive de decidir entre me manter numa escola particular onde lecionava e migrar para o serviço público estadual, mais precisamente na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Araranguá. As dúvidas eram muitas, pesando sobre a minha responsabilidade ter nos braços um bebê de 3 meses para cuidar. Sempre busquei orientação dos meus veteranos e na época não foi diferente, baseando-me também nos escritos de Nichiren Daishonin e nas orientações de Ikeda sensei. Tenho comigo um trecho de um escrito de Nichiren Daishonin:
Sofra o que tiver de sofrer, desfrute o existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento quanto a alegria como fatos da vida e continue recitando Nam-myoho-renge-kyo, independentemente do que aconteça. Que outro significado isso poderia ter senão a alegria ilimitada da Lei?2

Reprodução/Foto-RN176 Em visita ao Centro Cultural Campestre (CCCamp) da BSGI, em São Paulo Foto: Arquivo pessoal

A resposta viria então com minha ação resoluta firmada em “muito mais daimoku”. Fiz a escolha pelo serviço público estadual e, em 2002, tive a boa sorte de passar no concurso público para Educação Especial e de me efetivar nesse órgão. Assumi a função de orientadora pedagógica durante doze anos, e nos últimos dez como diretora, permanecendo na instituição até janeiro deste ano, local em que pude me doar e aprender muito, pois o público atendido é composto por pessoas com deficiência e suas famílias, um trabalho gratificante e, ao mesmo tempo, desafiador.

Com base nos ensinamentos budistas, procurei ser uma líder (e não chefe) humanista, tendo empatia pelos funcionários, alunos e familiares, fazendo o melhor com as condições que me são concedidas, lutando e desafiando cada circunstância. Confesso que muitas soluções chegavam quando estava diante do Gohonzon fazendo daimoku. Assim, quando falo do budismo para meus colegas, reforço que o equilíbrio, a paciên­cia e a sabedoria para conduzir meu trabalho vêm da força interior que a prática do Nam-myoho-renge-kyo proporciona.

É maravilhoso aplicar no campo profissional o que aprendemos na Soka Gakkai. Eu sinto vibrar como experiência única em minha vida o conceito do “belo, bem e benefício”, formulado pelo fundador da Soka Gakkai, o educador Tsunesaburo Makiguchi. No meu trabalho, desfruto momentos de felicidade, prazer e alegria; aproveito as oportunidades oferecidas para me desenvolver e ser uma profissional respeitada. Isso sem falar no bem social que minha profissão é capaz de agregar. Estou realizada por tamanha boa sorte.

Reprodução/Foto-RN176 Com os colegas de trabalhos Foto: Arquivo pessoal

Chegar aos 22 anos de trabalho na mesma instituição é grandiosa vitória para mim. Em 2019, senti o desejo de mudar de emprego, mas não fluiu e, mais uma vez, percebo quanto minha boa sorte sinalizou que não era a hora certa. Continuei na Apae fazendo planos para me aposentar assim que completasse 25 anos de profissão e 50 de idade, ou seja, em 2022. No entanto, a reforma da previdência surpreen­deu a todos e terei de trabalhar pelo menos até os 52 anos.

Algumas circunstâncias, como a fragilidade da saúde da minha mãe, fortaleceram minha decisão de sair da direção. Ela sofreu um infarto em abril de 2021, mas, por boa sorte, consegui socorrê-la, sendo atendida por maravilhosos profissionais. Há necessidade de cuidados e acompanhamento direto em seu dia a dia, fato que considero uma oportunidade de saldar minha dívida de gratidão com ela, podendo lhe dar assistência. Aprendi com Ikeda sensei, em suas várias orientações publicadas no Brasil Seikyo, sobre a importância de os filhos cuidarem dos pais, dignificando a existência deles. Agora é minha missão.

Assim, somando-se a outras questões, tomei a decisão de deixar a função de diretora. A aposentadoria neste momento me traria também perdas salariais que comprometeriam meu orçamento, em virtude da compra de uma casa em 2021. Na despedida, recebi muitas mensagens de gratidão e elogios. Missão cumprida.

Saindo da direção, a proposta era continuar na Apae, em sala de aula, porém, na primeira semana de janeiro, surge uma vaga no núcleo de convênios. No mesmo dia, envio mensagem para minha superior, que preside a Fundação Catarinense de Educação Especial (FCEE), que, de imediato, providencia minha transferência. O daimoku agora era para não ter perda salarial. Diante dessa possibilidade, o melhor incentivo vem do meu filho, Eduardo (hoje já formado e trabalhando na área que escolheu): “Se for melhor pra ti, vai que posso te ajudar se tiveres desconto. Eu terei aumento salarial”. Como foi gratificante ouvir isso!

Reprodução/Foto-RN176 Recente encontro on-line em sua localidade Foto: Arquivo pessoal

Estou muito feliz nessa nova empreitada, tendo possibilidade de novos aprendizados, com o horário mais flexível e podendo contribuir para outras Apae e instituições e com horários disponíveis para atender à minha família. Como não há oração sem resposta, agora em maio recebemos uma gratificação de salário, ainda melhor que no trabalho anterior.

Perto de completar 50 anos, sinto a gratidão aflorar em meu peito. Hoje, resido com minha mãe, Alaíde, de 80 anos; meu pai, Otávio, de 79; e uma irmã Ana Dirce, de 52; e com meu filho, Eduardo, completando a alegria da família, construída com muita união, respeito e amor. Tenho orgulho em oferecer o melhor para eles com meu trabalho.

Reprodução/Foto-RN176 Encontro na sede de Criciúma, antes da pandemia da Covid-19 Foto: Arquivo pessoal

Procuro sempre dar o meu melhor. Desde o início da prática, bem jovem, nunca deixei de aceitar convites para assumir funções na organização, como líder de bloco, de comunidade, de distrito. Atualmente, sou vice-responsável pela DF da Região Metropolitana Sul-Catarinense. Também sou muito grata aos companheiros Soka da Sub. Santa Catarina, RM Sul-Catarinense, Distrito Criciúma e, em especial, da Comunidade Araranguá.

Para finalizar, gostaria de externar minha sincera gratidão aos Mestres Soka — Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda —, que me possibilitam aprendizado constante. Eu sou também consultora da felicidade, coordenadora de periódicos. É maravilhoso ter mais essa missão! Vou seguir avançando e, dia a dia, dar mais um passo seguro para a minha revolução humana. Muito, muito obrigada!

Clarinda de Vila, 49 anos. Psicopedagoga. Vice-responsável pela Divisão Feminina da RM Sul-Catarinense, Sub. Santa Catarina, CRE Sul

No topo: Clarinda de Vila
Fotos: Arquivo pessoal

Notas:

  1. Kaneko — Seu Sorriso, sua Felicidade. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2006. p. 100.
  2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 713, 2019.