Rússia diz ter dado tiros de advertência contra navio britânico; Reino Unido nega

ROTANEWS176 E POR AFP  23/06/21 15h21

Reprodução/Foto-RN176 O HMS Defender, na costa da Inglaterra em 2019 – AFP/Arquivos

A Rússia afirmou que disparou, nesta quarta-feira (23), tiros de advertência contra um contratorpedeiro britânico no Mar Negro que teria entrado em suas águas territoriais na costa da Crimeia, um incidente negado pelo Reino Unido.

O caso, se tiver ocorrido de fato, seria incomum na região. Teria acontecido a poucos dias das manobras Sea Breeze 2021, vistas com suspeita pela Rússia e programadas para serem realizadas entre 28 de junho a 10 de julho, no Mar Negro. Participarão dela os Estados Unidos, outros países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Ucrânia.

De acordo com a versão russa, o contratorpedeiro “HMS Defender” entrou em suas águas ao largo da costa da Crimeia, península ucraniana anexada pela Rússia em março de 2014, e “recebeu uma advertência, em caso de violação das fronteiras russas”.

O navio britânico “não reagiu ao aviso”, razão pela qual um “barco de patrulha de fronteira disparou tiros de advertência”, e um avião Su-24M realizou um “bombardeio de precaução na rota do contratorpedeiro”, segundo o Ministério russo da Defesa.

O navio britânico deixou as águas russas, encerrando o incidente, que durou cerca de 20 minutos, por volta do meio-dia, relatou a Rússia.

Denunciando “ações perigosas” da tripulação do “HMS Defender”, o governo russo exigiu do Reino Unido uma investigação sobre o incidente.Parte inferior do formulário

A Rússia também anunciou que convocará o embaixador britânico ao Ministério das Relações Exteriores, assim como o adido militar britânico.

As autoridades britânicas negaram o incidente. De acordo com o Ministério da Defesa, “nenhum tiro de advertência foi disparado contra o ‘HMS Defender’”, e “a alegação de que bombas foram lançadas em sua rota” é falsa.

Segundo o governo britânico, o navio estava “fazendo uma passagem inocente pelas águas territoriais ucranianas”.

“Acreditamos que os russos estavam conduzindo um exercício de artilharia no Mar Negro”, acrescentou o Ministério da Defesa no Twitter.

Poucas horas antes do incidente, o presidente Vladimir Putin havia reiterado que seu país estava “preocupado com o fortalecimento contínuo das capacidades militares e da infraestrutura da Otan perto das fronteiras russas”.

– Múltiplos incidentes –

De acordo com um comunicado da Royal Navy britânica de 10 de junho, o navio “HMS Defender” está na região para exercícios da Otan e “se separou temporariamente da força-tarefa para realizar suas próprias missões no Mar Negro”.

“Nas últimas semanas, o ‘Defender’, baseado em Portsmouth, tem passado por um treinamento intensivo e trabalhado na Operação Sea Guardian, a missão de contraterrorismo da Otan no Mediterrâneo”, diz o comunicado.

Forças ucranianas, americanas e britânicas realizaram nesta quarta exercícios de embarque no navio, de acordo com uma mensagem postada no Facebook pelo Ministério ucraniano da Defesa.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse no Twitter que considerava o incidente uma continuação da “política agressiva e provocadora” da Rússia no Mar Negro e no Mar de Azov.

O incidente ocorreu na costa da Crimeia, onde a Rússia possui uma base naval. Suas águas foram objeto de vários incidentes no passado.

A Rússia realizou inúmeros exercícios militares nesta região nos últimos meses, incluindo o destacamento temporário de mais de 100.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia e da Crimeia em abril – uma demonstração de força que gerou fortes tensões com o Ocidente.

Em 2018, a Rússia interceptou três navios de guerra ucranianos e capturou 24 marinheiros que tentavam entrar no Mar de Azov, compartilhado pelos dois países.

Foi o primeiro incidente armado direto entre os dois.

Incidentes envolvendo aviões, ou navios, nas fronteiras russas não são incomuns, especialmente em tempos de tensão com o Ocidente, mas tiros de alerta, sim.

A maioria dos incidentes ocorre no Báltico, ou no Ártico e, mais raramente, no Extremo-Oriente, onde a Rússia anunciou, nesta quarta-feira, ter interceptado um avião espião dos EUA sobre o Mar de Okhotsk.